(não pude estar presente na conferência de Paço Aguado – “O Toureio na Cultura” e na mesa redonda “A União dos Aficionados” pelo que, de tarde, preferi criar um texto, à medida que o “maestro” Luís Francisco Esplá ia falando sobre a “Ética no Toureio”. Também nos toiros, o exercício da escrita criativa ou, no caso, acompanhada, pode dar lide…)
"Falou sentado, a forma mais próxima de estar frente ao público, elemento que está habituado a encarar de baixo para cima. Da arena para os aplausos. Realçou a convivência taurina que se sente na Terceira e optou por dividir as suas palavras em três “suertes”: o artista com o seu material; condicionantes históricas; e a moral na sociedade de hoje…
O toiro. A matéria que não tem a capacidade de entender as tradições em consciência, como devemos nós ter na essência. A vontade consciente do toiro é a de avançar no terreno. É a sua necessidade que impera, assim como o líder da manada também “manda” no campo, frente aos outros.
O decréscimo criado na vitalidade dos toiros deu outro espaço aos artistas, reduzindo as distâncias e concentrando o acometer da fera. O processo da criação inverteu-se, surgindo agora o toiro, o artista, e no final o diálogo técnico, a inspiração. Que surge com poucos, apenas com os melhores. De ambos.
O toureio actual é mais argumentativo que episódico, seguindo as hierarquias que os tempos adaptaram para as sequencias que resultam em sortes. Ao toureiro exige-se, a toda a hora, o sentido heróico, a nobreza nas acções e a veneração ao público. Mas essas regras sustentam, no espírito do sacrifício, todos os movimentos do ritual (ndr-criando a magia da lide…). Assim se valoriza, como com os religiosos ou os militares, a relação próxima do toureiro com a morte. Há a entrega a tempo inteiro.
A contracção corporal do meio-corpo domina o toureiro. É uma contradição fisiológica esta dicotomia criada, com a parte aérea do corpo fluida e, da cintura para baixo, a rigidez da forma, e a fonte da inspiração para o ritmo e a cadência das lides como uma presença constante. Visual, auditiva e plástica. Fruto de uma grande harmonia.
Não há acidentes ou fatalidades para o toureiro. O que acontece, o imprevisto, faz parte da sua vida. A cornada, a colhida, fazem parte da acepção que tem da arte, sendo outra das maravilhas a vivência coerente que tem com esse medo constante. E que é assumido desde sempre.
A ética, em praça, chama-se vergonha toureira. Há apenas o receio presente de falhar a composição, encenada, pensada, e que busca o belo. A beleza e a qualidade são os dois únicos argumentos que sustentam o toureiro. O que não o impede de ter um sentido de vida único e verdadeiro. É esse mistério, ou será nesse mistério, sem discórdia que, para mim, habita toda a magia da arte de tourear. Dos campo até à praça. E as palavras do "mastro" Esplá assim o indicaram… "
Frase/conclusão que tirei desta tarde:
“A lide ideal de um toiro tem de ser semelhante ao sentir o cheiro de uma flor até o gastar… ”
Após um intervalo houve uma mesa redonda, referente a “Toiros e Ecologia”, onde o debate claro sobre as condições de maneio e criação – feita entre ganaderos e com uma moderação activa e brilhante, mesmo bem humorada -, culminou com a comunicação excelente, de informação e graça, do Prof. João Pedro Barreiros (Universidade dos Açores), que traçou, em praça larga, princípios científicos com algumas crenças infundadas e parâmetros que se desviam no uso comum.
A projecção do filme “O Toiro”, do realizador Camilo Azevedo, encheu o Auditório do Ramo Grande de suspiros pela emoção, vincando a leitura, de um não-aficionado, feita a um mundo rico, poderoso e de contrastes. Sentido.
À noite, jantar e animação na beleza e modernidade do “novo” Clube de Golfe da Ilha Terceira. Tempo de trocar impressões e de um viver taurino entre amantes da festa.