Fantasia.
Ao segundo dia da Quaresma, espero que José Peseiro já tenha despido a sua fantasia de Lopetegui...
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Ao segundo dia da Quaresma, espero que José Peseiro já tenha despido a sua fantasia de Lopetegui...
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Terminado mais um Carnaval, com a transmissão do 36º Bailinho no Edifício Cultural de São Bento.
Novamente, o Rádio Club de Angra esteve de mãos dadas com a nossa tradição.
Obrigado Tatiana Ourique, Andreia Pimentel, Nélia Martins, Jorge Silva, Ana Evangelho, Eunice Vieira e Miguel Sousa Azevedo pelo empenho nestes quatro dias.
(Foto Fernando Pavão)
(até 2015...)
"É já domingo! Domingo gordo! Domingo barrigudo! A tradicional Garraiada dos Estudantes!", ouve-se, em volume elevado, da varanda onde está instalado o "WC", uma espécie de rádio oficial que, ao mesmo tempo que anuncia a Tourada dos Estudantes - uma tradição carnavalesca que marca o Entrudo angrense há mais de 90 anos - e o espalhafatoso cortejo que a irá anteceder, provoca brincadeiras, criticando quem passa, com piadas e "bocas".
Durante meses, uma comissão formada por quatro elementos, e largas dezenas de outros jovens, construíram, forraram, pintaram e criaram as linhas mestras de um evento onde imperam a crítica mordaz e a boa disposição.
Na Rua da Sé, atrapalhando o trânsito ao final da tarde, um grupo de enérgicos fantasiados distribui o "mortífero" cartaz da Tourada dos Estudantes. Neste, e mantendo uma linha "editorial" com muitas décadas, tudo está descrito e recriado. Dos artistas que vão abrilhantar a Praça de Toiros, aos temas que poderão marcar o referido cortejo. Cavaleiros, bandarilheiros, forcados, pastores e cómicos, muitos cómicos, garantem a festa. Na rua e no redondel, aquela é uma fase que não se dispensa no Carnaval da cidade património. Já todos experimentaram as emoções de lidar as reses bravas, na Tenta, e o espírito da tradição vai-se instalando. Toda a quadra, e as semanas que a antecederam, foi vivida de forma intensa e em torno do grande dia...
(...em 2016)
A pequena Mercês foi à Tenta dos Estudantes, com a sua tia-avó, trajada a rigor e exibindo um cartaz que dizia muito: "Com a minha geração, não morre esta tradição". Porque, afinal, a Tourada dos Estudantes não é um dado adquirido. O dito evento, outrora porta de entrada dos jovens valores no mundo da Tauromaquia, já não é o que era. E o grande rombo ter-se-á dado com o decair da parte séria de um verdadeiro festival taurino, onde coabitavam as regras e as cortesias com a galhofa e as marradas do cenário cómico, a cada Domingo Gordo.
Neste Domingo Gordo não haverá Tourada dos Estudantes e, por incrível que pareça, foi mesmo agora a falta de interesse dos estudantes a motivar essa perda pontual. Pode dizer-se que a postura das gerações é como o paladar, que se vai alterando ao longo da vida, mas neste caso a mudança parece ter sido abrupta, contrariando os anos mais recentes.
Sem se entender muito bem o que afastou os estudantes da quase centenária garraiada, todas as palavras vão sendo de apoio para que a mesma não desapareça. Mas essa é uma vontade que tem de vir dos próprios estudantes, hoje divididos por várias escolas e abertos a outras distrações e passatempos. De qualquer modo, esse é o desejo de muitos, e acredita-se que assim possa ser. O tempo há-de confirmá-lo:
Volta, Tourada dos Estudantes. Mas apenas se for feita justiça à tua História...
Os "Taroleiros de Angra" abrem hoje, pelo 15º ano consecutivo, o Carnaval na cidade património, desfilando pela Rua da Sé, depois de um animado jantar, desta feita marcado para a sede da Recreio dos Artistas.
Nunca deixando de aparecer no início do Entrudo, o grupo contará com 53 figurantes - quase todos com passagem pela saudosa Tourada dos Estudantes -, e vai formar o "Ginásio dos Taroleiros", esperando-se a exibição de destreza e boa forma física por todos os presentes.
A comissão do grupo, formada por César Fonseca, Artur Freitas e Pedro Santos, assegura "um desfile ordeiro e a presença nas várias festas no centro de Angra, abrindo a primeira noite do nosso Carnaval. Os Taroleiros já são uma tradição, e é com felicidade que cumprimos 15 anos de desfiles", referiram.
Fotos:
António Araújo, António Bettencourt, José Maria Botelho,
Paulo Pires, Zé Vitor Toste e Luís Godinho.
Miguel Azevedo participou 10 vezes na Tourada dos Estudantes e vê com tristeza a interrupção da tradição quase centenária. Para além do cortejo com crítica social, realça o papel do festival tauromáquico na renovação dos toureiros locais.
Este ano, não se realiza, em Angra do Heroísmo, a Tourada dos Estudantes, uma tradição de Carnaval com quase um século. Na sua opinião, o que provocou este desfecho? Os alunos perderam o interesse?
