"Louco Mau", ontem, no Cais da Alfândega. Numa noite fria e chuvosa, aquecemos os corações com a música do nosso amigo Leão, que revistou temas de outros tempos e outras bandas, sempre impecavelmente acompanhado pelo Joãozinho, pelo Artur e pelo Zé, que se divertem à grande no palco. E isso sente-se cá em baixo. O Leão é um dos músicos com mais história no atual panorama terceirense, e até açoriano. E quando quero elogiá-lo vou falar com ele. Hoje é por aqui, pela dedicação, pela pachorra, por defender a sua arte, e por ter talento. Há quem o reconheça, e há quem não perceba nada de música. Permitam-me ser desses dois grupos. Foi o Leão!
Um milhão de passageiros transportados pela SATA em 2023. O ano passado, esse número foi alcançado a 3 de agosto. Este ano, foi a 30 de junho. Por muito que isso irrite tanta gente...os números - também aqui - são soberanos
Não há como uma semana de Festas para recordarmos a vida toda. Os reecontros e as memórias aparecem de surpresa, entre dois brindes e uma rodela de linguiça, entre um concerto e uma madrugada. Em tempo de folias, aqui fica um texto que estava começado há um ano. E que é datado por geração, embora adotando uma realidade nova, afinal todos temos gente que nos influencia.
Por alturas de São João, em dias de música e folguedos, é inevitável valorizar a criação artística, e os quatro senhores que se seguem, especialmente para o povo da minha idade, despertam e despertaram emoções. Uma arte que a nem todos assiste…daí a minha singela lembrança.
Álamo Oliveira – O poeta das Marchas, o autor ilhéu por excelência, cuja prosa e musicalidade nas palavras se misturam nas rimas que nos fizeram crescer. O Álamo Oliveira é muito mais do que uma letra que se canta e dança na festa, é uma profundidade que nos faz entender o ser açoriano, o ser desta terra. O autor de Missa Terra Lavrada está presente em muitas das nossas frases sentidas…
Carlos Alberto Moniz – O artesão das Marchas, o compositor de uma alegria que invade Angra a cada final de junho. E há décadas que assim é. Musicou as palavras de Álamo Oliveira com a ligeireza dos brilhantes, adoçando-lhes ainda mais o timbre. Criou uma tendência, que passou a ser a regra. Mas o Carlos Alberto Moniz transcende as Marchas, assinando uma carreira nacional e internacional, que levou mais longe estas ilhas…
Zeca Medeiros – Músico, realizador, feitor de sons e imagens que nos povoam o crescimento, que nos associam aos grandes escritores, que nos despertam uma melancolia própria. Do que somos nestes torrões da maresia, nestas pedras onde o vento bate descarado. Dos Xailes Negros e Balada do Atlântico, ao Feiticeiro do Vento e Mau Tempo no Canal, Zeca Medeiros é oceano e tempestade nos nossos corações…
Luís Gil Bettencourt – O miúdo que cresceu com o Rock, que descobriu a América, e que depois de perseguir o sonho, meteu-o na mala e regressou, ciente de que era por aqui que se iria fazer o músico e o promotor que faltavam à terra de partida. E assim tem sido, de facto, porque o Luís Bettencourt dedilha novidade e surpresas. Tanto que já o aguardávamos nos intervalos da televisão, ainda sem saber bem o que ali estava…
Perfeitamente chocantes as notícias - que nem são só de agora, embora lhes associem atualidade plena - sobre o fabrico, a venda e o consumo de drogas sintéticas nos Açores. Sempre associei o consumo de estupefacientes a falhas estruturais e necessidades de afirmação. Mas esta realidade ultrapassa tudo. Só uma mente vazia anseia contatar com substâncias venenosas e desconhecidas. Nunca entendi essa atração, e ainda mais me custa perceber o frio na alma que leva a tais abismos. Não aceito qualquer perdão para quem produz e provoca estes destinos de morte. Sendo assustadora esta mutilação das gerações...
Chamam-se "Louco Mau", e são o atual projeto do meu amigo e compadre Agostinho Leão. Amanhã, no Cais da Alfândega, para além dos originais da banda, vão revisitar "Faz de Conta", "Goma" e "Os Sobredotados", projetos anteriores do músico, com outras formações. Apareçam. Foi o Leão!
