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PORTO DAS PIPAS

miguel sousa azevedo - terceira - açores

PORTO DAS PIPAS

miguel sousa azevedo - terceira - açores

Notas de Pavilhão. (crónica)

25.10.05, MSA
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Durante o último fim-de-semana passei mais horas no Pavilhão Municipal de Angra do que, muito possivelmente, terei lá estado na meia dúzia de anos anterior. A razão é simples. Os locais onde se praticam desportos e que nos chamam as raízes à razão tornam-se carismáticos, levando-nos a criar laços – que por vezes nem nos apercebemos existirem… -, e fazendo-nos necessitar do regresso a esses mesmos locais frequentemente. Senti o mesmo há umas semanas no “velhinho” Campo de Jogos de Angra, tal como quando há uns dias pisei por segundos o “tartan” do João Paulo II. Por certo teria a sensação repetida se ainda existissem a pista de Atletismo do campo de São Mateus ou as descidas de terra traiçoeiras da Grota dos Calrinhos (Pedreira). Ou como ainda a poderei partilhar aos sentidos na próxima deslocação ao Estádio do Dragão, à zona do Confurco no troço de Fafe/Lameirinha, ao Circuito da Costilha em Lousada, ao Circuito da Boavista ou ao mais simples percurso de manutenção do Parque da Cidade, no Porto. Tenho esta coisa debaixo da pele…e ajuda-me, pelo menos, a escrever sobre assuntos e sítios.
Mas voltando ao Pavilhão e ao que se viveu ou recordou no Sábado e no Domingo. Foi fácil reconhecer a grande maioria das caras presentes, embora muitas delas me tenha habituado a ver dentro de campo em jogos que a juventude da minha idade viveu intensamente. Quem não se recorda da estreia daquela estrutura, em inícios da década de 90? Com o Porto de Fernando Sá e o Benfica de Mike Plowden a “patinar” literalmente por cima de tacos a que a humidade conferiu o condão de atirar todos ao chão? Da mesma forma muitos se lembrarão de várias outras actividades que aquele espaço recebeu e que, bem vistas as coisas, bem poderiam ter continuado a passar-se por lá. Mas isso são outras histórias. As de que falo agora prendem-se com outras épocas, tão perto ainda da retina, em que tinhamos o Lusitânia na 3ª ou 2ª Divisão Nacional de basquetebol e um pavilhão repleto de adeptos (é verdade, quem de atrasasse arriscava ver o jogo das “cabeçeiras”…) a puxar por uma equipa toda da cidade, em que o tom “profissional” vinha do americano de ocasião, quase sempre artista de “afundanços” e ressaltos de arrepiar. Claro que toda essa tendência de ovações e emoções vinha das noites de Sábado do Pavilhão do Ciclo onde, aí sim, era impossível atrasar a chegada sob risco de ficar mesmo na rua! E falo sem grande conhecimento de causa dos bastidores de uma modalidade que nunca pratiquei, nem sequer revelei o mínimo jeito para tal, mas que facilmente qualquer adepto desta terra considerava ser o desporto-rei da altura. Actualmente, e com a sinceridade que costumo conferir a estas linhas, tenho dúvidas se ainda haverá desporto-rei por estas bandas…
Tudo porque as solicitações são outras, as escolhas alargam-se a cada década, o sentido crítico esfumou-se pela discussão de quanto custa cada modalidade e quais os apoios “exigidos” por cada equipa para pôr em liça um conjunto de atletas. Quer nos identifiquemos com eles ou não. A profissionalização crescente de vários sectores (festivos, sociais e desportivos…) leva-nos a encarar estes outrora tempos “livres” como actividades em que as “balizas” financeiras se tornaram lei. E da bancada de um pavilhão passamos ao arraial de uma festa…e o sentimento é o mesmo.
E, com a lógica que tento imprimir a cada prosa, lá passei de um assunto para outro (espero que sem confundir…), mas não me esqueci do mote da questão. Da alegria que vi nas caras de muitos após a vitória “certinha” do Boa Viagem/Angra/Açores de Nuno Barroso sobre as nortenhas do Desportivo da Póvoa. Ou logo a seguir das caras menos felizes ante a derrota do estreante Lusitânia-B num jogo que poderia ter ganho. Das expressões de alegria, no dia seguinte, após o passo histórico do Lusitânia/Angra Património Mundial de Manuel Molinero que ultrapassou o todo-poderoso Queluz de Alberto Babo e do “gigante” Leroy Watkins. Como me lembrei de um Sábado há uns anos, na “basquetebolista” cidade de Ovar, em que os “verdes” da Rua da Sé fizeram idêntica “graça” frente à Ovarense. Então o “coach” era Alberto Carvalho, e o “míudo” Samuel Moreira foi o rastilho da explosão dos poucos (mas bons) adeptos presentes. A diferença, se calhar, está mesmo no Tempo. Esse elemento que nos permite recordar outras imagens e vivências, mas impedindo-nos de as reviver por inteiro. Por que já passaram.
Como se calhar já passaram os tempos de amor à camisola que ainda considero a mais leal verdade desportiva. Ou se calhar já não o sinto mas penso que sim…
E falta ainda a “mensagem” política do escrito. Afinal só falar do que já passou está um pouco fora de moda. E essa vai direitinha aos senhores do (re)empossado Executivo Municipal, que em boa hora apoiei e que vencerem retumbantemente no passado dia 9. Há um qualquer piso sintético prometido para o pavilhão de Angra…há já uns tempos. Pode até já estar encomendado, mas convém que a próxima época desportiva começe já com ele. Os que pedem “apoios” também movimentam as massas. E essas só querem do bom e do melhor