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PORTO DAS PIPAS

miguel sousa azevedo - terceira - açores

PORTO DAS PIPAS

miguel sousa azevedo - terceira - açores

Em jeito de viagem ao passado...

16.11.12, MSA

A dúvida...lá longe.

" Foi na ânsia de saber o que havia para lá do mar que dei os primeiros passos. Nessa altura, toda a ilha parecia o mundo e, depois do horizonte - que via como uma linha de conforto inalcançável... -, somente o prazer da descoberta poderia dar frutos doces e sumarentos. E logo para mim, que tinha viajado pela primeira vez já em regresso. Isso mesmo, a primeira viagem fora uma vinda, não uma ida, fruto de um nascimento lá longe, na metrópole do pós-Abril, onde as enfermeiras cantavam o "Avante" nos corredores da Maternidade. Mas disso não me lembro, estava mais interessado em começar a viver.

Num sintoma de isolamento, pelo menos assim sempre o interpretei, respirar esta ilha a que chamaram de Jesus Cristo - e mesmo se as minhas recordações de catequese encerram discussões de fé... -, passou a ser tão natural como não conhecer mais nada. Se calhar porque nem havia essa curiosidade. O mundo perdia-se para lá do outro lado da rua, e as brincadeiras alternavam com o escondido em casa de inverno e um verão sem mar, mas mais aberto de feição. Parecia que as mudanças tardavam, parecia que as descobertas não passavam na avenida dos vizinhos e sorrisos.

De súbito, numa idade que não tinha número, mas num ano em que o pessegueiro do quintal - plantado a dois de um caroço ainda vivo - apresentou os primeiros presentes, o sol ganhou uma outra cor, o futuro estacionou em frente a casa e o tempo dos porquês terminou sem aviso. Queria explicações e novidades, nada mais de dúvidas e inseguranças, que a barba já quase era sombra e os valores definitivos tinham vindo para ficar… "

E assim prosseguiria, numa partilha ampla das descobertas, das respostas, do conjunto cheio que nos forma as emoções, que nos molda o carácter, que nos faz crescer. Mesmo mais cedo que a melhor previsão. Optei por ficar a meia-haste nessa partilha, como já o fiz com tantos projetos e ideias. Afinal, convém que cada viagem ao passado seja tão incompleta quanto as recordações e as feridas…

 

PS- Vou escrever uma crónica por semana até ao baixar do pano sobre o jornal diário "a UNIÃO". Faltam duas crónicas para a despedida…

Dois anos com "Rock-depois-da-Meia-noite"!

15.11.12, MSA

Os RAM-Rock After Midnight em plena atuação...

(Fotos: Francisco Veloso)

 

Foi no passado sábado, após mais um dia de competição no Centro de Desportos Motorizados da Praia da Vitória, que a banda "RAM - Rock After Midnight" celebrou o seu segundo aniversário, num concerto com a animação do costume e a que não faltou um colorido bolo. Já bem conhecidos no panorama musical da Terceira, os "RAM" têm espalhado a sua qualidade musical um pouco por toda a parte, somando já perto de 70 concertos na bagagem e idas a São Miguel e ao Pico de permeio. União de facto de um conjunto de talentosos executantes, o sucesso tem passado por covers com cunho pessoal e uma energia contagiante em palco. Miguel Sousa (voz), Raul Cardoso (baixo e voz), João Mendes (guitarra e voz), Miguel Soares (bateria) e, mais recentemente, Nuno Fagundes (teclas e voz), proporcionaram uma noite especial (mais um?...), captada atentamente pela objetiva do Francisco Veloso (www.formularali.net), que se virou com labor para os palcos. Por lá passou também a talentosa Maria Bettencourt, pelo que os desejos comuns são de muitas felicidades. E (muitas) grandes atuações, RAM!

Miguel Sousa

Raul Cardoso...

A excelente Maria Bettencourt...

Nuno Fagundes

João Mendes...

E o bolo do 2º aniversário...

Ainda não foi desta!

