O Talbot Matra...
Era dourado - exatamente igual ao das imagens - e parava religiosamente à porta da Albergaria Cruzeiro - o seu proprietário era o filho do Dr. Ramiro Lima, dono daquela unidade hoteleira, e genro da minha adorada Professora Filomena -, cativando naturalmente a atenção de quem, como eu - que tinha 6 ou 7 anos na altura -, adorava carros e ficava deslumbrado com aquelas linhas. Era um Talbot Matra Murena, um desportivo francês de 2+1 lugares, cuja produção se cingiu ao período 1980-83, e que é um bom exemplo de como um automóvel fantástico quase cai no esquecimento. Não sei por quantas vezes saí da Escola da Conceição - de mocilha às costas e os sonhos do mundo na cabeça - direitinho para uma nova apreciação ao carro. Penso até que numa ocasião o dono o abriu e deixou que o visse por dentro. Era uma coisa linda, bem ao jeito dos protótipos saídos da imaginação de Jean Graton - nos livros de BD do herói francês Michel Vaillant, que eu devorava...e ainda devoro -, com soluções diferentes e um trabalhar suave - nem sei se era a versão com motor 1,6 litros de origem PSA e menos de 100 cv, ou o 2,2 com 118hp -, sendo que isso nem importava muito. Era o carro mais bonito da minha vida...bem já tinha estado ao pé de um Stratos, em Lisboa...pronto, era então o segundo carro mais bonito da minha vida até então, e aquela breve romaria fazia-me ganhar o dia. Até porque fui daqueles miúdos muito espertinhos e não me esforçava grandemente na escola. Pelo que, dali, rumava às minhas miniaturas Matchbox, Majorette e Tomica, onde criava uma segunda realidade...e mesmo porque já tinha passado a pente fino as várias capas com jornais "Motor" que o meu pai guardava desde meados da década anterior. E da revista "Turbo", que nasceu por essa altura, só nos faltava o nº1.
Esta foi apenas uma breve nota, dentro da deliciosa realidade que é, ainda hoje, recordar carros marcantes. Certamente cheios de defeitos, mas com uma beleza irrepetível. E o Talbot Matra Murena será sempre um desses...