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PORTO DAS PIPAS

miguel sousa azevedo - terceira - açores

PORTO DAS PIPAS

miguel sousa azevedo - terceira - açores

29.Nov.20

Saudades

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Acho que há bocadinho passaram três semanas, Mãe. O alívio inicial, por ter cessado a tua luta desigual, passou a um enorme vazio no coração. Diz-me um amigo que esse vazio se vai encher de coisas boas. Acredito que sim. Contudo, tenho remoido feridas, da mesma forma que beijo recordações.
Que saudades de ti, Aldinha.

 

28.Nov.20

Bom senso (40)

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O cidadão comum - bastas vezes desinformado e outras tantas tendencioso - continua a achar que cabe aos governantes legislarem e decidirem todos os passos corretos em tempo de pandemia, furtando-se os próprios às suas responsabilidades. Enquanto assim for, isto não passa. Mas é que não passa mesmo.

 

 

28.Nov.20

Adeus, nosso José

Foto Cronica 120DI NOV20 - Adeus nosso José.jpg

Faleceu na quinta feira o José Greta. Era o único dos Filósofos da Rua - retratados por Augusto Gomes - ainda vivo, “um indivíduo alto, na casa dos trinta, cabelo sal e pimenta, falar afeminado e andando com requebros andaluzes”, assim o definiu o conhecido escritor por tempos dos anos 80.

O José foi marca habitual das ruas da cidade de Angra até há cerca de uma década. Uma pessoa querida e que sempre se soube comportar, dizia-se. E era mesmo assim.

Homossexual assumido e resolvido, serviu muitas empresas e famílias desta terra, fazendo limpezas e recados, granjeando confiança e respeito. Porque o José era como era, e todos o acarinhavam, salvo alguns episódios menos alegres que, como o próprio contava, “se resolveram por si”.

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Das atitudes altruístas que lhe conhecíamos, àquela forma meio-atrevida de agir, o José juntava uma bondade que era mesmo dele, que transbordava o “boneco” popular, e quase fazia conhecer o homem que há muito virara os 70 anos, e que fazia parte do nosso trivial.

Há uns bons anos, aportou ao Lar de Idosos da Santa Casa da Misericórdia de Angra. Passado algum tempo, foi-lhe atribuída uma casa de habitação social. O José não se deu, não queria viver só, e regressou ao convívio dos mais idosos, fazendo aqui e acolá algumas voltas. Sempre que descia ao centro da cidade, era bem recebido e retribuía com educação.

Conheci-o em 1997, quando integrei a comissão da Tourada dos Estudantes. Mandava a praxe que se oferecesse um bilhete ao “nosso” José, como então percebi seria forma de o tratar. A uns dias do Domingo Gordo, ele abordou-nos e pediu mais um bilhete “para o sobrinho, e outro para a sobrinha…”, o que o presidente da comissão recusou, e a que eu reagi rasgando logo do bloco 4 ou 5 ingressos, que ofereci ao bom do José. Ele apenas disse - sobre o então presidente -: “não gosto dele” e, virando-se para mim, “muito obrigado, e tudo de bom para ti”. Desde então, o respeito e o cumprimento ordeiro não mais cessaram, e percebi que ali estava uma pessoa, sofrida na vida, mas com virtudes que fui conhecendo pelos anos.

Neste 2020 atípico e de más memórias, têm desaparecido figuras de proa, dos mais variados setores. Pois o nosso José era bem do povo. Que dele já sentia falta pela prolongada ausência, e que agora o viu partir.

Esperemos tenha um santo descanso. Adeus, nosso José.

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25.Nov.20

O triunfo das bestas

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Assinala-se hoje o Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres, uma efeméride que confirma a escassa evolução cultural e social do nosso mundo. O ideal seria que esse pressuposto fosse coisa do passado, mas está ativo e parece que a tendência é crescente, embora haja estatísticas amaciadas e imensos recursos para o socorro. Em suma, os homens que agridem mulheres - é disso que se trata - são umas bestas. E os restantes dias do ano cunham o triunfo dessas bestas...

 

24.Nov.20

Chá

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Quem não bebeu chá em pequeno - e pequeno se mantém -, bem pode dar avales para que se comprem toneladas. Vai sempre faltar-lhe a classe da infusão.

 

 

21.Nov.20

All in the Family

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20 episódios da segunda temporada repostos na RTP-Memória. Não perdi um que fosse.

Devo estar a um pequeno passo de me tornar um perigoso fascista chauvinista... 🙂

 

20.Nov.20

Jogar ao sério

Foto Cronica 119DI NOV20 - Jogar ao sério.jpg

Jogar “ao sério” é uma atividade que muitos terão exercido durante a infância, ou mesmo a adolescência. A brincadeira, entre duas pessoas, consiste em olhar fixamente o parceiro, perdendo a disputa o que se rir primeiro. Haverá ainda as variantes de não pestanejar, não falar ou não desviar o olhar, como fronteiras para a derrota, mas, para campeões como eu, fixemo-nos – já que é esse um dos motes da coisa – na capacidade de não rir. Embora fazendo sempre com que o outro se “escangalhe”…

Não sendo uma modalidade desportiva, jgar “ao sério” é uma longínqua memória que, só passado muito tempo, percebi ser um muito eficaz teste à nossa personalidade. A mesma que, penso, tendo traços básicos de nascença, também evolui pela vida fora. Não sei é se sempre no melhor sentido.

Que me lembre, e para além das rijas batalhas com uma prima quase da minha idade, saí vitorioso em todas as disputas do joguinho que hoje resolvi recordar. E não tenho em vista grandes dificuldades vividas na ultrapassagem dos adversários de ocasião. Esses sucessos fazem cair por terra qualquer teoria relacionada com frieza ou calculismo associada aos bons desempenhos a jogar “ao sério”.

No fundo, o truque consistiu sempre em sorrir com o olhar, uma opção que hoje em dia bem pode ser utilizada, já que o ar apático e equivalente que as máscaras da pandemia nos oferecem pede mesmo um brilhozinho nos olhos.

Voltando ao jogo, e frisando que nunca fui um competidor acalorado ou obsessivo, o jogo “do sério” era uma tarefa corriqueira. Fixava então o olhar no adversário e, de corpo firme e concentração elevada – outra falha de ação que tenho aos rodos -, iniciava um “namoro” sem sorrir, que resultou em todas as vezes num bem disposto triunfo.

Li algures que essa será uma capacidade que os jogadores de Poker aprendem a aprimorar. Não sei se é mesmo assim, até porque todos os jogos coletivos de cartas me provocam uma estranha urticária. Esses e todos os outros em que temos de pensar muito, prever e ser pacientes. Alinham regras que são o oposto da minha forma de ser. E, sendo opcionais, vou-me dando ao gosto do afastamento.

Mas veio o assunto à baila porque jogar “ao sério” se vai tornando num desafio recorrente, à medida que os anos passam. Na mediatizada e supersónica sociedade dos nossos dias, cada vez menos importa a nossa verdadeira reação, que está cada vez mais concentrada em “emojis” e abreviaturas. O ser humano tende a uma uniformização que assusta, escorregando no rol das modas e frases feitas com uma facilidade estonteante.

Vai daí e até as discussões do dia a dia parecem ser sempre as mesmas, ditadas por redes e interesses que se avistam ao longe, e fazendo com que a própria seriedade – nem tanto a mesma do jogar “ao serio” – seja cada vez mais uma longínqua brincadeira de crianças.

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