Tenho de recuar ao meio da minha infância para aceder às primeiras lembranças da Professora Filomena. Eu vinha do Colégio Baloiço, que caíra no Sismo de 80, o que nos fez mudar para uma casa na Penha de França, completando por lá o pré-escolar. Mas o dia de início de aulas da 1ª Classe, na Escola Primária da Conceição, mudou tudo – o pouco – que conhecia.

Já sabia ler e escrevia muita coisa, fruto da minha curiosidade natural, das explicações do meu Avô Fernando e dos cuidados da minha Mãe. Pelo que essa descoberta nem se fez com aquela simpática senhora, que nos acolheu de forma meiga, e que viria a ser uma referência nas nossas vidas.

Já nem consigo recordar o nome de todos, na sala de trás da Escola da Conceição, com o movimento do GAR a poucos metros, os mistérios da “Casa Velha” – a antiga Fábrica de Curtumes – mais acima, e um mundo inteiro por revelar, no que hoje seria uma pequena escola, que um tonto progresso mandou encerrar.

A Professora Filomena foi a nossa mestra, não apenas nas letras e nos números, durante esses primeiros anos de vida. E uma amiga que se manteve por todo o tempo. Afável, atenta, compreensiva a cada solicitação, nunca nos negou um sorriso ou uma carícia, e fez com que um grupo de miúdos fossem companheiros para sempre.

Ela deixou-nos por estes dias, e só tenho pena de não a termos aproveitado mais. No melhor sentido da palavra, porque estar com a Professora Filomena era uma delícia de criança, de jovem e de adulto. Não esqueço a maneira como nunca me diferenciou dos restantes por, supostamente, estar mais adiantado nos conhecimentos.

Deu-me um ensinamento sem fim, porque, por toda a existência, nunca nos devemos sentir acima de ninguém. Outra verdade que tantos esquecem…

No fundo imbuiu-nos, numa forma tão natural, de princípios agregadores, dos quais acredito tenham beneficiado os filhos dos meus colegas da altura. Princípios que tentaremos honrar sempre, felizes pelas memórias em comum.

Obrigado, Professora Filomena. Será sempre um bocadinho de cada um de nós...