![poema.jpg poema.jpg]()
pandemia
o mundo virou-se contra si próprio
numa doença, sem cor, numa agonia
pareceu querer avisar-se, tratar-se, revoltar-se do que via
surgindo em silêncio, atacando sem ver quem
o mal espalhou-se, veloz, obrigando-nos ao bem
golpeando a vida, desafiou-nos, atrevido
passamos a vê-lo incapaz, sem respirar, oprimido
e lembrou-nos de que há beijos, abraços, carinho
coisas vãs, e tão só puras, que não se sentem sozinho
exigiu-nos a partilha, o respeito, o dom alado
quis resposta, imediata, quis-se curado
passou assim a vida a correr a um colo de quarentena
e o amor espreitou, num fulgor, tornando a dor mais amena
porque o mundo virou-se contra si próprio
numa doença, sem cor, numa agonia
pareceu querer avisar-se, tratar-se, revoltar-se do que via
Porto Martins, 12.04.2020