2020 tem sido um ano que nos apetece apagar do calendário da vida. Os tropeções do destino contrastam claramente com as expetativas que se tinham criado para estes 365 dias, que estão prestes a acabar. Mas eis que chegou o Natal, e há que esboçar um sorriso, amarelo que seja, para não destoar das luzes na rua…
Estes dias em redor da Consoada, que já antes se tinham tornado numa obrigação consumista, deixam-nos de pé atrás sobre o que aí vem. Confesso que tive de recorrer à voz maravilhosa de Michael Bublé para me imbuir de algum espírito natalício. E não está a ser, de todo, fácil.
O ano da pandemia está quase a fechar, mas a ansiedade que este terror global nos fez criar não larga a porta. Por muito otimistas que sejamos, acredito que há preocupação em cada casa e em cada mesa. Por este mês e pelos que se avizinham, afinal o mal de todos é precisamente o que devíamos atenuar na época festiva.
Assim sendo, alinhavar alguns parágrafos à roda do nascimento do Messias torna-se uma tarefa árdua. Se o tom for de doces e prendas, com luzinhas a piscar e alguma alegria. Daí que descer de crónica a carta foi uma hipótese, a que se seguiu a queda a recado – que até acho já usei noutra quadra homóloga -, e daí à mutação para bilhetinho. Com letra apertada e sem assinatura legível…
Passemos aos factos e vamos a dar graça ao contexto, afinal há miúdos a ver, comerciantes ávidos de visitas e autarcas em grande esforço para minimizar a crise. Façamos, pois, o nosso papel de cidadãos ativos em prol de uma comunidade mais aliviada.
O papel garrido e um laço bem feito podem até servir para embrulhar estes doze meses com labor e entrega. Não os vão fazer brilhantes, mas quedemo-nos pelo alento de que, daqui até ao Natal que vem, os sorrisos terão maiores garantias de aceitação.
Assim, e nestas horas de partilha, família e algum engenho nas contas para fazer a felicidade surgir, aproveitemo-nos com gosto. Saudemo-nos na mensagem da fraternidade e da razão. Sem engulhos, sem falsos encómios, apenas e tão só a pensar no próximo. E no quanto lhe podemos ser úteis, se a boa vontade prevalecer.
Diz-se que é nas grandes crises que surgem as grandes oportunidades. Concordo quase em pleno, até porque na vida também as fatalidades nos abrem os olhos. A passar o maior desgosto que alguma vez pensei, senti ter crescido de uma forma desmedida, de repente e sem chão. Mas o flutuar é efémero, assim como a tristeza o deve ser.
Pelo que o bilhetinho fecha, já quase sem folha disponível, com um desejo sincero de um Natal tranquilo. E de boas novas, na mira do amor. Afinal, é ele que nos alimenta a alma…
PS – A imagem que ilustra esta crónica natalícia mostra peças feitas pelo meu amigo Miguel Oliveira. Criações originais que vale bem a pena conhecer.