Quando acaba um ano, é inevitável perspetivar o seguinte, e com isso surgem os habituais propósitos. Muitos dos quais acabam por cair em saco roto, tal e qual as doze passas ingeridas em "click" de Réveillon, ou o apressado gole de espumante, que tantas vezes deita a perder um jantar elaborado e saboroso. Afinal, as pequenas decisões, tomadas de ânimo leve, ou mesmo com um grão na asa, nem sempre têm sequência. Pelo que o melhor, em tempos de ano novo, é mesmo ter muito cuidado com o que se prevê, o que se deseja, e o que se promete...
2015 foi um ano atípico em Portugal, poderá dizer-se. Nem tanto nos Açores, também se poderá avançar. Mas como águas passadas não movem moinhos, e nestas alturas o adágio popular é uma "bengala" e tanto, só nos desperta a curiosidade tudo que haverá a registar nos doze meses em que, desde eleições presidenciais a um terror financeiro instalado, a lusa pátria parece continuar a ter ingredientes de sobra para encher noticiários e colunas de opinião. Nos Açores, nem tanto. Há uma paz latente nas ilhas de bruma, onde só quem vê realmente o fundo dos bolsos cada vez mais nítido sente na pele a realidade. Felizmente, para uma elite criada e alimentada pela eterna onda rosa, a vida corre bem e o erário público parece que vai dando, e sobrando, para o conforto sem temores...
Mas voltemos ao que se aventa como um rol de desejos para 2016. Esperando que o início do ano não continue centrado nos direitos televisivos do futebol - uma guerra de operadoras e valores que já provoca tonturas -, que o novo inquilino de Belém - não o Deus-menino, o presidente mesmo... - seja escolhido à primeira, que o piropo da governação sem vitória não atalhe demasiado pelas vontades populistas e, acima de tudo, que esta terra que recorda descobertas e orgulhos se consiga afirmar como um porto de boa gente. É que, bem vistas as coisas, têm sido mais os escândalos e as ingerências do que os motivos de sorriso sem anedota polémica à mistura.
Arriscaria escrever - e vou fazê-lo, aliás... - que 2016 será um ano sem certezas. Porque elas se têm revelado quase impossíveis de ter. E porque a imaginação corrupta e a instabilidade global parecem formar um palco de excelência para que nem tudo o que pareça...seja, de facto. Mas como sou de boas modas, e não pretendo alimentar discórdias ao nascer de uma nova aurora, fica o desejo sentido de que consigamos fazer destes 366 dias uma passagem de algum agrado e satisfação. Como tudo na vida, cada novo ano é também um desafio. E quando nas pernas já correm 40, começamos a relativizar de outra forma. Feliz 2016. De mentes despertas e olhares firmes, que as ternuras também requerem atenção...