O que se verificou este ano foi, essencialmente, a falta de interesse dos estudantes. Podem apontar-se várias razões para que a Tourada dos Estudantes, na sua totalidade, não se realize, mas quando houve apenas 15 inscritos para a mesma poderia estar tudo dito. Recordo que, há não muitos anos, esse número ultrapassava a centena, e havia os "cortes" para selecionar os 60/70 que fariam parte do cortejo e da garraiada. Acho que não se deve dramatizar a situação, mas sim tirar as devidas ilações da mesma. Até porque se fez a Tenta, se deu a Volta à Ilha e, com a ajuda de alguns - infelizmente sempre os mesmos -, até haverá no sábado uma "brincadeira" na Praça de Toiros Ilha Terceira, que evocará a Tourada. Mas a verdade é que, nos últimos anos, as bancadas têm tido sempre as mesmas pessoas - e poucas -, mesmo se o cortejo vinha mantendo um nível engraçado. Acredito é que esta seja apenas uma crise passageira, e que em 2017 haja novamente a festa em todo o seu esplendor.
Uma das alunas que tentava organizar este ano a Tourada dos Estudantes disse a DI que os pais estavam renitentes em deixar os filhos participar. Esta tradição ganhou má imagem nos últimos anos?
Não vejo as coisas assim. Ou então a memória dos pais da nossa terra está muito fraca. Não há casa, especialmente em Angra, onde não haja uma recordação da Tourada dos Estudantes. Ela foi também a porta de entrada no mundo taurino para muitos jovens ao longo de décadas, para lá da sua vertente crítica e cómica, que sei ser, ainda hoje, motivo de tantas e tantas histórias. Claro que houve excessos, e hoje há uma data de problemáticas com os mais jovens, às quais nem se ligava anteriormente. Mas não acredito que o afastamento seja por via dos pais, nem que a Tourada dos Estudantes tenha má imagem. Espero que a vontade da Mariana e dos seus amigos prevaleça nestas novas gerações.
Acredita que ainda será possível recuperar a Tourada dos Estudantes?
Penso que sim. Tenho uma opinião muito própria sobre vários fenómenos da nossa terra, pois a inconstância das gentes ganha terreno de uma forma preocupante. Mas acho que é uma tradição que vai ressurgir, depois desta "escorregadela". Para isso, é preciso recuperar a parte séria da Tourada, com cavaleiro, toureio apeado e as sempre presentes pegas, porque a Tourada dos Estudantes era um pequeno festival, mas com todas as cortesias, e lá nasceram quase todos os nomes grandes da nossa tauromaquia. Ou então, toda a pedagogia criada em torno da Festa Brava falhou no essencial, porque os artistas não se renovaram, com excepção dos forcados. Esse é um ponto essencial. O resto tem a ver com a vontade e a irreverência dos estudantes. Têm de ser eles a perceber que vão acabar com algo que sobreviveu a todo o Estado Novo…esperando que a maioria saiba o que isso foi.
A Tourada dos Estudantes tinha uma vertente de crítica social, com o cortejo realizado na Rua da Sé. O que é que se perde com o seu fim?
Pode perder-se um momento único em cada Carnaval, pois o cortejo espelha vários momentos e factos da nossa terra e da atualidade política e social. Há factos da nossa História que estão relatados nas memórias da Tourada dos Estudantes. A minha dúvida, e estendo isso a outros campos, é se a nossa sociedade ainda sabe criticar. Ou se apenas o faz porque sim, porque faz parte, mas já sem crença de que, efetivamente, a crítica possa mudar alguma coisa. Há uma censura silenciosa presente nas nossas vidas, mas já estou a fugir da temática, e o Entrudo é para sorrir.
A perda deste momento de análise crítica do que se passa na Terceira será um espelho da sociedade atual, que cada vez mais opta por não se pronunciar?
Como referi, não acredito que a Tourada dos Estudantes fique por aqui, e ficaria muito triste se assim acontecesse. Mas temos de ser realistas e dar lugar a quem deve fazer as coisas, se as quiser fazer. Os estudantes e os jovens desta terra têm nas mãos uma tradição quase centenária, que deviam querer manter e acarinhar. Não podem ser os pais, as câmaras ou as empresas a suportar as coisas e a fazer-lhes a "papinha" toda. A iniciativa tem de ser deles, e o que não faltam são pessoas que podem ajudar. Discordo que a solução passe por formar mais uma associação para viver de dinheiros públicos, pois isso é o mesmo que assinar a sentença de morte do que foi a Tourada dos Estudantes desde os anos 20 do século passado. Não queiramos sistematizar o que nunca fez parte de um sistema. Sou contra isso.
Participou várias vezes na Tourada dos Estudantes. Que memórias guarda desses tempos?
Participei dez vezes, diretamente, na Tourada dos Estudantes, Fiz parte da sua comissão organizadora em 1997, e durante vários outros anos ajudei as várias comissões da melhor forma que soube. E já escrevi muito sobre esta tradição. Existem imensas histórias para contar, mas houve uma coisa que aprendi com toda a experiência num evento tão popular e intenso, que é o prazer de partilhar as recordações de uma forma saudável. Tal como o gosto de ficarmos com o nosso nome ligado a algo que fez rir, que criou bons momentos, que solidificou amizades, fez surgir namoros e até casamentos, que marcou decididamente a nossa adolescência e mesmo a idade adulta. Penso que o lado bom das tradições é esse mesmo, e traduz-se no fomento do amor às causas. O resto, tudo que seja forçado e impingido, ou soa a balelas ou vem de quem tem muita necessidade de aparecer. Mesmo se no Carnaval, ninguém leva a mal. Viva a Tourada dos Estudantes!