13.11.12, MSA

Na primeira e fogosa passagem ao percurso...

Foto: Francisco Veloso/www.formularali.net

 

Depois de, no início de janeiro, ter aceite um convite do Lisuarte Mendonça para o acompanhar no fogoso Citröen AX GTi na primeira Super-Especial do Challenge OEC/TAC, eis que apareceu nova hipótese - no passado sábado - de ir para a pista com um piloto que prima pela entrega total, muitas vezes traído pela mecânica, mas que nunca vira a cara à luta. Numa prova muito curta (cerca de 2,5 kms cada PE), beneficiamos do número de partida para encontrar o terreno um pouco mais seco que os primeiros na passagem inicial. Mas não se pense que o traçado estava pera doce, pelo que só voando baixinho estávamos a ser os mais rápidos após duas voltas. Um pequeno excesso e a caixa encravada em primeira impediram melhor que o 8º tempo, a 15,5 segundos da frente, onde penso nos teríamos posicionado. A segunda passagem foi de pouca dura, pois uma transmissão partida nem deixou completar a primeira volta...e ainda não foi desta!

O "Pecado" de Isabel Jonet...

09.11.12, MSA

Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar...

Já tinha lido sobre o assunto durante a tarde, mas só à noite prestei real atenção às repercussões - especialmente nas redes sociais - causadas pelas declarações de Isabel Jonet - a presidente do Banco Alimentar Contra a Fome -, na passada terça-feira durante a "Edição da Noite" da SIC-Notícias. E, há pouco, até "tropecei" numa petição pública que, ao que parece, pretende a demissão da - pelos vistos - endinheirada e altruísta senhora. Que apenas dirige a referida instituição há duas décadas, com os resultados e as ajudas conseguidas que se conhecem.

Ora bem, se calhar eu vir aqui escrever que se deviam arrumar essas petições todas numa gaveta bem fechada e mandar à fava os seus proponentes, assim como aconselhar o fim da hipótese das mesmas serem analisadas em sede própria, poderá ser um desaforo. Mas ler as dezenas de opiniões inóquas sobre a intervenção de alguém que tocou na ferida que os portugueses escondem, irrita-me. Assim como, efetivamente, me irritam muitas das petições vazias que nos inundam os emails e as redes socias. A que referi é um bom exemplo disso, até porque o "pecado" capital da bem arranjada e bem penteada senhora será mesmo a sua origem social que, ao que também parece, a deveria impedir de criticar o novo-riquismo devedor em que caiu o nosso país nos últimos dez ou quinze anos...

O "nosso" José…

08.11.12, MSA

O (bem) conhecido José Greta...

Diz-se que uma boa imagem vale por mil palavras. E o certo é que sempre tive o cuidado de escolher algo que, da melhor forma possível, ilustrasse o que vou escrevendo. No caso desta semana foi mesmo a imagem a motivar a crónica, que partiu de uma das muitas fotografias que fiz durante a recente pré-campanha eleitoral, no caso durante uma visita ao lar de idosos da Santa Casa da Misericórdia de Angra. Propositadamente, tentei captar da melhor forma o rosto marcado e moreno de António Rodrigues Ormonde, bem conhecida figura da nossa praça, onde a alcunha de José “Greta” o popularizou além-arquipélago. Há uns dias, e folheando a última edição (da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, em 1999) do pitoresco livro “Filósofos da Rua”, do já falecido Augusto Gomes, constatei que dos visados na (muito) localizada prosa - e sendo que ainda “apanhei” o António “Bolacheiro” e o José Henrique “Ratinho”… -, apenas está vivo o referido “Greta”, com quem mantenho uma relação de cordialidade, que partiu de um episódio particular.

