Agostinho Pinheiro, Sociólogo.
A ilha Terceira está repleta de consultórios de peritos em “ciências ocultas”. O “boom” começou há vários meses. O que pode justificar este crescimento tão brusco da oferta?
Este fenómeno não é novo, estará eventualmente é com maior visibilidade, atendendo à forma como agora é publicitado, quer através dos jornais, quer através da distribuição de publicidade em zonas estratégicas onde as pessoas circulam no seu dia-a-dia.
Por outro lado, não nos podemos esquecer das responsabilidades que os meios de comunicação social têm na proliferação da superstição e crendice, dando demasiada cobertura a reuniões de bruxos, astrólogos, curandeiros, videntes e muitos outros que se servem da tolerância em que vivemos actualmente para inundar de anúncios as páginas de alguns jornais, ou para intervir em programas televisivos fazendo publicidade enganosa das suas anunciadas capacidades de previsão e cura de todos os males, do corpo e do espírito. Os canais de serviço púbico do estado colaboram também na difusão da “bruxaria”, tendo igualmente o/a seu/sua astrólogo/a de serviço permanente em alguns programas, munindo-se de um computador para tentar dar um ar científico às suas "previsões", contribuindo assim para a “estupidificação” dos cidadãos.
O que leva uma pessoa a entregar-se aos cuidados das “ciências ocultas”?
Certamente as razões serão diversas, desde simples curiosidade à procura de soluções imediatas para problemas do foro emocional, psicológico, físico, etc. Observamos cada vez mais uma necessidade, por parte das pessoas, de obterem resoluções imediatas para os seus problemas quando muitas destas situações exigem algum tempo para se resolverem.
Começa-se a assistir, também nos Açores, a uma crise muito grande de valores aliada a uma falta de cultura científica e, em alguns casos a uma ignorância primária. Habituamo-nos a carregar num botão da TV para ter o mundo inteiro à nossa frente e pensamos que é possível, por meio de um qualquer programa de computador, de um/uma qualquer astrólogo/a fazer previsões sobre a nossa vida, a nossa saúde, a nossa vida amorosa e os nossos negócios.
“Astrólogo”, “especialista”, “curandeiro”, “espiritualista”, “vidente”, “médium”, são algumas das especialidades oferecidas nos consultóriios em causa. Merecem-lhe algum comentário?
No fundo são diferentes designações para um mesmo objectivo que passa por angariar dinheiro fácil. A grande maioria destes “profissionais” sabem que o ser humano sente curiosidade em relação ao seu futuro e por vezes não se importa de investir um pouco do seu tempo e do seu dinheiro na tentativa de colmatar algo que nem ele próprio compreende. Será certamente mais fácil seguir o caminho da ilusão, crendice e aldrabice em detrimento do pensamento, da experiência e da razão.
Esta sincera opinião do meu amigo Agostinho Leão Pinheiro - publicada na última página do "Diário Insular" de hoje - despertou-me para um pequeno texto, que há umas semanas queria aqui escrever. Mas que se foi ficando por um "oculto" esquecimento...
Possivelmente todos os angrenses e passantes na velha urbe património mundial tiveram já oportunidade de ver, na sua principal artéria - a Rua da Sé -, um destes "magos" do destino - no caso o "mestre Fati", julgo assim ser a sua graça... - procedendo à entrega de cartões de visita, onde anuncia as suas capacidades e serviços. Desde a primeira vez que assisti à cena, uma dúvida logo se levantou. Então o homem leva encontrões e quase-reprimendas de quem não quer aceitar a sua pequena missiva? O facto alertou-me para uma clara e visível incompetência do dito astrólogo, pois afinal nem consegue adivinhar quem quer ou não o pequeno papel que distribui. Fez-me logo lembrar aquela anedota do homem que chega ao consultório do vidente, e este logo o questiona: "Então, ao que é que viemos?". "Ai ai, que estamos a começar mal...", respondeu prontamente o senhor.