O desafio da Mónica
Ao terminar estas linhas, pensei muito bem antes de as divulgar publicamente – no jornal diário da nossa terra -, de as deixar pelo meu blogue – também numa partilha pública, mas mais contida -, ou de as fazer apenas passar por amigos e conhecidos, numa mensagem que, a meu ver, vão entender nas próximas semanas. Mas que não foi, de todo, imediata.
Mónica Seidi é a cabeça de lista do PSD/Açores pela Ilha Terceira nas eleições regionais do próximo dia 16 de outubro. A notícia já foi publicada e as reações pareceram-me mornas, tanto mais que haverá quem tenha estranhado as motivações da própria candidata. E é por aí que me guio. Que motivações terá uma médica, num muito conseguido início de carreira e a terminar a sua especialidade, para abraçar um desafio político? Ainda mais no primeiro partido da oposição, acusado quase diariamente pela tutela de não apresentar propostas e de não contribuir para o bem deste paraíso que são os Açores? O que pode levá-la, ao contrário de tantos – quase todos -, a recusar o sorriso amarelo face aos poderosos emissários do poder socialista, rumando ao tortuoso desafio de lhes fazer frente? Sim, porque nos Açores, quem não é a favor do Governo Regional só pode ser contra. Nos Açores, quem pensa pela sua própria cabeça, e entende que há desigualdades sociais alimentadas e caminhos alternativos para encontrar a felicidade, só pode estar fora da Graça de Deus. Nos Açores, quem não se verga à mediania instalada, assinando por baixo em todas as decisões emanadas pelos sucessivos governos do PS, não é um bom açoriano. Mais, nos Açores, o poder tenta passar a mensagem de que apenas os que o ocupam, e os felizardos por eles escolhidos, possuem capacidades para governar. Mesmo que nada tenham provado antes, mesmo que se limitem a dizer que sim com a cabeça – mantendo-se, quase sempre, calados -, e especialmente se as suas parcas opiniões seguirem a cartilha do paraíso rosa. Porque os Açores são, em tudo, melhores que o todo nacional. E só tremem das pernas se a cor política em São Bento diferir da de Ponta Delgada.
Vai daí, e a razão para Mónica Seidi ter aceite o desafio que lhe propôs Duarte Freitas – e sim, é um enorme desafio – é simplesmente o facto de acreditar que se pode ser diferente, que se pode fazer diferente, que se pode chegar às pessoas de outra forma, ouvindo de verdade os seus anseios e não apenas por via das camufladas estatísticas que transformaram os açorianos em números. Porque, de viva voz, ninguém vale apenas pelo número que representa. Com exceção para o dia de ir às urnas. E tem-se governado para esse dia nos Açores. De tal forma, que 60% dos desatualizados eleitores nem saem de casa a cada domingo de sufrágio. E é também para acordar essa maioria silenciosa que aprecio a vontade da minha jovem amiga. Contando com ela para quebrar barreiras e para exultar que ser açoriano não é apenas alinhar em compadrios e levar pancadinhas nas costas. É muito mais que isso. Daí que seja realmente um grande desafio.
Termino referindo novamente que Mónica Seidi é a cabeça de lista do PSD/Açores pela Ilha Terceira nas eleições regionais do próximo dia 16 de outubro. Repito-o porque, possivelmente, o PS não se terá lembrado de a convidar para a sua multifacetada lista. Mas, certamente, porque a Mónica teria recusado.