![Um aspecto do cortejo da Tourada dos Estudantes em 1967...]()
O próximo domingo, o tal que é gordo, pançudo, das filhoses e dos cuscurões, marca-se por mais uma descida da Tourada dos Estudantes à cidade de Angra, com a tradicional garraiada a ser antecedida do espalhafatoso cortejo, onde a crítica mordaz e as habilidades físicas e verbais de uns, face a um possível entorpecimento de outros, dará forma a mais uma confirmação de que, pesem as dificuldades ou não, aquela é uma enraizada faceta do Entrudo desta terra. Aliás, as próprias palavras com que, anualmente, se caracteriza a dita garraiada e os seus contornos é disso uma prova cabal, pois todo o angrense ou terceirense que se preze as liga automaticamente ao certame em questão. E a verdade também é que, com o passar dos anos e o crescimento de famílias ou responsabilidades nem tanto se afastam essas mesmas pessoas da realidade desta tradição, sendo que desafio um que seja – e que tenha vivido por dentro aquela festa – a não sentir uma pinga de nostalgia ao ver passar o cortejo na nossa rua principal ou uma pontada de orgulho ao ver filhos ou parentes chegados a brilharem no meio da trapalhada.
![A confusão da garraiada na velhinha Praça de Toiros de São João...]()
Desde as tiradas facilmente decifráveis do sempre aguardado cartaz, passando pelas doses (agora menos…) de lama e frio da famigerada tenta, e desembocando num sábado de carnaval cuja noite parece nunca mais terminar, esta é uma tradição que se vai mantendo fiel aos seus princípios, já longos de muitas décadas, embora se vão notando várias adaptações, afinal resultado dos tempos e das evoluções naturais. O passar destes faz até perder no calendário, ou na paciência de alguém a essa procura se dedicar, o ano da criação de algo que se transformou nesta garraiada, pois é sabido que Angra é cidade taurina há muito, sendo que se aponte para as duas primeiras décadas do século passado o embrião desta já idosa alegoria que os estudantes fazem à sociedade e ao mundo. Nesta mesma terra, outrora dividida por diferentes praças de toiros, onde os adeptos dos “espadas” Joseito e de Pechuga se digladiavam em argumentos, também a vertente séria do redondel muito deve à Tourada dos Estudantes, sendo que nela despontaram diversos artistas locais da capa e do capote, assim como da arte de bem cavalgar a toda a praça e, mais recentemente, uma cantera valente de forcados que vão sustentando outro orgulho das nossas gentes. E também na brincadeira e na galhofa as letras e piadas já destacaram nomes, alguns deles a crescer pelo mundo como autores ou engraçados que sejam. Simplesmente porque, e mesmo sendo uma caricatura do que nos rodeia e incidindo mais neste ou naquele ponto da actualidade, esta tourada, tirada a ferros da imaginação de uma gente festiva e de entrudos é, e em dose larga, um retrato bem fiável da nossa forma de ser: expansivos, críticos, exagerados, com bom golpe de rins e, acabada a festa, arrumadinhos e cansados, mas satisfeitos.
E afinal tudo se resumirá numa festa para alguns, numa confusão deliberada para todos, e num dia de saudades para tantos outros. Saudades simplesmente do tempo em que eram mais novos. E já são tantos…
PS - Nas fotos que ilustram esta crónica podem ver-se dois momentos da Tourada dos Estudantes de 1967. No cortejo, Rua da Sé acima, reconhecem-se, dentro do carro (em pé), o saudoso José Daniel Macide, enquanto na rua evoluem o meu pai (Jorge Azevedo), acompanhado pelo Dr. Fernando Fagundes. Encarnam as - à altura - bem “conhecidas” Maria Recruta e Valsa Rasteira. Na praça o espalhafato é notório e a assistência numerosa, sendo o “artista” das andas o Engº António Adelino Pires. Foi há 42 anos…