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PORTO DAS PIPAS

miguel sousa azevedo - terceira - açores

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miguel sousa azevedo - terceira - açores

30.Out.15

O Sr. Feliz e o Sr. Contente

Foto Cronica 49DI OUT15 - O Senhor Feliz e o Senho

A leitura da atualidade política nacional transformou-se num desafio de atenção e de tempo livre. De atenção, porque as informações são tantas, e algumas tão contraditórias, que um olho em cada cabelo - para quem o tem... - por vezes até é pouco. De tempo livre, porque, à semelhança das pessoas que não votaram na Coligação PàF - ou que pelo menos o juram a pés juntos... -, também os comentadores e opinion-makers se multiplicam a cada 24 horas. Se, por um lado, os principais atores políticos não sossegam na criação de novos factos, o certo é que a legião de colunistas - virtuais, em papel, ou de esquina - persegue cada uma dessas oscilações, muitas vezes apelidada de negociação, para logo se lançar à escrita. E apenas me refiro à opinião em texto, porque as rádios e as televisões - especialmente estas - estão a delirar com toda a Função. Em causa está, somente, o futuro próximo do país.

Numa visão muito pessoal das coisas, entendo que o desejo do Presidente da República, Cavaco Silva - hoje caído em desgraça nos índices de popularidade, mas apenas e tão só o mais vitorioso político português da Democracia -, seria o regresso a uma espécie de Bloco Central, como nos anos 80, responsabilizando agora as três forças mais votadas nas recentes Legislativas, que teriam de se entender entre si. A bem da Nação. Vai daí e só me lembrei do Senhor Feliz e do Senhor Contente, a rábula celebrizada por Nicolau Breyner e Herman José na RTP, que encerravam voltas em torno um do outro, como despesa das opiniões proferidas. Mas dando pontos sem nó, de forma a desfiarem o assunto na semana seguinte... 

Igualmente recordo que um dos maiores desafios que o governo do Bloco Central enfrentou foi a primeira intervenção do Fundo Monetário Internacional em Portugal, assinando um memorando de entendimento apenas dois meses depois da tomada de posse. Ou seja, as semelhanças com o que se passa hoje são vastas. E o que também não vai faltando são Senhores Felizes e Senhores Contentes, uns a defender que a Coligação PSD/CDS-PP devia formar governo e contar com os outros partidos para decidir numa (im)possível harmonia, e outros a fazer vista grossa aos resultados eleitorais do dia 4, somando mandatos e esquecendo os princípios orientadores de partidos que, em abono da verdade, nunca poderiam governar em Portugal. Nem em mais lado nenhum, mas isso já sou eu a dizer.

Voltando ao Bloco Central, o mesmo liderou Portugal em dois anos difíceis, com subidas dos impostos e dos preços dos bens essenciais, crescimento do desemprego e salários em atraso. Houve congelamento de investimentos públicos, além da desvalorização do escudo e de quase 30% de corte no subsídio de Natal (1983). Mais em jeito de catástrofe, as semelhanças, ainda assim, prosseguem vastas. Umas bem próximas do que se impediu em meados de 2011...

Sem querer entrar por uma fastidiosa análise dos acontecimentos recentes, assusta-me ver princípios fundamentais da Democracia postos em causa. E de uma forma tão célere que quase parece verdade. Mas também acredito que nunca será possível satisfazer as ansiedades perenes dos Senhores Felizes e Contentes desta pátria.

Para mim, simples eleitor, que nem sou dos que estão a mais nos cadernos, e que ainda tenho o desplante de votar sempre, o repto de que se respeitem os resultados dos sufrágios nem devia ser chamado à pedra. Mas parece que é assim que tem de ser.

Há uns dias, num programa de rádio sobre a atualidade, ouvi um deputado regional afirmar que, nas eleições de 4 de outubro, "não houve um verdadeiro vencedor". Expectante, aguardei que mencionasse ser essa (mais) uma (sua) brincadeira. Mas não. Foi apenas mais uma que não lembraria nem ao Senhor Feliz nem ao Senhor Contente...

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