Em 1997 fui um dos elementos da comissão da tradicional Tourada dos Estudantes e, mandava a praxe, havia que oferecer um bilhete ao “nosso” José, como então percebi seria forma de o tratar. O próprio já se apercebera da repetida dádiva, pelo que a uns dias do Domingo Gordo nos abordou na carrinha do som que anunciava a garraiada. Quando dissemos que tínhamos um bilhete para ele, aproximou-se e, com aquele “quiebro” que também lhe apanha a voz, logo pediu “mais um para o sobrinho, e outro para a sobrinha…”, o que o presidente da comissão recusou, e a que eu reagi rasgando logo do bloco 4 ou 5 ingressos, que ofereci ao bom do José. Ele apenas disse (para o então presidente) “não gosto dele” e, virando-se para mim, “muito obrigado, e tudo de bom para ti”. Desde então, o respeito e o cumprimento ordeiro não mais deixaram de se fazer, e percebi que ali estava uma pessoa, sofrida na vida, mas com virtudes que fui conhecendo pelos anos.

Recordando o que escreveu Augusto Gomes, perante um “Greta” mais novo e de constituição musculada, que era “um indivíduo alto, na casa dos trinta, cabelo sal e pimenta, falar afeminado e andando com requebros andaluzes”, rapidamente se identifica o personagem, hoje marca habitual da nossa cidade, onde sempre foi pessoa querida e onde sempre se soube comportar. Das atitudes altruístas que lhe conhecemos, e àquela forma meio-atrevida de agir, penso que o José junta uma bondade que é mesmo dele, que transborda o “boneco” popular, e que hoje se adivinha num homem que andará em torno dos setenta anos e que faz parte do nosso trivial. E como são as figuras que fazem os sítios, achei por bem deixar-lhe esta lembrança, depois de lhe ter oferecido as referidas fotos, para as quais já pediu que lhe fizessem uma moldura…

 

PS- Vou escrever uma crónica por semana até ao baixar do pano sobre o diário angrense "a UNIÃO". Pensei que faltariam sete semanas mas, face às novas informações, estou afinal a três crónicas da despedida…

Nos Filósofos da Rua, de Augusto Gomes...

(O José "Greta" retratado nos "Filósofos da Rua", de Augusto Gomes) 

"É urgente revitalizar o Campeonato dos Açores de Ralis"

05.11.12, MSA

Foto: Francisco Veloso

 

Depois de cinco títulos consecutivos - e de um domínio quase absoluto - de Ricardo Moura no campeonato açoriano de ralis, longe de qualquer adepto imputar ao também (bi)campeão de Portugal da modalidade alguma culpa pelo quase marasmo a que chegou a competição. A verdade é que, desde 2008 e da altura em que se libertou de amarras rumo a um projeto próprio, Moura capitalizou como nenhum outro piloto açoriano todas as condições e oportunidades. Depois dos ciclos de Horácio Franco, Luís Pimentel, Gustavo Louro e Fernando Peres, a era Moura levou o automobilismo dos Açores a voos nunca antes percorridos. No entanto, é a um campeonato quase moribundo que vamos assistindo - também entre-portas -, e que em 2012 teve apenas cinco equipas a cumpri-lo na sua caríssima totalidade. Para além da análise básica que se poderá fazer à parte competitiva da temporada, onde Moura foi rei e senhor, e os seus colegas de equipa - Ricardo Carmo (2º) e Luís Miguel Rego (3º) - fecharam um pódio inacessível aos restantes, houve infelizmente novo decréscimo na participação generalizada das provas do campeonato, desta feita num ano em que a novidade foi a entrada do Rali do Pico, já confirmado como uma valia de originalidade e qualidade para o calendário. Desde que a entidade federativa (FPAK) obrigou a uma pré-inscrição no campeonato açoriano de ralis, e ainda mais em tempos de notória crise económica, tem sido a quebra participativa um ónus complicado, a que as organizações responderam integrando nas suas provas outras competições, as ditas de ilha ou locais, que ao invés do "ameaçador" roubo de concorrentes ao campeonato principal, vão permitindo que muitos ainda corram, e engrossem agora as listas do evento máximo na região. Nota positiva para o cimentar do campeonato "Open", que permitiu inéditos títulos faialenses a Paulo Nóbrega - também venceu a Taça (?) dos Açores -, assim como referência obrigatória para o domínio solitário de Henrique Moniz nas duas rodas motrizes, categoria onde Carlos Andrade venceu novamente nos 2 litros. Destaque para o continuado caminho internacional do SATA Rali Açores, que infelizmente pouco ou nada contribui para o fortalecimento interno da modalidade, embora seja um espetáculo de grande impacto mediático. De resto, e sem entrar muito mais nas profundezas dos nossos ralis, mas desejando que 2013 traga boas novas aos agora tão unidos clubes, faltam Paulo Maciel, Fernando Meneses, Sérgio Silva, Pedro Vale, Fernando Casanova, Paulo Rego e mais uns quantos para que o campeonato principal volte a ser o que era nos tempos áureos de Franco, Licas, Louro ou mesmo Peres. É urgente revitalizar o Campeonato dos Açores de Ralis.

