Pelo segundo ano consecutivo o Rali “Sical” foi realizado debaixo de muita chuva, com algum nevoeiro à mistura e as inerentes dificuldades que tais condições criaram. Pelo segundo ano consecutivo o mau tempo começou na sexta-feira ao fim da tarde, abatendo-se sobre a super-especial e, no sábado, seguiu a prova com afinco, molhando tudo e todos até quase ao final do último troço. Pelo segundo ano consecutivo o fim da tarde de sábado denotou melhorias no clima, tendo o dia seguinte sido quase de Verão. Não será melhor disputar o 28º Rali Sical ao Domingo…?
![Um jovem adepto abriga-se sob o seu "Faísca McQueen"...]()
A opção de realizar as verificações técnicas na Praça de Toiros Ilha Terceira foi bem conseguida e permitiu captar imagens inéditas num cenário de grande beleza, onde se conjugam duas das grandes paixões dos terceirenses: os toiros e os ralis. A sugestão ouvida de passagem para os 30 anos do Lilás é um pouco mais ambiciosa: Realizar as partidas e chegadas da prova dentro do redondel do nosso contentamento, fazendo por lá a festa dos vencedores. Isto pelo menos enquanto não se cobre o recinto, aí até daria para a entrega de troféus…com os carros dos melhores lá dentro e tudo!
![Um ângulo diferente das verificações técnicas do rali...]()
Como muitos previam o troço Canadinhas/Guerrilhas acabou por ser a maior dor de cabeça do rali, fruto das péssimas condições de piso de algumas secções da classificativa. Embora possuindo um traçado espantoso e que exige grande condução aos pilotos, e para além de ser disputado numa zona histórica dos ralis locais, parece já teimosia das organizações incluir centenas de metros de terra e pedras em rápidos ralis de asfalto. Sem alinhar na crítica pela crítica, e afirmando que dois troços de dez quilómetros dão maior ênfase a um rali que um único com 21, aqui o escriba propõe os percursos Lagoa do Negro/Escampadouro, ou mesmo Estrada das Doze/Ribeira do Mouro/Canadinhas como opção para decidir o rali naquela zona da ilha, mas com troços de asfalto mesmo. Se é para ter mau piso, que volte a então mítica Serreta, mesmo da forma como está...
Bonita de se ver e sentir foi a iniciativa “Rallychildren” levada a cabo pelo fotógrafo Ricardo Laureano, que permitiu a dezenas de crianças da Irmandade de Nossa Senhora do Livramento o visionamento ao vivo da super-especial “Litoral”, na sexta-feira. Para além das imagens registadas, com os muitos sorrisos estampados no rosto de jovens (e futuros…) adeptos de ralis, fica na memória uma das observações mais caricatas por um dos petizes: “Gostei mesmo foi daqueles carros das pipocas”…numa inocente referência aos ALS dos potentes bólides. Parabéns, RL, daquele dia não se esquecem mais!
![A feliz "canalha" do RL atenta ao decorrer dos acontecimentos...]()
125 é o número total de ralis já disputados por Gustavo Louro, contando o piloto de Angra por 37 as vitórias alcançadas à geral desde 1993, 13 delas no rali do café. Nesse ano, e na estreia em competição a ser feita depois de uma rodagem como carro “zero” nas provas da época anterior, Gustavo alinhou no Rali Sical com o número 19 nas portas de um Renault 5 GT Turbo. Tinha então 19 anos de idade e venceu a prova com 19 segundos de vantagem sobre Luís Pimentel. 15 anos depois a diferença entre os dois primeiros do rali foi menor…mas desfavorável ao piloto de Angra. Mas para o futuro parece querer manter-se a tradição “Louro” nos ralis…
![Gustavo e o filhote João Jácome...lá atrás entrevisto o vencedor do rali.]()
Durante a entrega de troféus da prova, o Terceira Automóvel Clube voltou a distinguir a Comunicação Social e o seu papel em prol dos ralis. Desta feita a homenagem coube ao site www.maisrallye.com, com o prémio a ser recebido pelos irmãos João Bruno e Fernando Raposo, relembrando-se a memória do saudoso Francisco Custódio. A outra menção honrosa foi para o programa de televisão “Máquinas e Lazer”, cujo autor e coordenador, Rui Ferreira, sofreu na véspera do rali um percalço de saúde, do qual parece estar a recuperar bem. Dando voz ao que foi dito na altura, fica o sincero abraço e o desejo de um rápido restabelecimento e regresso às hostes de alguém que muito tem feito pela promoção dos ralis na nossa região. Força, Rui.
Se há 30 anos atrás, no final do Rali Primavera, Jorge Braz surpreendeu o público ao chegar à Caixa de Previdência com o Mini 1275 GT parcialmente “desmontado”, a cara do público de então deve ter sido semelhante à dos espectadores que, no sábado, viram subir ao pódio final o Toyota de Isaías Costa, utilizado neste rali por Jorge Sousa e Adriano Rosa. Uma saída de estrada na última passagem pelas Veredas deixou o carro verde num estado lastimável, tendo chegado à assistência com, pelo menos, uma das rodas “degolada” pelo meio…isso mesmo, é que não havia nem disco de travão nem nada. O carro lá fez por chegar ao centro da cidade onde, com o volante a direito, uma das rodas insistia em permanecer virada para fora! Aquilo é que foi uma aventura, hã?
