A primeira Marcha
Em junho de 1993, tinha 18 anos e, neste tempo de Sanjoaninas, preparava-me para entrar pela primeira vez numa Marcha. E logo na Marcha Oficial das festas, que acompanhava o tema geral “Angra a Descobrir” – “Minha Angra à descoberta, em manhã de São João”…lembram-se? -, com letra do Álamo Oliveira e música do Carlos Alberto Moniz.
Sem me expor em demasia, era um jovem (muito) angrense, bastante tímido, mas confiante nas suas capacidades atléticas para dançar, e com a certeza de que conseguia cantar sem problemas o bonito tema, sobre o qual ensaiamos durante várias semanas, orientados pela Paula Moniz e pelo José Henrique Garcia.
As Sanjoaninas de então eram diferentes – mesmo se não mudou o cheiro misturado a pipocas e algodão doce quando se desce à cidade pelo lado da Rua do Galo -, menores em dimensão e totalmente vividas no casco histórico de Angra, onde as noitadas finalizavam num sobrelotado Cais onde, imagine-se, no resto do ano se estacionavam carros quase até caírem à água.
Mas voltemos à Marcha, a primeira de várias em que “saí” – sair usa-se por cá em muitas ocasiões, significando o mesmo que “entrar” em… -, todas elas com assinatura artística igual, com a companhia de dezenas de pessoas e centenas de sorrisos, diferentes ensaiadores, roupas de todas as cores, filarmónicas diversas, mas sempre um mote comum: a alegria, razão-mor destas festas e desta gente.
Nessa já distante estreia – é verdade, já se passaram 30 anos -, era natural o nervosismo, que ainda hoje subsiste, na forma mais saudável que aquela condição pode ter, até porque íamos desfilar duas vezes, e a segunda já tarde e de alma bem acesa pela diversão…
O bombo soou, e lá nos lançamos – “quinhentista, porta aberta, sobre o mar do coração”…lembram-se? – Rua da Sé abaixo, com a emoção nos píncaros e um orgulho que só quem “sai” na Marcha é que conhece.
Como sempre, estava no grupo de trás – passar o metro e oitenta tem destas coisas… -, e havia uma “serpentina” no refrão – que tem uma história gira, porque a letra original era diferente, mas adiante… - em que fechávamos a coreografia. Na passadeira do Lusitânia, senti um puxão…o meu par – a Bé -, escorregara e chegou mesmo a cair. Puxei-a com tanta força, que acho só voltei a sentir o braço na Rua de São João. O que nos rimos à conta disso, e quantas vezes já contei o episódio. Até à Praça Velha tudo fluiu, de mãos dadas com a alegria.
“Sair” numa Marcha, nas Sanjoaninas de Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira, aqui no meio do mar, é uma delícia. Mas daquelas que, como qualquer iguaria, se podem adorar ou não. Afinal, na vida, há gostos para tudo. Depois de umas temporadas de paragem forçada, encontrei no grupo dos Veteranos essa alegria e esse gosto. Os autores de letra e música têm sido os mesmos Mestres do nosso São João, impondo-nos um respeito grande na defesa das suas obras. Que são depois nossas pela eternidade. O santo padroeiro deste sorrisos e folguedos assim o quer, e nós cumprimos. Desde a primeira Marcha até hoje…mesmo que esteja de chuva, que seja madrugada alta, ou que ninguém se entenda na melhor forma de organizar um desfile para todos.
Boas festas, na cidade das descobertas…