Os Robles desta vida
É o assunto mais presente para a comunicação social portuguesa e, como tantos outros, vai fazendo esquecer os momentos dramáticos que vivem várias categorias profissionais, assim como a crescente maquilhagem que a economia nacional persiste em ostentar. As temáticas demonstram o quão espertalhões parecem ser muitos dos atores políticos deste nosso retângulo à beira mar plantado...e ilhas adjacentes.
Em causa está então um senhor que era vereador do BE na câmara de Lisboa e que, tudo indica, depois de comprar (rapidamente) um prédio - a meias com uma irmã, ao que se sabe uma potencial capitalista... - em zona de valorização crescente da capital do país, resolveu - certamente (mal) influenciado pela dita irmã... - fazer-lhe obras de monta e, posteriormente, terá mesmo posto o imóvel - aqui, de certeza, a ideia foi da tal familiar direta... - à venda, por um valor que multiplicava umas centenas de vezes o investimento feito até então. No fundo, um daqueles negócios que qualquer um de nós gostaria de poder fazer. E, já agora, estamos a falar de um prédio que valerá 5,7 milhões de euros. E que terá tido licenças rápidas de obra e afins, algumas aparentes benesses fiscais e de avaliação, e mais umas linhas de dúvidas instaladas sobre todo o processo.
Acontece que esta verdadeira trama foi iniciada quando o Sr. Robles - ainda não tinha referido o nome do dito político/defensor de causas... - liderava a bancada do BE na Assembleia Municipal lisboeta. Entretanto, e talvez já com as betoneiras a trabalhar, passou a ser vereador da autarquia do Dr. Medina, desenvolvendo sempre aturado trabalho como grande defensor do direito à habitação, e criticando a especulação imobiliária em várias intervenções. No fundo, o Sr. Robles ter-se-á portado como um ativista vegetariano...que se lambuzava com bifes às escondidas. Ou nem sequer isso, foi mesmo às claras e quase que passava despercebido.
Sem esmiuçar em demasia um caso de que se fala - ou que veio a lume - há cerca de duas semanas, também o BE, partido representado pelo Sr. Robles, acabou por se dizer e desdizer, primeiro no apoio ao vereador e depois na descolagem macia às supostas tropelias financeiras do seu destacado militante.
Na verdade, não estão em causa o partido, a ideologia, ou sequer a marca de roupa do Sr. Robles. Está em causa que, despudoradamente, parece que agora se faz mesmo carreira no aproveitamento direto, e para ganhos pessoais, dos lugares públicos ocupados, dos conhecimentos e influências que se adquirem, enfim das posições estratégicas que podem acelerar o atingir da - muito apetecida - riqueza material. O que antes eram "jeitos" e "cunhas" - mais ou menos pela calada manhosa -, é hoje um modo comum de agir. Uma coisa tão natural como existirem regras. Que só o são porque se podem contornar...
Poderá ou não ser esse o princípio orientador da recente vida empresarial do Sr. Robles - e de sua irmã, já me esquecia dela... -, mas tudo indica que o mesmo não será tão inocente e de alma tão lavada como os posts que ia produzindo.
No fundo, o mal que me parece afeta mesmo o mundo, é que já vai havendo mais Robles do que esquinas...