100 anos de "Pinga".
Passaram-se hoje cem anos sobre o nascimento de Artur de Sousa "Pinga", possivelmente "o maior talento do nosso futebol", segundo o histórico Cândido de Oliveira. Interior esquerdo de posição, e originário do Funchal, "Pinga" era um jogador espantoso, dono de um remate poderosíssimo e de uma técnica refinada, estas apreciações ouvidas directamente do meu avô Fernando, que foi um fervoroso portista dos tempos da Constituição. Várias vezes o ouvi recordar o repto "chuta, Pinga!", ou coisa semelhante, quando chamava à memória as lembranças do contemporâneo de Acácio Mesquita - esse sim seu amigo directo e que citava sempre - e de Valdemar, com quem formou um trio de luxo e que atemorizava os adversários.
Lembro-me de com ele folhear a Fotobiografia do Futebol Clube do Porto, onde reconhecia a dedo as figuras das décadas de 30 e 40, as últimas que passou por inteiro na sua Invicta de criação. Há uns anos lembro-me de entrar no velho campo da Constituição, curiosamente em dia de captação de jovens valores, e de facilmente identificar no então tosco espaço o palco de emoções antigas.
Tendo como mote o centenário de "Pinga", um fenómeno que nasceu, possivelmente, no tempo e lugar errados, nada como o "calcanhar" com que Falcão levantou as bancadas azuis-e-brancas há uns minutos para assinalar o talento dos jogadores e o alento que este desporto-rei vai dando a um país de tempos difíceis. Tanto agora como nos idos anos 30, em que "Pinga" e outros brilharam a Norte...