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PORTO DAS PIPAS

miguel sousa azevedo - terceira - açores

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miguel sousa azevedo - terceira - açores

Adeus, nosso José

28.11.20, MSA

Foto Cronica 120DI NOV20 - Adeus nosso José.jpg

Faleceu na quinta feira o José Greta. Era o único dos Filósofos da Rua - retratados por Augusto Gomes - ainda vivo, “um indivíduo alto, na casa dos trinta, cabelo sal e pimenta, falar afeminado e andando com requebros andaluzes”, assim o definiu o conhecido escritor por tempos dos anos 80.

O José foi marca habitual das ruas da cidade de Angra até há cerca de uma década. Uma pessoa querida e que sempre se soube comportar, dizia-se. E era mesmo assim.

Homossexual assumido e resolvido, serviu muitas empresas e famílias desta terra, fazendo limpezas e recados, granjeando confiança e respeito. Porque o José era como era, e todos o acarinhavam, salvo alguns episódios menos alegres que, como o próprio contava, “se resolveram por si”.

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Das atitudes altruístas que lhe conhecíamos, àquela forma meio-atrevida de agir, o José juntava uma bondade que era mesmo dele, que transbordava o “boneco” popular, e quase fazia conhecer o homem que há muito virara os 70 anos, e que fazia parte do nosso trivial.

Há uns bons anos, aportou ao Lar de Idosos da Santa Casa da Misericórdia de Angra. Passado algum tempo, foi-lhe atribuída uma casa de habitação social. O José não se deu, não queria viver só, e regressou ao convívio dos mais idosos, fazendo aqui e acolá algumas voltas. Sempre que descia ao centro da cidade, era bem recebido e retribuía com educação.

Conheci-o em 1997, quando integrei a comissão da Tourada dos Estudantes. Mandava a praxe que se oferecesse um bilhete ao “nosso” José, como então percebi seria forma de o tratar. A uns dias do Domingo Gordo, ele abordou-nos e pediu mais um bilhete “para o sobrinho, e outro para a sobrinha…”, o que o presidente da comissão recusou, e a que eu reagi rasgando logo do bloco 4 ou 5 ingressos, que ofereci ao bom do José. Ele apenas disse - sobre o então presidente -: “não gosto dele” e, virando-se para mim, “muito obrigado, e tudo de bom para ti”. Desde então, o respeito e o cumprimento ordeiro não mais cessaram, e percebi que ali estava uma pessoa, sofrida na vida, mas com virtudes que fui conhecendo pelos anos.

Neste 2020 atípico e de más memórias, têm desaparecido figuras de proa, dos mais variados setores. Pois o nosso José era bem do povo. Que dele já sentia falta pela prolongada ausência, e que agora o viu partir.

Esperemos tenha um santo descanso. Adeus, nosso José.

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