O "quinto toiro" será socialista?
O título para estas linhas é tudo menos provocador. E passo a explicar porquê...
Em jeito de piada, já afirmei que este domingo a paz social regressa à Ilha Terceira. A verdade, é há poucos que o possam negar, é que o início de mais uma época de touradas à corda - evento que se estende até meados de outubro, por tudo que é lugar desta terra redonda... - cria uma ansiedade enorme. E em toda a população: Os que gostam, os que não gostam, os que não se "importam com isso", os que se incomodam, os que ganham dinheiro com a tradição e os que vão esvaziar os bolsos nas tascas ou fornecer mesas de arromba. A festa dá para todas as leituras e é uma verdadeira democracia, na mais pura utilização do termo. Confesso-me um terceirense convicto nestas coisas dos toiros na rua. Gosto da animação, dos despiques, dos encontros, das mesas, dos passes a preceito. E rio-me baixinho com as invejas, as intrigas e as brigas tolas que as cervejas a mais provocam sem pedir. Gosto de ir às tascas provar as bifanas e os "curtumes", adoro cerveja fresca e boa companhia e, felizmente, tenho em vários arraiais um conjunto de amigos e uma data de portas de entrada franca. Como vai sendo o convívio que daí resulta
E agora vamos ao que motivou a graçola acima indicada. Nos últimos 20 anos, os Açores mudaram imenso. Em quase tudo para melhor, é inegável dizê-lo. O que me assusta e arrepia é que a máquina "oficial" cresceu tanto que, para além de ser visivelmente insustentável, está metida em tudo que é canto da nossa sociedade. E quando escrevo isto, significa mesmo que é no sentido de tomar conta e de controlar. Tanto que me bastará publicar este texto para me apontarem o dedo por discordar do sistema regional em vigor. Como se eu não tivesse esse direito...
Mas também é certo que se tornou um lugar comum - de forma infeliz, acentue-se -, dizer que "fulano é que está bem, recebe o rendimento mínimo", ou que "fulano é que se arranjou, tinha a cunha certa", ou até que "aquele é filho do outro, está visto que o lugar é dele" e que "os presos? esses até têm tv cabo e bilhar, consolam-se". Estes são ditos que já todos ouvimos, e que nem um bom "quinto toiro" pode apagar do nosso dia a dia. Mesmo se "eles recebem o rendimento mínimo e vão torrá-lo para as touradas...e depois têm as assistentes à porta para os ajudar outra vez". A realidade, mesmo debatida com piada e um petisco na mão, é a que nos entra pelos olhos dentro. Mesmo que não a queiramos ver ou aceitar.
Quanto à pergunta formulada a encimar estes parágrafos, tem um não como resposta. Aliás, era corrido o ano de 2008 - ano eleitoral nos Açores, portanto -, quando o então presidente do governo e candidato, Carlos César, foi questionado sobre o "quinto toiro" pela televisão. Desconhecia o termo...e até pensava que se referia à oposição. Estava, salvo erro, numa tourada em São Bento. Afinal, a nomenclatura, que nem precisei de explicar, é recente e está bem mantida dentro de portas...
Este domingo, há três touradas à corda na Terceira. Para maio, estão agendadas 35. Os toiros a correr na rua e a galhofa instalada em cada varanda são a prova de que ninguém é dono disto. Ao menos que as gentes (também) pensem por si...