Podia aqui alinhar uma série de ideias e opiniões, baseadas em factos, argumentos legais e princípios de intenção, para partilhar a minha leitura sobre o processo eleitoral em curso no Rádio Clube de Angra (RCA), que culminará na Assembleia Geral desta noite, à qual se vão apresentar duas listas. Bem distintas, por sinal. Mas não o faço. A "Voz da Terceira" merece-me bem mais do que isso.

Fundada há quase 71 anos, a estação é um retrato paralelo da história da nossa Região no mundo, em igual período. Mantenho uma ligação sólida àquela casa vai para 22 anos, e é essa ligação que me move na continuidade de contribuir para a causa da Rádio e para a causa do RCA. Elas cruzam-se, e só quem consegue vislumbrar a magia das ondas hertzianas e a sua valência - sempre atual - em passar mensagens, entenderá estes sentimentos. Aliás, foi também por eles que fiz parte da lista que venceu as eleições de janeiro de 2016. Por apenas um voto. E apanhando de surpresa quem assentava em dados adquiridos a forma de gerir aquela nobre instituição. Que se mantinha de saúde, mas sem sorrir à população. Estou em crer que isso mudou um bocadinho...

O RCA é muito mais do que mera politiquice ou palco para combates de ideais, e é muito mais do que um meio para a realização de projetos pessoais. Sendo um clube, com associados e preocupações de vária índole, o RCA tem de ser gerido com base em princípios empresariais. Mas nem por isso deve perder o cunho associativo ou a sua matriz de ponto de encontro, numa cada vez mais fragmentada sociedade.

Arrepiou-me ouvir a entrevista do candidato Paulo Barcelos, e perceber que está a leste do que se tem feito no RCA. Desconfio mesmo que, de entre as pessoas que o acompanham, - pelo menos as que foram contatadas nesse sentido... - poucas saibam sobre o que é dar vida à instituição. Pelo menos para lá das contendas judiciais, e lembrando que partiu de alguns daqueles associados a vontade de vexar a "Voz da Terceira" na barra dos tribunais. Por agora, é esse o seu grande feito. Por isso, duvido mesmo que aquelas pessoas "sejam" do Rádio Clube de Angra...

Porque "ser" do Rádio Clube de Angra é manter o espírito de toda a sua história. É ligar para dar uma novidade. É passar pela sede para saber da casa e das suas gentes. É ouvir a missa e pedir um disco. É ir lá dizer que abriu uma nova empresa. É aceitar sem pestanejar um pedido de colaboração ou o divulgar de um evento. É ter sentido que pelos seus microfones se faz passar emoção...numa notícia, num bailinho de Carnaval, no arranque de uma festa, num jogo de futebol ou num troço de rali. Sempre na busca de mais um retrato, nas horas e horas de diretos efetuados.

"Ser" do Rádio Clube de Angra é aceitar o imenso desafio de dar palavra às cores e aos cheiros, escrevendo em sons os episódios que orgulham quem já vestiu a sua camisola. E isso não se faz por decreto nem por vaidade.

Caberá hoje aos associados da "Voz da Terceira" escolher o futuro próximo de uma das mais valiosas instituições da sua terra. Cabe-lhes hoje saber "ser" do Rádio Clube de Angra.