27.Ago.21
Eu, sou fã de Mário Miguel... (recordação)
Passam hoje 15 anos sobre a alternativa de Mário Miguel como matador de toiros, em Cuellar (Segóvia-Espanha). Com um abraço amigo, aqui recordo um texto que já vai na dúzia, Mário
Eu, sou fã de Mário Miguel...
- Miguel Sousa Azevedo – “aUNIÃO” (12 agosto 2009)
Era, de todo, esperado com grande ansiedade – no meio taurino e não só… - o regresso de Mário Miguel à Terceira, agora feito matador de toiros e para lidar na Corrida das Festas da Praia, certame que haveria de se viver em chuva na passada sexta-feira. Sobre estas coisas dos toiros, e como praticamente em tudo na vida, gosto de escrever com frontalidade e sem voltar atrás na opinião assumida, opção que pode dar lugar a dissabores, mas o que não tem a vida que se não viva na arena? Exato, o imprevisto moldado ao saber ainda são, para mim, duas portas abertas para o livre sentir. E sobre eles bem se podem formar os textos…
A referência a Mário Miguel é aqui feita, de facto e propositadamente, pela evoluída craveira artística que possui o meu caro amigo, que este escrito foca tão só pela vertente taurina e humana de um terceirense que, creio, deixa orgulhosa a maioria dos seus conterrâneos. Mau grado as vozes fronteiras ao vento da razão, coisa de que sofre com fartura o mundo dos redondéis, não quis deixar de brindar a sua vinda à Terceira com esta pequena partilha de gostos, mesmo se as coisas nem lhe correram de feição na “prateada” Praça de Toiros Ilha Terceira, palco onde, a começarem os anos 90 do século passado, o então cavaleiro em formação deixou aplausos no ar perante a sua sobriedade e eficácia de casaca azul-turquesa vestida. Desta feita, e depois de firmada uma carreira onde a sorte nem sempre lhe foi valendo, era notória a vontade de triunfar perante as suas gentes e nas festas da sua cidade. Como já disse, nem tudo lhe correu bem, mas podia ter corrido. Com efeito o risco de, perante uma lide inicial onde lhe faltou oponente, querer abrir a seguinte com uma sorte de acaso duro foi uma opção criticável. Será, mas poderia ter sido o momento de uma noite. Uma das várias onde a sua estrela voou alto, ficando na retina de todos o tércio em que, uma vez mais, bandarilhou com graça e fluidez. Uma das suas assinaturas mais fortes, desde que se apeou para brilhar no chão.
Recordo aqui a opinião do saudoso amigo Ricardo Jorge que, quando Mário Miguel encerrou o Campo Pequeno (1998) para seis toiros Palha (três a cavalo e três a pé), me referiu tratar-se de “um toureiro já feito e que bandarilha como os melhores”…assim continua. Como de não esquecer foi a noite da sua alternativa como cavaleiro (1999), com o perfume das ilhas a povoar a primeira praça do país.
Mesmo se a dúvida imposta pela sua opção profissional de se dedicar ao ensino artístico e de alta escola de equitação, com sucesso granjeado para os lados do oriente, se pode pôr ao peito de quem queira desdenhar a sua dedicação, fica-me apenas retido que foi com arte que continuou a viver, partilhando sempre com o público “o verso à mesa” ou aquele “sol que brilha” que tão bem Álamo Oliveira escreveu e Carlos Alberto Moniz musicou no pasodoble que ambos lhe dedicaram.
Há quase três anos, em Cuellar, Mário Miguel tornou-se o primeiro matador de toiros açoriano, um ano depois de um poderoso triunfo nas Sanjoaninas, e numa altura em que a sua carreira flamejava, dadas as pretensões de muita gente o ver atuar nas mais diversas praças. Nessa época facilmente se poderiam aqui abreviar uns parágrafos enaltecendo os seus feitos e previsões de sucesso. Quis o tempo que outros voos se apresentassem. Assim como agora foi o tempo, para mim, e numa altura em que o toureiro recupera da colhida de há uns dias, o mais indicado para o elogio.
Por todos os motivos que possam encerrar uma sorte de porta grande. E porque é com arte que mais se podem distinguir os predestinados. Deixo apenas a minha opinião, no caso indesmentível, pois é própria e um dado adquirido. Eu, sou fã de Mário Miguel...