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PORTO DAS PIPAS

miguel sousa azevedo - terceira - açores

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miguel sousa azevedo - terceira - açores

Atirar água no Carnaval

24.02.22, MSA

Foto Cronica 145DI FEV22 - Atirar água no Carnava

Quem, até há uns vinte e muitos anos, numa certa semana de fevereiro, descesse a Rua da Sé pelo lado da Catedral dos Açores, arriscava-se a chegar ao canto da Sapataria Aliança encharcado que nem um pinto. Era também assim porque, antigamente, se atirava água no Carnaval. E não era pouca.

Antes do caro leitor chamar selvagens aos quarentões/cinquentões – e seguintes - do concelho de Angra, recordo que, hoje, há jovens que dobram a noite agarrados a consolas a simular homicídios, ataques terroristas e atropelamentos fatais. Ou seja, uns saquinhos de água não traziam assim tanto mal ao mundo…

Mas o certo é, tal como por alturas de São João, também nos dias que antecedem o Entrudo o nosso organismo dá sinal de festa. Até aos anos 90, esta era também uma época em que chegar a casa todo molhado, mesmo em tardes de sol, seria perfeitamente habitual.

faixa DI 24fev22.jpg

Primeiro, porque se organizavam, em menos de um espirro, verdadeiras batalhas de sacos de água. E depois porque qualquer intervalo das aulas servia para ir alagar os parceiros mais incautos. Assim num nível superior às emoções antes vividas com as fonas-de-porca ou com as bombinhas de sete-e-meio. É impressão minha, ou há gente que não percebeu nada desta última frase?...

Era habitual que grupos de amigos percorressem – de carro ou de moto – as artérias da cidade e arredores, com extintores – normalmente vindos da Base, não sei bem como… - cheios de água, depois regularmente esvaziados para cima do cidadão comum. Num misto de aventura, rebeldia e fuga às autoridades. Era assim e já prescreveu.

Claro que nem sempre a coisa tinha graça. Até porque levar um banho de água é como perder o sentido de humor…quando a piada é a gozar connosco! Mas já me fui desviando do centro da nossa cidade-património que, naquela altura ainda bem marcada pelas ruínas do Sismo de 80, tinha neste aproximar do Carnaval essa característica muito própria. E ir para os degraus da Sé sem roupa de água era mesmo estar a pedi-las. Devia-se levar, pelo menos, uma daquelas capas de duas cores que se vendiam no Golfe.

Numa das varandas haveria certamente um penico, um par de cornos e um rolo de papel higiénico. E ao lado estaria um altifalante a anunciar a Tourada dos Estudantes. Com pasodobles e sambas de gerações passadas. Mesmo porque eram outros tempos, em que para lá do Domingo Gordo, também as cervejas se apresentavam rechonchudas.

Como a vida não anda para trás, e porque temos de cumprir novas regras, hoje restará apenas a vontade de molhar fortemente algumas pessoas que nos irritam. E que teriam de aceitar a partida. Porque no Carnaval ninguém leva a mal…

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