50 já cá cantam!
Quando ouvia falar sobre “completar 50 anos ou bodas de ouro”, era normalmente relativo a alguma instituição ou organização, e já de si significava uma longevidade de destaque, hoje certamente distinguida com um voto de congratulação nos vários fóruns políticos e afins.
Durante grande parte da vida, ouvir dizer que alguém já tinha 50 anos, era também um mero exercício de escuta e alguma indiferença, afinal essas idades iam demorar a chegar e não havia a mínima preocupação em relação às mesmas.
Pois a verdade é que o tempo é voraz como aqueles bichinhos que destroem madeira e fazem ceder tectos e sobrados pelo que, num estalar de dedos, já cá cantam 50 aninhos de vivências pelo mundo, maioritariamente passados nesta bela Terceira de folguedos e tradições. E ainda bem!
Aliás, na altura em que dedilho frases no teclado, lá fora ouço um samba brasileiro em alto e bom som. É o carro dos “rapazes” da Tourada dos Estudantes, uma coisa tão simples, mas que há já algum tempo me provoca um arrepio de saudades e orgulho. Será um sinal de que, com a idade, vamos ficando tontos e saudosistas? Creio que não.
Acho que, com o vagar dos anos, e o associado aumentar da idade, aprendemos, isso sim, a valorizar as coisas simples desta vida que passa a correr. Pelo menos é essa a minha perceção. E o que vou conhecendo e partilhando não me tem retirado razão. Mesmo se nem a quero ter.
Quem não se apercebe disso, ou não tem mesmo uma predisposição genética para valorizar memórias e acontecimentos marcantes estará, a meu ver, a envelhecer mal…ou, pronto, a afastar-se menos bem dos tempos de juventude.
A prosa poderia ser extensa e autobiográfica, mas não tem sido esse o intento dos meus escritos, cada vez mais reduzidos na expressão mas aumentados nos sentimentos. Não é nostalgia, será simplesmente a adaptação à ideia de que mais de metade da passagem está feita, pelo que há que acarinhar o que falta e louvar o que foi feito. Isso sim, será evolução!
Continuo a considerar-me um cidadão de ideias livres e espírito aberto, e penso que isso tem muito a ver com o facto de viver nesta terra de alegrias, onde vou sendo bem acompanhado por familiares e amigos que contribuem diariamente para essa luz nas emoções.
O sentido de partilha que os terceirenses dão como adquirido é uma bênção cuja dimensão nem imaginamos. E fujo claramente ao fator material, valorizando muito mais os ensinamentos e os sorrisos. Pois esses é que nos preenchem a alma e fazem de nós melhores pessoas.
Em tempos de Entrudo, nada melhor do que ter algo para partilhar – em ensinamentos e sorrisos -, pois é sempre essa a melhor forma de festejar qualquer aniversário ou efeméride. Assim como assim, não dá mesmo é para retirar das costas os aninhos que se contam, restando agradecer por cada um deles. Bom Carnaval!