Esgotos e posturas
Ao ler o título desta breve crónica, tem o leitor a liberdade de pensar: "Pronto, lá vem um assessor de imprensa da oposição malhar na Câmara por causa das descargas dos esgotos na baía de Angra". Pois engana-se. O objetivo destas linhas passa bem ao lado dessa intenção, apenas frisando que, efetivamente, a edilidade devia ter tido outra postura, nesse como noutros casos. Ou seja, mais do que falar sobre esgotos, o texto aborda as posturas. Especialmente as posturas dos nossos políticos e governantes, quando em causa pode estar a saúde pública. Como parece mesmo acontecer. Tratando-se, na sua fase mais visível, de um caso passado junto a um areal urbano, quiseram os responsáveis pela autarquia atirar o inerte dominante aos olhos dos utilizadores de espaços públicos como a Prainha, a Marina ou o Porto das Pipas. Não interessam aqui as razões para os ataques de que agora a Câmara é alvo, e que são consequência, como se sabe, das várias descargas de esgotos municipais recentemente verificadas na baía da cidade património. Em causa está o habitual segredinho com que se fazem as coisas, das decisões mais simples às obras de maior envergadura e impacto. No caso da reestruturação em curso da rede municipal de esgotos havia francas possibilidades de o processo correr mal em alguns dias. Por via do tempo de obra e também devido às condições do clima. Pois a opção foi manter o bico calado e, depois de haver problemas, querer calar também o bico a quem denunciou os maus resultados e se indignou com as ditas posturas. As tais dos segredinhos, das vozes baixas, de uma certa maldade escondida, que revela uma suposta superioridade moral, que não pode nem deve existir. Mas que está à vista de todos.
Ainda há dias, pudemos apreciar um especialista na matéria – que até já teve responsabilidades municipais – a dourar a pílula a toda a situação, dizendo que a mesma vai estar resolvida com a nova obra junto à Praça de Toiros, corrigindo um erro dos anos 80. Seria uma boa altura para questionar sobre todo o tempo que passou desde então, mas aí teriam de ser referidos os sufocos financeiros que uma certa – e tresloucada - gestão motivou em Angra. E que deixou os mais recentes executivos completamente asfixiados. E vá-se saber que todas essas diabruras tiveram a assinatura de quem agora manda nas finanças da Região…
Mas voltando à Prainha – que é coisa que ninguém tem feito fisicamente por estes dias –, está visto que há um desagrado e uma desconfiança quase gerais.
Publicamente, e sem mais delongas, até sugiro novas posturas para os nossos políticos e governantes, em situações do género e na hora de convencer os cidadãos da sua visão das coisas: Quando o tema for água de consumo muito boa, é só beberem uns bons copos da torneira, à vista de todos e em praça pública. Quando se tratar de zonas balneares despoluídas, vistam os calções e os maiôs e saltem lá para dentro, às 3 da tarde, nadando alegremente! Por mim, fica resolvido!