3ª Corrida Feira São João 2014 (Notas)
Mais de ¾ de praça na Monumental Ilha Terceira, num dia típico de ressaca das festas em que Angra esteve sob sol forte e abrigada por um céu azul. Curro completo “Rego Botelho” para a corrida apeada, com duas figuras gradas do toureio mundial e um jovem em ascensão. Audiência à medida das expetativas e a habitual ansiedade sempre que a areia do redondel está riscada a branco. Venham as sortes!
1º Toiro “Cambeante” nº24 495kg
Dois anos e nove meses depois da colhida grave em Saragoça, que lhe inutilizou uma vista, Juan José Padilla recebeu de joelhos, e estudou de forma breve, o primeiro “RB” que lhe coube. Foi o próprio diestro a bandarilhar em dobro, fazendo-o em forma de violino ao segundo par. Duas séries iniciais compostas com a muleta marcaram o ponto alto da lide, face a um toiro que nunca se guardou às sortes. Simulou com arte e teve palmas em Angra, mesmo sem toiro à altura. Ciente disso, Padilla não foi a cumprimentos.
2º Toiro “Portafala” nº18 465kg
Miguel Ángel Perera chegou a Angra com triunfos sucessivos no traje de luces. Como na anterior presença entre nós – em 2010, quando triunfou -, destacou-se pela fleuma com que toureia. Mas também faltou toiro ao homem de Puebla del Prior. No capote houve lances de alguma beleza plástica, e conseguiu bons momentos também com a muleta, mas mesmo esses escassearam. Deixou esperança para o quinto da tarde. Presença solidária de Juan Leal, com um vistoso quite a meio da lide.
3º Toiro “Ocurrente” nº9 505kg
Juan Leal em praça, a subir o tom da tarde. Eficaz no capote a abrir o confronto, o jovem artista nascido em Nimes esteve toureiro em toda a lide. Foi expedito a chegar-se ao toiro, e colocou risco em várias passagens, com o “RB” que lhe coube a humilhar bastas vezes a preceito. Primeiro par para o terceirense Diogo Coelho, nas bandarilhas. Juan Leal seguiu com toureio afoito e a entusiasmar o público. Que nem sempre esteve à altura este domingo, sublinhe-se. Lidou para vencer, face a um hastado enganador, mas bravo.
4º Toiro “Zarito” nº17 435kg
Início de lide excessivamente rápido de Juan José Padilla, face ao toiro mais leve e corrediço do cartel. Capote a despachar e tércio de bandarilhas sem fulgor. Na muleta, o toureiro de Jerez de La Frontera aplicou-se, mas teve de levar o toiro a médios para tirar algo dele. Padilla repetiu muletazos em corrida, simulou a morte e saiu sem glória. Pouco acrescentou à feira, para lá da sua superação pessoal ao infortúnio de 2011, uma atitude que as hostes vivem em pleno. E Angra não foi exceção.
5º Toiro “Ostra” nº26 480kg
Miguel Ángel Perera decidido a fazer fé do seu espólio recente de atuações. Seguro nos lances de capote, Perera confirmou-se na elegância, firmando a muleta nos seus sucessivos movimentos, correndo o redondel ao ritmo a que mandam os livros. Sem material para mais frisson, sublinhou a sua técnica de modo natural e fluido, mas acabou colhido sem consequências, fruto desse arriscar face à passividade do toiro.
6º Toiro “Escandaloso” nº11 460kg
Porta de gaiola com o lance quase consumado para Juan Leal, no último da feira. Novamente com um toureio de pleno risco artístico no capote. Três pares de bandarilhas com selo local – João Pedro Silva e Diogo Coelho – e qualidade, especialmente o último d’ “O Açoriano”. Juan Leal ajoelhou-se na muleta e carimbou uma presença forte, em que foi também obreiro o “RB” da sua lide. A luta na arena foi leal e de entrega. Bom toiro e um jovem valor a despontar na alta roda. Fecho da feira a elevar o nível e o primor que faltaram em várias das suas fases. Ovações de pé. As únicas de todo o certame.