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PORTO DAS PIPAS

miguel sousa azevedo - terceira - açores

PORTO DAS PIPAS

miguel sousa azevedo - terceira - açores

Rali de Portugal - apontamentos (2)

29.05.10, MSA

Petter Solberg, para mim o mais carismático piloto do actual WRC...

Foto: Manuel Bessa Carvalho/Motores Magazine

O segundo dia do Rali de Portugal’2010 não foi particularmente animado, mas teve o condão de comprovar, uma vez mais entre nós, que os grandes campeões se podem revelar de um momento para o outro, e o caso concreto reporta ao francês Sebastien Ogier, autor de uma etapa de grande qualidade, directamente valorizada pelo facto de se ter conseguido escudar – e atentem, que nem escrevo isto de ânimo leve – perante o mais eficaz e vitorioso piloto de todos os tempos, no caso o seu compatriota Sebastien Loeb, cujos habituais trunfos falharam, mormente porque não ganhou o tempo que pretendia para a frente da corrida e porque Ogier se vai impondo num tipo de terreno onde começa a ser conotado com a perfeição, fazendo lembrar outros “artistas” do WRC, afinal rola imensamente depressa mas de forma generosa e espectacular para o público. Aliás as lutas pelos lugares da frente tiveram alguns momentos de emoção durante a dupla passagem por Almodôvar, Vascão e São Brás de Alportel. Num contexto de apreciação já após a publicação de várias matérias e comentários pela falange de jornalistas presentes, não posso deixar de destacar Petter Solberg – possivelmente o homem que mais carisma exala no pouco “temperado” plantel do campeonato… -, pela atitude e pela entrega, assim como Mads Ostberg que, com um carro desactualizado e que nunca foi competitivo, vai deliciando quem das bermas aprecia a sua condução exuberante e veloz. Com o pódio ainda em aberto para o norueguês, para um desalentado Sordo e um mais atrasado Hirvonen – num rali onde o domínio da Citroen é impressionante -, a dúvida persiste na existência ou não de ordens tácticas por parte dos homens do “Double Chevron” para a vitória, é que ainda são quase 90 quilómetros cronometrados por correr até se chegar à super-especial de encerramento. De resto, e no reino do Top-10, está a gente de sempre da mais recente versão de uma competição a necessitar urgentemente de mais marcas e variedade, comprovando-se que há um minuto – ou mais… - de intervalo para colocar entre cada “estrela” ao fim de 250 quilómetros de troços, e que os “outsiders” são (mesmo) uma recordação do passado. Nos S2000 a confirmação chama-se Ketomaa. Sóbrio e eficiente, tem visto a concorrência cair em debandada, tendo agora minutos de avanço sobre Pons e Kosciuszo, depois de também Hanninen ter abandonado. Na Produção é Ott Tanak o surpreendente líder, um jovem que anda e faz tempos. Entre os portugueses, e mesmo se os principais actores de uma trama que já se previa tiveram problemas a registar, é com agrado que se vê a condução solta e despreocupada de Armindo Araújo – ouvindo na “Antena 3” as notas ditadas pelo experiente Miguel Ramalho -, assim como a vivacidade que Bernardo Sousa dá à estrada e a quem a ladeia. Infelizmente, e conforme também se adivinhava, esta prova é dura demais para a realidade nacional, com as máquinas a cederem e as equipas a ficarem com poucas alternativas de luta face a um terreno desgastante e a troços longos e trabalhosos. Mesmo assim há actuações de bom nível a reter, tendo sido imensa a pena de ver Ricardo Moura interromper um desempenho de grande qualidade devido à quebra do cubo do volante do EVO9…de facto, o campeão dos Açores não consegue ter sorte em dois dias seguidos de provas internacionais, o que tem manchado a sua escalada no topo dos melhores valores lusos. Esperemos que amanhã possa fazer passagens limpas, averbando tempos à altura do que mostrou ontem. No troço onde estivemos hoje encontrei o Pedro Pereira – conhecido como Pedro “CDS” -, exactamente o mais antigo piloto de ralis terceirense no activo, e com quem estive à conversa, encontrando de permeio Francisco Tavares, o também veterano madeirense, pelo que houve ali um confronto de gerações atlânticas que o bem humorado homem da Toyota foi rematando com graça. Fica aqui também o registo de uma presença massiva de adeptos do nosso vizinho arquipélago, na já esperada confirmação do enorme gosto que nutrem pelos ralis. Nas assistências foi tempo de ver o profissionalismo de várias equipas a trabalhar em completa sincronia, de ver arrumar o irrecuperável Focus de Latvala – cuja traseira bem mostrava a “chicotada” valente de uma árvore em mais um acidente do irrequieto finlandês… -, de ver como os portugueses nem sempre se sabem comportar – os do público e os do “staff”… - e, principalmente, tempo de rever algumas caras que fui conhecendo ao longo de outros tantos anos a acompanhar de perto os ralis. De uma forma até próxima do adepto e até próxima do jornalista, mas tentando não ser efusivamente nem uma nem outra vertente do amante da modalidade. Do Zé Janela ao Zé Pedro Fontes há um conjunto de pessoas pelas quais tenho estima e até amizade, sendo que a paixão por estas coisas dos carros é, fortemente, um mote comum para que nos cruzemos durante vários anos. Vamos a ver o que nos reserva o último dia, ou pelos menos quem será o D. Sebastião nestes Algarves motorizados dos tempos modernos…