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Sábado passado voltou a ser dia de “Faz Acontecer” na Terceira, concretamente na Praia da Vitória, e no Auditório do Ramo Grande que, antes da pandemia – que, já percebemos, também nos ensinou muita coisa… -, já tinha recebido outras sessões…ou espetáculos…ou, pronto-eventos-a-que-vamos-e-que-nos-fazem-bem…
Quem me conhece, sabe que não sou particularmente empreendedor – até embirro um pouco com o termo, e ainda mais com quem o usa mal dito e abusivamente… -, mas se há coisa que me satisfaz é o sucesso dos meus próximos, das pessoas que admiro e, sobretudo, das que tem um verdadeiro valor e se salientam pela diferença.
Nos dias que correm, e com o facilitado mediatismo que qualquer um pode conseguir, há que haver um cuidado especial na destrinça dos conteúdos que nos são oferecidos, nos serviços, na “embalagem” que supostamente enaltece esses conteúdos e esses serviços. Essa destrinça revela-se, cada vez mais, uma tarefa tão complicada quanto necessária.
Daí que, marcar presença num fórum como aquele que o André Leonardo “fornece” de bom grado à sua terra tem, a meu ver, duas consequências imediatas. Primeiro, desperta-nos a capacidade de elogiar com substância, que tão adormecida está, porque hoje tudo é “muito bom” e “espetacular”. E segundo, porque nos inspira verdadeiramente, sendo generalizado o sentimento, após aquelas horas de partilha próxima e intensa, de que “eu também sou capaz”.
E é essa, precisamente, a premissa-base do “Faz Acontecer”, um movimento como tantos outros, mas que adotamos de forma corrente, porque é de um rapaz cá da terra, que também foi capaz, e que há anos nos mostra exemplos concretos de que o sonho não é apenas para perseguir, mas para concretizar.
Ora, tudo isso é muito bonito, mas os tempos estão difíceis, “e só quem tem padrinhos é que se batiza”, dirão muitos. E estarão cobertos de razão, exceto se nem sequer tentaram. Se nem sequer observaram as motivações da sua vontade – se é que as têm… -, se nem sequer mediaram o desafio de se superarem, ou sequer observaram a distância que os separa da mesa do café para o terreno…
Vai daí, ouvir e sentir a comovente história do João da Silva; entender a motivação de amor familiar do Miguel Ferreira Pinto; acompanhar o crescimento pessoal do Tarantini – que, felizmente, já não marca golos ao meu FCP… -; perceber o sonho local do Jorge Pessoa; descobrir a dimensão social real do que criou o Sérgio Nascimento; acalentar simples esperança com a Sandra Ribeiro; reacender as obrigações de cada um com Isabel Jonet; redescobrir as noções do alento com a Sofia Castro Fernandes; e encerrar em beleza com a corrosão inteligente de Jorge Sequeira, foram momentos que nos fizeram bem. E a vida anda tão precisada deles.
Juntou-se a isso um orgulho visível do anfitrião de serviço, cuja vida também mudou muito entre estas últimas edições do seu evento, que até se emocionou – quem nunca?… -, e que desta feita fez reverter a esgotada bilheteira – mais o que se angariou em generosos leilões – para o Núcleo Regional dos Açores da Liga Portuguesa Contra o Cancro, uma entidade que a todos diz respeito. Parabéns!
PS-Como de outras vezes, e em diversos eventos, estive no Auditório sempre na dúvida entre gravar três ou quatro sons e fazer uma peça para o RCA, ou assimilar o melhor da tarde para depois escrever sobre a experiência, interrompendo a irregularidade das minhas crónicas, que todos os anos pretendo sejam semanais. Como aqui se vê, optei pela segunda hipótese. E assim também me superei um bocadinho…
...a lua sobre a sempre acolhedora Santa Cruz, onde a minha tensão baixa por sistema, serenando, como apenas em lugares que nos fazem bem
Para quem ainda não viu, o Especial "O Tal Canal 40 anos", emitido a semana passada pela RTP1 onde, com o brilhantismo que o caracteriza, Herman José recorda todo o processo criativo de um programa que mudou o humor em Portugal.
Pelo meio, partilha vários passos dos quase 50 anos de uma carreira fulgurante. A não perder!
Na passada semana foi novamente beliscada – pelo PAN, partido democraticamente eleito e, como tal, com direito às suas posições e projetos – a continuidade da Festa Brava nos Açores, mesmo se o episódio nem galgou as barreiras do Parlamento regional.
Pese embora o chumbo redondo que teve a iniciativa daquele partido político, é sempre tempo de aproveitarmos estas alturas para pensar na manutenção e no fortalecimento das nossas tradições. Mas fazendo-o de forma séria, não-populista e assente nas vontades do povo. Que tradições sem gente, s(er)ão apenas memórias.
Sempre que ouço falar sobre Tauromaquia, e sendo que há muito a temática central tem a ver com vontades políticas de cessar aquela atividade artística, e bem menos com as formas de a valorizar e manter, fico sempre com a sensação da falta de destaque dado ao elemento central de toda a ação: O toiro bravo.