 

(comentário no "Diário Insular" desta segunda-feira)

No DI de hoje...

Uma farsa dos dias

03.11.12, MSA

Armstrong, um campeão em queda...

A recente queda da estrela maior do ciclismo internacional - e verdadeiro mito da modalidade - Lance Armstrong, pôs-me a pensar na perenidade do que se conquista hoje em dia, especialmente quando em causa estão feitos públicos. Cada vez mais são postas em causa as condições e as intenções de quem quer vencer. Na vida, na estrada, na política, no desporto, em quase toda esta nossa sociedade, que já apelidei como enviesada nos seus princípios. E essa mesma vida vai-me ensinando que assim é, com cada vez mais mediatismo, com culpados e inocentes numa sucessão impressionante, salpicados pelas informações constantes que nos chegam sobre tudo.

A respeito do verdadeiro linchamento a que as instâncias internacionais de combate ao doping vetaram Lance Armstrong - numa sucessão que foi até criticada pelo também campeão Alberto Contador -, culminaram dez anos de acusações do uso de substâncias ilícitas pelo norte-americano, que o mesmo sempre desmentiu. O certo é que, depois de retiradas as sete vitórias na Volta à França - competição que deixará de ter vencedor nos anos em que o portento texano triunfou - e a eminente perda até da medalha olímpica em Sidney'2000, o ciclista deixou de lutar. Exatamente ao contrário do que já fizera face a uma doença oncológica, e nos antípodas do espírito com que fundou a "Livestrong" para tentar debelar sofrimentos e melhorar condições a quem sofre de cancro. Aceitando ou não a derrota final - e quase assinando uma declaração de culpa, que já levou também à retirada de apoios fundamentais, como o da Nike -, Lance caiu num descrédito global que causa tristeza, ligado a um sentimento de engano que não desaparece.

Sempre fui um adepto confesso de Armstrong, como já o fora de Marco Pantani, mesmo sabendo que o ciclismo de alta competição se assemelha a uma experiência química coletiva, onde o fator humano vai perdendo num pelotão quase todo alterado e formatado por transfusões. Cresci ciente de que Ben Johnson - irradiado recordista e campeão olímpico dos 100 metros planos - era um exemplo a não seguir, mas o certo é que, década e meia depois do escândalo que o canadiano protagonizou, a novela dos laboratórios "Balco" matou outros mitos do tartan, entre eles a fabulosa Marion Jones, que nem escapou à prisão. Ou seja, sucede-se uma queda de estrelas que põe em causa a admiração por atletas de exceção, mesmo que a cortina da inocência ainda abane de forma ténue. Noutras áreas, e como a vida também nos prova, fazer batota, furar o esquema ou aldrabar o próximo são coisas que vão fazendo carreira. Sem que os verdadeiros julgamentos aconteçam a tempo e horas. Numa farsa dos dias tão forte como a imagem de Armstrong a erguer os braços a cada vitória confirmada nos Champs-Élysées...

 

PS-O autor vai escrever uma crónica por semana até ao baixar do pano sobre o jornal diário "a UNIÃO". Faltam oito semanas.

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