Hoje só queria dizer-te que fazes anos, Mãe...
Hoje só queria dizer-te que fazes anos, Mãe...
E dava tudo para ver a tua reação à simples frase: - Aldinha, então já nasceste há 80 anos?
Que te diria com o mesmo sorriso com que, em 2020, quebrei as regras dos confinamentos para te vir dar um beijo. Porque fazias anos, e porque nessa altura te mantivemos numa redoma, para que nada te acontecesse. E, afinal, o destino estava a pregar-nos a maior partida de todas.
Neste tempo que tem passado sem te poder falar, cada vez mais interiorizo que aceitar uma perda maior é também pacificar o coração. Tantas vezes ouvi essa privação nas tuas palavras, que decidi não querer padecer do mesmo. E, quando nos deixaste, escolhi que ficarias connosco para sempre. Facilitei o choro, mas poupei-nos a um desgosto ainda mais forte. O amor que me ensinaste, e as coisas todas que nem chegamos a viver, passaram a um sonho permanente. Que não é de pena ou arrependimento, mas um crescer de alma na memória e nos afetos. Até porque me visitas, de quando em vez, com a tua voz meiga e o teu riso fácil.
Hoje fiz um pequeno intervalo a essa paz, inquietando-me de saudades. Afinal, nos dias de festa, as emoções tendem a transcender-se.
Tudo porque só queria dizer-te que fazes anos, Mãe...