Euforias.
Este segundo século no domínio do mediatismo tem visto o futebol superar tudo e todos na facturação imediata de conteúdos sensacionalistas e, nesse quadrante específico, Portugal deve ser dos países que mais tele-lixo produz. Escrevo isto a poucas horas da maior apresentação de sempre de um jogador de futebol, um momento aguardado para quando Cristiano Ronaldo (aliás "Rônaldo", convém frisar na fonética...) entrar como novo deus do Estádio Santiago Bernabéu, a casa que o acolhe a troco dos fantásticos 94 milhões de euros da transferência recordista negociada com o Manchester United. Não cabe aqui avaliar os dotes, esses sim inegáveis e comprovados, do ex-CR7 (e quase de certeza agora-CR9...) com a redondinha nos pés, no peito ou na cabeça. O que não aguento é o alongar do assunto-que-não-é-assunto, apenas para cativar uma audiência que vem sendo educada a sorver tudo que lhe metam écran dentro, mesmo que tal não passe da mais boçal baboseira ou do mais natural facto sobre um natural acontecimento. Quando a isto, e em directo e a cores, vemos dois profissionais de comunicação social, no caso da RTP e da TVI - e assumindo que são jornalistas-, fazerem a "assanhadas" espanholas perguntas do tipo:
"Então, e gostaria de tocar nele, logo?" ou "Gostava mais de o ver com ou sem camisa?",
ou ainda a inevável e estridente Júlia Pinheiro falar com ares de propriedade, como portuguesa, dos bícepes e da "tábua-de-engomar" que é a barriga do jogador, fica quase tudo explicado. Ou completamente por explicar.
Decididamente os maiores adversários, ou quem coloca maior pressão sobre o jogador madeirense, não serão os defesas contrários ou os resultados desportivos, mas antes quem maneja as câmaras, microfones e os computadores portáteis. Esses sim, fazem marcação homem-a-homem e constante...