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PORTO DAS PIPAS

miguel sousa azevedo - terceira - açores

PORTO DAS PIPAS

miguel sousa azevedo - terceira - açores

No imperdoável dia do Apagão…

06.05.25, MSA

Foto Cronica 191DI ABR25 - No imperdoável dia do

No passado dia 28 de abril tinha voo das Lajes para o Porto às 11h40. Já na sala de embarque, um ente querido ligou-me a dizer que algo estranho se passava na cidade Invicta: “O Continente (supermercado) está a fechar, faltou a luz em todo o lado, e dizem que é em Portugal e em Espanha”…estava pressionado o interruptor do Apagão.

Comentei o facto com uns senhores – também portistas e desgostosos com Martín Alnselmi e o seu fraco plantel… - que acabara de conhecer, enquanto ia confirmando os títulos online que surgiam em catadupa. A coisa era mesmo a sério, e dali a uns minutos a maioria dos passageiros estava agarrada aos telemóveis, a tentar ligar à família ou também a confirmar a estranha novidade.

O voo atrasou cerca de 50 minutos. Não tinha levantado dinheiro e a incerteza do que iríamos encontrar foi, naturalmente, assunto a bordo. A forma como passamos a ser dependentes de plataformas que pensam e decidem por nós. Esta maneira confortável e avançada de entregar o destino do dia-a-dia a outrem.

Em breve resumo, viajei da Terceira para o continente menos de uma hora depois da falha de energia. Mas só quando consegui aceder a um carro no Porto é que descansei a alma na Rádio Renascença. Porque os mais recentes smartphones já não têm Rádio, obrigando-nos a uma existência online. E são o que se viu. Silêncio absoluto durante horas, a respiração pendurada num powerbank. A ausência da imaginação no tempo de resolver. Não é geral, mas existiu.

De permeio, claro que tentei encontrar uma solução – com Bolt e Uber fora do mundo -, sendo que os táxis desapareceram em minutos e já eram centenas as pessoas que faziam fila para os autocarros que, amiúde, iam chegando, todos alimentados pelo ancestral combustível fóssil.

Em poucas horas presenciei laivos de egoísmo, breves inícios de discussão, alguma solidariedade, bastante simpatia, buzinadelas e afins. A rede de comunicações que não devia falhar mais de 5 minutos por ano deixou de ser uma realidade. Fiável. E, pelo meio de olhares e soslaios, fui a pé à rent-a-car onde, dois dias depois, devia levantar uma viatura, a partir da qual, sob confiança, códigos, papel e caneta, me pude pôr em marcha à margem da confusão.

Nesse instante, pensei que devia ter começado a documentar toda aquela atípica jornada, que já ia para as seis da tarde e parecia nem ter existido. Mas não havia essa necessidade, a normalidade estaria perto de regressar e não iam faltar imagens.

Pensei também na maneira atribulada como alguns reagiam, outros apareciam a ver se dava para lucrar com o acidente, e ainda outros conseguiam rir e fazer piadas à volta do sucedido. Durante aquelas horas, ficamos fora do Globo, mas fazendo parte dele. Pelo caminho, eu mesmo, sob a insegurança vigente, recusei dar uma boleia a um casal. Imperdoável...

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