Bem sei que as Sanjoaninas ainda decorrem - e bem -, mas já será tempo de pensar em como "descalçar" a bota das Marchas para 2024. E seguintes. Numa partilha muito breve - ou não -, penso que tem de haver outro tipo de regras, mesmo se é a vontade popular que cria e põe Marchas na rua. Mas, a este ritmo, e com a prevalência de grupos de fora da ilha, daqui a uns tempos são 50 Marchas... e aí, nem em dois dias, que é opção que não acompanho. Assim como não tenho a solução mágica, mas deve haver um limite. Possivelmente fazer prevalecer a antiguidade e a continuidade, assim como acho que o Desfile devia começar às 20h00, pois a cidade já está - mais que - cheia a essa hora. O ideal era que terminasse por volta das 2h30/3h00, de forma a que a festa que se segue tenha lugar para toda a gente...Estes são os pressupostos, agora quem ganha para isso que resolva a contenda
Corrida de brio e emoções, ontem na abertura da Feira de São João 2023, e no dia das Bodas de Ouro do Grupo de Forcados Amadores da Tertúlia Tauromáquica Terceirense. valentes, um Cabo do grupo que mostrou o porquê da sua liderança e consistência, um cavaleiro da terra a mostrar-se igual aos melhores, e um curro a pedir contas e risco. O gosto desta terra pela Festa Brava viu-se na praça cheia, como há 23 anos não acontecia. Chama-se amor à causa, e contra isso não há populismos que vençam. Falta o resto, que há-de vir...
Em junho de 1993, tinha 18 anos e, neste tempo de Sanjoaninas, preparava-me para entrar pela primeira vez numa Marcha. E logo na Marcha Oficial das festas, que acompanhava o tema geral “Angra a Descobrir” – “Minha Angra à descoberta, em manhã de São João”…lembram-se? -, com letra do Álamo Oliveira e música do Carlos Alberto Moniz.
Sem me expor em demasia, era um jovem (muito) angrense, bastante tímido, mas confiante nas suas capacidades atléticas para dançar, e com a certeza de que conseguia cantar sem problemas o bonito tema, sobre o qual ensaiamos durante várias semanas, orientados pela Paula Moniz e pelo José Henrique Garcia.
As Sanjoaninas de então eram diferentes – mesmo se não mudou o cheiro misturado a pipocas e algodão doce quando se desce à cidade pelo lado da Rua do Galo -, menores em dimensão e totalmente vividas no casco histórico de Angra, onde as noitadas finalizavam num sobrelotado Cais onde, imagine-se, no resto do ano se estacionavam carros quase até caírem à água.
Mas voltemos à Marcha, a primeira de várias em que “saí” – sair usa-se por cá em muitas ocasiões, significando o mesmo que “entrar” em… -, todas elas com assinatura artística igual, com a companhia de dezenas de pessoas e centenas de sorrisos, diferentes ensaiadores, roupas de todas as cores, filarmónicas diversas, mas sempre um mote comum: a alegria, razão-mor destas festas e desta gente.
Nessa já distante estreia – é verdade, já se passaram 30 anos -, era natural o nervosismo, que ainda hoje subsiste, na forma mais saudável que aquela condição pode ter, até porque íamos desfilar duas vezes, e a segunda já tarde e de alma bem acesa pela diversão…
O bombo soou, e lá nos lançamos – “quinhentista, porta aberta, sobre o mar do coração”…lembram-se? – Rua da Sé abaixo, com a emoção nos píncaros e um orgulho que só quem “sai” na Marcha é que conhece.
Como sempre, estava no grupo de trás – passar o metro e oitenta tem destas coisas… -, e havia uma “serpentina” no refrão – que tem uma história gira, porque a letra original era diferente, mas adiante… - em que fechávamos a coreografia. Na passadeira do Lusitânia, senti um puxão…o meu par – a Bé -, escorregara e chegou mesmo a cair. Puxei-a com tanta força, que acho só voltei a sentir o braço na Rua de São João. O que nos rimos à conta disso, e quantas vezes já contei o episódio. Até à Praça Velha tudo fluiu, de mãos dadas com a alegria.
“Sair” numa Marcha, nas Sanjoaninas de Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira, aqui no meio do mar, é uma delícia. Mas daquelas que, como qualquer iguaria, se podem adorar ou não. Afinal, na vida, há gostos para tudo. Depois de umas temporadas de paragem forçada, encontrei no grupo dos Veteranos essa alegria e esse gosto. Os autores de letra e música têm sido os mesmos Mestres do nosso São João, impondo-nos um respeito grande na defesa das suas obras. Que são depois nossas pela eternidade. O santo padroeiro deste sorrisos e folguedos assim o quer, e nós cumprimos. Desde a primeira Marcha até hoje…mesmo que esteja de chuva, que seja madrugada alta, ou que ninguém se entenda na melhor forma de organizar um desfile para todos.