De facto, é devida à existência desse fabuloso e nobre animal, porventura um dos mais belos da Criação, que nasceu a vontade dos homens em combatê-lo sob várias vertentes de arte, que os tempos guardaram como toureio, nas suas diferentes sortes.
Tudo isso faz parte de uma atividade, abrangente como poucas, imersa em princípios e significados, com diversas tendências e leituras, capaz de inspirar artistas, de catapultar vontades e, acima de tudo, de criar emoções. E essas, só existem porque existe o toiro bravo. Ele é o elo comum a todas essas condições, no redondel, na rua ou até nos pastos e na lezíria.
Mas voltemos à realidade taurina que se vive nestas ilhas, e que, efetivamente, encerrou em 2023 assistências quase inéditas – nas praças de toiros – e uma imensa participação – nas ruas e arraiais -, provando que se mantém como uma verdade vincada nos costumes das localidades que a acolhem mas, lá está, também despertando a curiosidade dos que nos visitam. Mesmo se, por vezes, há a tentação comercial de as esconder para turista-não-ver…
Há uns tempos largos, escrevi algo semelhante a “pior que um anti-taurino, é um mau aficionado”. E, se conheço vários anti-taurinos – cuja opinião e escolha, pois é disso que se trata, naturalmente respeito -, também me lembro assim de memória de muita gente, até ligada à Festa Brava, que não só a defende mal, como cria condições para que os múltiplos ataques que a mesma sofre ganhem fulgor.
Mas isso acontece em imensas áreas, pelo que também naquela emocionante e apaixonante arte deve reinar o equilíbrio, assim como o conhecimento, porque quem não sabe sobre o que fala dificilmente creditará algum avanço positivo ao assunto.
Também já opinei que, no dia em que a Tauromaquia se resumir a um contar de votos entre o “sim” e o “não”, também os partidos políticos se vergarão à vontade popular, se isso lhes trouxer reforço eleitoral e proximidade ao poder. Uma realidade que também é transversal, pelo que espero já não andar por cá nessa altura.
Em suma, e mais do que esgrimir argumentos a favor das Touradas, volto aqui a destacar o mote da Festa Brava, aquele que leva milhares de pessoas a abeirarem as paredes dos pastos ou as vedações das herdades, apenas para o apreciar. Uma vez mais, o toiro bravo. Esse sim, deve ser o centro da discussão, para que se possa facultar-lhe uma vida ainda mais regalada e digna, e para que cumpra o desígnio da sua existência com o máximo vigor.
A Festa Brava não está em risco premente nos Açores, embora o esteja noutras paragens. Mas é essencial que a tratemos com a devoção devida, primando pela qualidade e pelo ensino, firmando valores e afastando-a do puro mercantilismo. Porque nisso, o deve e o haver das nossas bonitas paragens ainda dão cartas, cabendo à afición manter tal nível…
Sou, desde sempre, um insuspeito consumidor dos conteúdos do "Porto Canal", muito mais que uma estação televisiva de um clube desportivo - no caso, o Futebol Clube do Porto, de que também sou fervoroso adepto -, mas antes um verdadeiro canal de gentes, que mostra uma região e uma cidade de forma ímpar, até porque o que menos vejo da sua grelha são, precisamente, os programas de comentário desportivo. Opção que estendo a todos os outros canais, nas curtíssimas horas de que ainda vou dedicando à forma tradicional do pequeno écran.
De entre os vários conteúdos locais, que também me vão permitindo revisitar um Porto de que tenho, diariamente, saudades, tenho de destacar tudo que leve o selo "Joel Cleto". Sou apreciador, também desde a primeira hora, da maneira simplificada como o historiador e arqueólogo dá a conhecer os meandros históricos, os sítios, as razões e a evolução dos tempos. "Caminhos da História" penso que é o seu programa mais recente, e talvez ainda em rodagem, um formato que vai desdobrando o Grande Porto, e até o norte do país, em imensas razões para sermos muito mais curiosos sobre as nossas origens e sobre o que nos vai passando aqui ao lado, na carruagem alada do desconhecimento.
Com um discurso fluente, ar simpático e aquele passinho miúdo próprio com que se desloca entre-takes, Joel Cleto merece todas as distinções de que já foi alvo, assim como o aplauso popular, por fazer o mais difícil com o que é ciência e saber, chegar a toda a gente. Fá-lo com talento e é sempre um gosto ver mais um episódio. Faz agora uns oito aninhos, visitei pela única vez o Museu do Dragão, no magnífico Estádio com o mesmo nome. Calhou que era dia de uma vista guiada, precisamente por Joel Cleto, que deu um brilho diferente a um, já de si, glorioso percurso de recordações. Trocámos breves palavras, não houve selfies, mas saí de lá mais rico e feliz. O homem tem, também, essa capacidade de boa disposição em modo de aprendizagem. Bem haja.