Um campeão da amizade... (crónica)
Foto: Rodrigo Bento.
A distinção, por parte da Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting (FPAK), ao piloto Luís Pimentel, atribuindo-lhe o “Prémio Carreira” que irá receber em Janeiro próximo, é uma justa lembrança, pela entrega e constante paixão que o meu caro amigo, dia após dia, comprova nutrir pelos ralis. Conheço o “Licas” praticamente desde o primeiro rali que ele veio fazer à Terceira, salvo erro o “Lilás” de 1984, então acompanhado pelo nosso colega de lides Luís Gulherme Pacheco e tripulando o “polémico” Pininfarina Azurra, um carro que viria a motivar dúvidas na imprensa local, com um conhecido especialista – no caso o meu também caro amigo Rafael Barcelos – a defender que se tratava tão somente de um Fiat 124 Spyder da versão americana, ou seja logo na nascença de uma já longa carreira, o bom do “Licas” primava por não ser consensual, excepção que se abria na forma simpática e extrovertida, muita vezes levada ao limite, com que “brincava” com as situações, ao mesmo tempo que ia estreitando laços com a Terceira e, pelos Açores fora, com os adeptos dos ralis, que nele logo reconheceram um apaixonado voraz pelas actividades automobilísticas. As máquinas que, ao longo de 25 anos de provas, apresentou aos mais atentos espectadores, são bem a súmula do que uma dedicação extrema e avultados investimentos podem proporcionar: Renault 5 Turbo, Lancia Delta Integrale, Peugeot 309 GTI-grupo A, Mitsubishi Galant VR4 – um dos mais impressionantes bólides que correu na região -, Ford Escort Cosworth, Toyota Celica GT Four, Subaru Impreza WRX – possivelmente o melhor carro de ralis que esteve no campeonato açoriano…-, Mitsubishi Lancer EVO6 – o primeiro que correu nos Açores -, Subaru Impreza Sti N10, 11 e 12, enfim uma panóplia de carros que retratam em pleno o “top” dos últimos 25 anos dos ralis entre nós, numa parcela temporal onde o piloto conquistou inúmeras vitórias e vários títulos de campeão. Mas, mais do que realçar as performances desportivas do “Licas” Pimentel, estas linhas pretendem tão só destacar a pessoa humilde e apaixonada que, por voltas e correntes do destino, nem sempre foi bem vista aos olhos de todos. Excepção feita, e com toda a justiça, pelos fãs dos ralis, os adeptos que entendem a vontade constante de correr, deixando de lado o avançar da idade ou menores possibilidades. O “Licas” é um homem dos ralis, está sempre por dentro dos meandros e das novidades, mantém ligações estreitas com estrelas do WRC e convive diariamente com a realidade dos carros, das especificações técnicas, com a chegada de material mais desenvolvido, enfim “respira” ralis como um adolescente em busca de um sonho, possivelmente porque é aquela “alma” de rapaz novo que o leva a querer sempre mais, dentro do que ainda fará e recordando tudo o que já realizou pelos e para os ralis. Em todos estes anos fomo-nos cruzando por essas provas fora, umas vezes no continente, outras em agradáveis convívios, numa relação saudável, muito apoiada pelo “irmão” terceirense que ele tem no Ricardo Laureano, também ele um amigo para as horas boas e más, e confesso que com o “Licas” há sempre uma vontade de esmiuçar o assunto, de lhe desafiar o olhar por vezes triste com que vê o panorama do desporto que mais ama. Mas são coisas de pouca dura, porque logo a seguir já ele “armou” alguma para deitar por gargalhadas um eventual esfriar dos ambientes. Assim o tem feito ao longo destes 25 anos, dentro e fora das classificativas. Nem sempre consensual, como já disse, mas quase sempre com a unanimidade dos que, como ele, se perdem de paixões por estes carros, lombas, ganchos e motores. “Esticados” ao máximo por uma electrónica da vida que não sabemos até quando dura. Plagiando claramente o título de uma entrevista dada à extinta revista “Rotações Magazine”, penso que a feliz tirada definiu bem a carreira ainda longe do final do meu caro amigo e piloto. “Eu Show Licas”, pôde ler-se na capa da publicação. E ficou (quase) tudo dito…