Foto: Ricardo Laureano/RL photo
A ilha lilás vivia ainda as amarguras do sismo de 1980 quando, por intermédio do então presidente do Terceira Automóvel Clube (TAC), Carlos Soares, se estreitou o contacto com a firma “Monteiro & Zeca” (mais tarde “Açoral”), que representava entre nós o café Sical - marca que viria ainda a marcar presença nas camisolas do Lusitânia, tanto no ciclismo como no futebol - que, em termos de ligação desportiva, iniciaria em 1982 uma junção que não mais teve fim. E “Sical” passou a ser bem mais que uma marca de café para os amantes dos automóveis e da emoção na estrada, passou a ser nome de rali, passou a ser brincadeira de crianças, passou a ser uma referência obrigatória para uma modalidade que singrou como rainha nesta terra de bravos e de coragens.
À frente de um toiro, bailando uma marcha ou ao volante de um carro de ralis, os terceirenses vivem tudo fervorosamente, pelo que este namoro de 30 anos parece ainda jovem e colorido, afinal mudaram-se os tempos, os automóveis, as próprias estruturas das provas e o TAC tornou-se um clube de grande dimensão e prestígio. E, nesse período de tempo, também o “Sical” se afirmou com lotes cada vez mais competitivos e participados, sendo ainda hoje o recordista regional de participações (com várias edições acima das 60 equipas), bem como no número de vitórias por um mesmo piloto, graças aos treze triunfos de Gustavo Louro, o grande ausente da prova deste ano.
Seria exaustivo traçar aqui uma recordação conjunta das 29 edições já corridas de um rali com nome feito, pelo que apenas se poderá avivar a memória de alguns, confirmar o conhecimento de outros, e ensinar aos mais novos que isto dos ralis tem muito (mais) que se lhe diga. Quer em termos económicos, quer na potente valência social de um acontecimento que paralisa uma ilha inteira, sendo observado e apreciado por milhares de adeptos, e participado por mais de uma centena de concorrentes federados, aplicados e logicamente muito saudados desde a berma das rápidas estradas que são leito para as classificativas que lhe foram escrevendo a história. Daí que fiquem para a posteridade a vitória do Citroen Visa Super X – então o carro mais fraco do plantel e com a novidade de um tracção à frente a triunfar… - de Joaquim do Carmo (1982); a luta aziaga entre os VW Golf GTI de João Pedro Freitas e João Gabriel Martins – com este último a celebrar um triunfo que incorria em erro… -, cuja vitória só se encontrou de manhã (1985); o festejo solitário de Manuel Dias – depois de um rali em que era um favorito impensável… - após uma segunda etapa de luxo com o Renault 11 Turbo (1990); o início da “era” Gustavo Louro – com o veloz Renault 5 GT Turbo a vencer na estreia do jovem piloto de apenas 19 anos… (1993) -, que assinaria 12 triunfos consecutivos até ceder à vinda de Fernando Peres para o campeonato açoriano (2005); a vantagem ínfima com que Louro regressou ao primeiro lugar (2006), levando o Subaru Impreza N12 a apenas 9 décimas de segundo de diferença para o segundo da tabela; e a abertura do “ciclo” Ricardo Moura - já depois de Peres ter ganho o “Sical” em duas ocasiões -, este a desembocar numa realidade única para o mais alto do pódio de que, muitas vezes, padecem os campeonatos. Nos Açores, é isso que hoje se vive, sem que tal retire méritos, apenas acrescentando emoção à luta pela segunda posição na estrada, este ano ainda mais enfatizada pela falta de Louro.
Num breve (re)passar de milhares de quilómetros de lutas intensas e bonitas imagens, faltará citar ainda os nomes de Carlos Nunes “Giga” (1983), Tiago Costa (1986), Luís Pimentel (1987), Carlos Alberto Costa (1988), José Eduardo Silva (1989), Carlos Manuel Costa (1992) e Luís Rego (2007) como os restantes vencedores à geral de um rali que, desde 2002, passou ainda ter a companhia esperada dos VSH para, quatro anos depois, também os Clássicos se juntarem à festa, que este ano engloba essas duas vertentes da caravana numa única categoria “Open”. Hoje, como há trinta anos atrás, o Rali Sical é sinónimo de emoções na estrada, pelo que se aguarda novamente uma “bica” ou “cimbalino” servidos em corte espumoso e bem doce…afinal este café sabe mesmo a rali!