![Ainda (quase) intacto o Corolla GT de Jorge Sousa/Adriano Rosa...]()
Exactamente dois anos depois, e dois ralis “Sical” subsequentes, o Futebol Clube do Porto sagrou-se tri-campeão nacional de Futebol no dia da prova. O facto foi festejado de forma diferente por três pilotos presentes: Hermano Couto, que sendo infeliz no rali, ao desistir cedo com o Subaru, não escondia a satisfação pelo triunfo azul-e-branco; José Pedro Fontes que, a meio da prova, queria mesmo era falar do jogo contra o Estrela da Amadora – que se realizaria algumas horas depois – durante uma pequena entrevista para a internet; e Fernando Peres, que não deixou a coisa por meia medida, pedindo a palavra após receber o prémio da vitória, para dizer: “Viva a Terceira…e viva o Futebol Clube do Porto, tri-campeão nacional de futebol!”. Claro que nem todos aplaudiram, mas o “speaker” de serviço rapidamente subscreveu a mensagem do (também) tri-campeão…
O carro “zero” do 28º Rali Sical foi um Fiat Punto Turbo-diesel, tripulado pela dupla da “Fiat-Vodafone” José Pedro Fontes/António Costa, habituais animadores do principal campeonato de ralis em Portugal. Já conhecedor do espírito das provas locais e de alguns troços, o vice-campeão nacional apreciou a experiência e lamentou a proximidade de datas de algumas provas, factor impeditivo de podermos apreciar o Punto S2000 nas estradas da ilha Terceira. Sem o carro oficial entre nós, o piloto do Porto não se coibiu de oferecer o seu blusão “Fiat-Vodafone” ao navegador do carro da marca italiana que mais brilhou no Sical, exactamente o Uno Turbo de Marco Sousa e Miguel Bendito…!
![Zé Pedro Fontes a dar um "ar" nacional ao evento do café...]()
Foram três os acidentes a causar atrasos no horário do rali. Na primeira passagem pela Vila Nova o Citroen Saxo de José Arruda/Miguel Gonçalves teve uma forte batida de frente, perdendo o óleo do motor e motivando a interrupção da prova, sendo que os pilotos seguintes ficaram com o tempo de Paulo Andrade, enquanto os VSH e os Clássicos passaram apenas para cumprir o percurso. Mais à frente, na segunda ronda do Quinhão Grande/Império, o piloto do Pico José Paula não evitou uma saída, com o Golf G60 a ficar bastante maltratado, e causando nova paragem, desta feita só para os VSH e Clássicos, que viram a classificativa ficar sem efeito. Na primeira passagem da Fonte Faneca/Veredas o azar bateu à porta da dupla feminina Mariana Godinho/Raquel Pinheiro, que teve uma saída no alto das Veredas, batendo o Renault Clio de lado numa árvore, e tendo ficado numa posição em que a navegadora não conseguiu sair sozinha, sendo então retirada pelas forças de apoio ao rali. Felizmente apenas estragos materiais foram causados por estes, e pelos outros incidentes do fim-de-semana.
-Em termos de acidentes quem também não levou uma boa recordação do “Sical” foi a recuperada dupla Fernando Amaral/Fernando Jorge, uma das que mais vezes participou na prova do café, sendo mesmo o veterano piloto micaelense o recordista de presenças no evento. Depois de um aparatoso despiste durante os reconhecimentos, deixando bem amolgado um carro de aluguer, a veterana equipa teve um azar dos diabos na ligação para o primeiro troço da manhã de sábado, apanhando o Corolla de Gilberto Ferreira parado numa curva e, ao ultrapassá-lo, a acabar a sua prova num choque com um carro que circulava em sentido contrário a alta velocidade. Curiosamente o piloto do carro japonês também não foi feliz, saindo de estrada na segunda especial do dia…
-O “estado maior” da Nestlé portuguesa voltou a marcar presença na Terceira, naquele que é o evento nacional patrocinado há mais tempo pela representação entre nós da conhecida multinacional. Segundo o responsável da marca, Vítor Martins, o objectivo de se realizar um 28º rali Sical não é “sequer, aliciante” para a companhia que possui a “Sical”. Com efeito, a marca do café, que na Terceira há quase três décadas também é rali, “quer mais, bastante mais…”. E no ar ficou a promessa de haver “um 28º, um 29º, um 30º rali Sical, e por aí em diante…”!
![Os responsáveis oela continuidade da saga "Sical"...]()
Nota: Todas esta imagens são da autoria do Ricardo Laureano, que tem sido incansável na colaboração das coberturas motorizadas que faço para o jornal "a UNIÃO", assim como na manutenção do espírito bem disposto de que os nossos ralis e circuitos ainda vão gozando por aí. Para além das iniciativas originais que vai tentando promover, voltou este ano a pegar na máquina e a retratar o desenrolar das provas. Podem contactá-lo através do endereço electrónico rlactividades@sapo.pt e saber como adquirir o DVD com as fotos deste “Sical”. Dúzia e meia entretanto já publicadas…