Jornalistas em greve
Desde a meia-noite, há uma greve geral dos jornalistas em Portugal. Desconheço o alcance que a mesma terá, mas sou, naturalmente, solidário com os motivos que a causam, numa altura de profunda crise do setor. Que se junta a uma profunda crise de valores, essa a grassar avidamente pela sociedade portuguesa. Os jornalistas são, percorrendo os muito diferentes patamares em que trabalham no nosso país, uma categoria profissional que serve quando diz bem, e que é hedionda quando diz mal. Apenas e tão só porque - mexeriqueiros e enredistas à parte - assinam uma das poucas atividades que, de facto, pode alterar a opinião das pessoas. Da mesma forma que as alerta e informa do que se passa à sua volta. No fundo, aquilo que tantos e tantas não querem ver. O que me aflige também, para lá da falta de condições laborais e das falências prementes de órgãos de comunicação social (OCS), é que o jornalismo será talvez a mais escrutinada profissão do nosso país, sem se ter em conta como e para que fim trabalham os atores da mesma. E isso tem-se revelado profundamente injusto. De igual modo, e nas milionárias horas de alguns privilegiados OCS, vemos e ouvimos coisas de "abrir chão", muitas delas dadas como normalidade em prol da boa informação. Há anos que ouço falar das carências de massa crítica por todo o lado, e apresso-me a achar que já caiu até em desuso a utilização de tal ingrediente. Já extravasando as razões que levam os profissionais da comunicação social - sim, porque um operador de câmara, um fotógrafo ou um técnico de som também são jornalistas como os que falam e escrevem... - a fazer greve nesta quinta-feira, a 40 dias de comemorarmos meio século da Liberdade, apraz-me dizer que o mal está mesmo nas pessoas. Nas que produzem e consomem informação, que deixaram de ser exigentes, consigo próprias e com quem lhes paga e dá instruções. Mas este é apenas um desabafo, reforçando a solidariedade para com os colegas, com ênfase nos da esfera privada, que hoje se manifestam. Também porque, diariamente, sou e me sinto, jornalista como eles...