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PORTO DAS PIPAS

miguel sousa azevedo - terceira - açores

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Nader e Pichardo: Ouro com mais significado

16.10.25, MSA

Foto Cronica 199DI OUTT25 - Nader e Pichardo Ouro

Comecei este texto há umas semanas, logo após a obtenção de medalhas de ouro por Isaac Nader (1500m) e Pedro Pablo Pichardo (triplo salto) no Mundiais de Atletismo de Tóquio, conquistas que muito orgulham Portugal e que fizeram do certame um sucesso desportivo para o nosso país. Só agora o terminei.

E é precisamente na expressão “o nosso país” que me apetece pegar, ao falar sobre aqueles dois soberbos atletas, pois correram e saltaram sob as cores nacionais, apesar das suas origens distintas, que logo motivaram infundadas e ignorantes manifestações de desprezo na extensa lixeira que as redes sociais também albergam.

Para informação geral, mesmo por mera curiosidade, partilho que Isaac Nader – sobrinho do antigo avançado do Farense e do Benfica, Hassan Nader – é um algarvio de gema, nascido em Faro, onde também o seu pai foi futebolista profissional. Já Pedro Pablo Pichardo, campeão cubano e com carreira feita, escapou ao regime da sua pátria natal e naturalizou-se português em 2018.

Estes factos em nada acrescentam ou subtraem ao facto de serem portugueses, como eu e como a maioria dos leitores desta prosa, que só foi escrita porque me irrita sobremaneira a prosápia do purismo balofo, tantas vezes associada aos feitos desportivos, mas que encerra um mal-estar xenófobo e pobrezinho de intenções.

E, se calhar, comecei o texto pelo lado errado, pois visei primeiro os tontos que desvalorizaram os feitos de Isaac e Pedro Pablo, e não as suas prestações notáveis em Tóquio. Isaac Nader assinou uma corrida de grande nível nos 1500 metros, assegurando sempre uma posição de destaque no pelotão, para terminar com uma ponta final do melhor que já se viu, passando de quinto para primeiro, e chegando ao ouro por dois centésimos.

Já o ex-cubano, uma estrela firmada do Atletismo mundial, tornou-se o primeiro português a ser bicampeão mundial da modalidade, ele que já fora campeão olímpico há quatro anos, precisamente em Tóquio. Na Final daquela disciplina, Pedro Pablo Pichardo esteve seguro, mostrando toda a sua valia e batendo mesmo o atleta que mantinha a melhor marca mundial de 2025.

Desde 1995 que Portugal não ganhava duas medalhas de ouro nuns Mundiais de Atletismo, então graças a Fernanda Ribeiro (10000m) e Carla Sacramento (1500m), outros dois nomes de destaque do desporto luso, assinalando-se que distam 30 anos entre os feitos, o que diz bem da exigência daquela competição, há muito disputada de duas em duas temporadas.

O ouro alcançado há umas semanas por Isaac Nader e Pedro Pablo Pichardo tem um significado acrescido, porquanto Portugal vive hoje uma efervescência extremada no que diz respeito à entrada de cidadãos estrangeiros e às trapalhadas legais respeitantes à sua legalização e aquisição de direitos.

Muitos patrocinam a confusão para tentar reinar, coisa que devemos cortar pela raiz, porque os seres humanos são todos iguais, cabendo-nos saber alinhavar o meio de vida mais justo e coerente para todos eles.

187 Nader e Pichardo Ouro com mais significado - D