![O quadro final da votação de Domingo...]()
Os resultados decorrentes das eleições de domingo foram claros e esclarecedores. Pelo que acho importante interpretar também a vontade dos açorianos quando mais de 50% dos mesmos não se incomodou sequer a sair de casa, sendo que, desses milhares, acredito que muitos se continuem a queixar disto e daquilo na legislatura que se avizinha. Ou seja, e numa leitura muito breve e localizada da questão, cerca de metade das pessoas destas ilhas simplesmente se demitiu da única forma de participação consagrada pela democracia, e isto acreditando que todos os candidatos pela diferentes forças partidárias foram assegurar a cruzinha no boletim que lhes era destinado. Para além do desperdício de papel que a maioria desses boletins contabiliza, tal assegura – a meu ver – que é um desperdício de direitos ter o poder de votar e não o fazer, pelo que as próximas queixas ou resmunguices que ouvir daqui em diante serão logo recebidas com um “mas tu foste votar?...”.
A vitória do PS de Carlos César - ou será a vitória de Carlos César pelo PS?... – foi inequívoca, se bem que perdendo alguns milhares de votos relativamente ao último acto eleitoral, o que não deixará de permitir uma leitura interna que, no seguimento do que vem sendo feito, resultará em iniciar ainda mais cedo a actividade eleitoralista para 2012…aí para uns três anos antes. Mas, e passe a graça de se continuar a falar em participação da sociedade civil ou em açorianos com uma espécie endémica que se diferencia do restante mundo, apenas antevejo que, cada vez mais, o reconhecimento dado aos cidadãos destas ilhas se fará pelo cartão, pela simpatia partidária ou mesmo pela total abnegação de dar viva voz às suas ideias e opiniões. É um igualar das gentes que me assusta verdadeiramente, e não será o facto da quarta parte dos açorianos – sim, que é uma questão de se fazerem as contas… - concordar com tal postura que me faz deixar de pensar pela minha cabeça.
O resultado do PSD foi medíocre, se bem que ao nível do espectro parlamentar as coisas tenham ficado quase na mesma, mas aí a realidade só será comprovada quando se aferir que a anunciada nova pluralidade do hemiciclo se vai resumir a ter lá mais gente e de diferentes facções, apenas isso. O score laranja retumbou na perda de um bastião como São Jorge ou em descidas perigosas no Pico e na Graciosa, sendo preocupante o esvaziamento de poderio em concelhos onde, daqui por um ano e pouco, alguns dos candidatos de agora se poderão apresentar ao eleitorado. Realço, também pela proximidade e pela partilha, a resistência e a entrega do candidato Costa Neves que, acredito, tinha uma análise feita com uns francos meses de avanço.
De destacar foi a performance do CDS (cada vez menos PP…) de Artur Lima, que conseguiu alargar horizontes e fixar-se como uma força a ter em conta para próximos desafios. Mas, e repito a ideia de há umas linhas atrás, a realidade parlamentar vai ser um “furo” de discussões e um “encher” de mais tapetes à governação. Os populares, perdão…centristas, ultrapassaram as expectativas, se bem que deve ter havido quem acreditasse que o líder Portas era candidato pela “tal coisa” da compensação, tão longas foram as suas incursões atlânticas nas últimas semanas.
Palavras ainda para os restantes partidos, com o realce natural a ir para o Bloco de Esquerda e para o gosto que será ver Zuraida Soares falar no parlamento – mesmo se não poderá alentar muito mais que isso… -, contando-se ainda como positivo o regresso dos comunistas à discussão (e tão só…) dos destinos da região, assim como não se poderá deixar de referir a actuação de Paulo Estêvão durante a campanha, se bem que o seu PPM seja um mundo de incoerências, com o ponto positivo a ir somente para o número de votos obtidos na ilha mais pequena do arquipélago.
Para mim, que resido na Terceira e tendo já percebido que a secundarização dos nossos anseios a nível regional é para engolir e esperar por mais, antevejo vida fácil para os locais representantes eleitos pelo partido do poder, se bem que possa mesmo ser a segunda metade da lista a efectivar tal função, afinal as obras de monta anunciadas em 2004 estão na mesma, pelo que haverá tempo de sobra agora para as (re)anunciar, publicitar e elogiar…
PS- No passado sábado senti, pela primeira vez na pele, o incómodo da falta de água na Terceira. Um drama que parece não ter fim à vista. Foi no Porto Martins, concretamente na parte da freguesia que é abastecida por água de Angra, um bem – sublinhe-se – que sei ser de elevada qualidade, mas que vai pecando (apenas) pela escassez. Seja como for é sempre um gosto reviver memórias de infância, nomeadamente a passagem do “aguadeiro” lá por casa para cortar a água ao final da tarde. O pior é que isso se passava lá para o início dos anos 80…e eu, entretanto, também já estou mais velho…