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Não me considero um tradicionalista mas, tenho de dizê-lo, fiquei triste quando os táxis deixaram a decoração preta e verde. Era uma marca, que poderia não trazer boas memórias a alguns, mas que comparada com aquele creme-meio-branco-sujo de agora sempre permitia uma mancha de cor. Mas falo de táxis, transporte que muito raramente utilizo, por que hoje, numa das duas habituais passagens pela Ladeira de São Francisco (em Angra e onde está uma das "praças" de táxis da cidade...), fui reparando nos retrovisores interiores de cada uma das (muitas) viaturas estacionadas. Fí-lo porque, possivelmente, a visão dos profissionais do sector não me agrada por aí além, pelo que debrucei o olhar nos seus bólides a gasóleo, felizmente quase todos da marca Mercedes (vá lá que nem tudo mudou).
É que houve uma outra coisa que notei, e sobre a qual já escrevo depois de referir que cá até temos um exemplar da fábrica de Estugarda de cor verde esmeralda...com os frisos das portas em prateado (só de olhar dói...!). Mas a tal característica que quero referir é a falta, em bem mais de metade dos carros, de alguma coisa pendurada no referido espelho. Lá se avistam alguns terços e um ou outro "penduricalho", mas nem um galhardetezinho vislumbrei! Ou seja, já depois da heresia de haver táxis Citroen, Seat ou Skoda, e com a perda cultural daquela cor esbatida que quase todos ostentam, vai-se perdendo a decoração interior de fino gosto. Vai daí e os taxistas vão deixar de ter bigode, palito na boca, meia branca e camisa indescritível. É que ainda começam a passar recibo sem pedirmos! Decididamente, a tradição já não é o que era...
Mais do que (sequer) me apeteceria escrever, está tudo dito na crónica de José Manuel Ribeiro/"O Jogo".
Fica a impressão de ter havido arte e engenho por mostrar. Ou a falta de ambos...
"Sou eu aqui sentada no cimo da rocha, cuja silhueta os navios descortinam ao longe quando cortam aquela linha do outro lado do horizonte.
Sou eu aqui, o mundo a meus pés, ao antes, o mar. Fico nele e ele em mim. Sou apenas mais uma sombra que o céu tolera, sem asas de pássaro, sem pio, sem grito, sem esvoaçar. Sou apenas eu aqui sentada, eu e o mar, eu e o mundo, e talvez um navio que me veja ao longe."
Marta Dutra, in Vago- o Olhar
(Faialense, recentemente vencedora da 17ª edição do Prémio Nacional de Poesia de Vila de Fânzeres).
Não seria de todo provável que aqui escrevesse sobre qualquer atleta que tivesse passado anos de águia ao peito. Mas o certo e aconselhável é que os clubes representados sejam uma parte menor do universo genial de alguns desportistas. E, dentro do meio nacional que nos bombardeia diariamente (e falo de Futebol...), João Vieira Pinto ocupa um lugar de destaque no seio dos predestinados. Mas a recente quebra do seu contrato com o Sporting de Braga significou o adeus aos relvados portugueses, estando ainda por definir a continuidade da carreira em solo americano ou mesmo no Médio Oriente.
Campeão mundial de Sub-20 pela primeira vez, quando tinha apenas 17 anos, a carreira iniciada no Bairro do Falcão andou muitas vezes paralela às de Rui Costa e Luís Figo, sendo os três, justamente, considerados os símbolos maiores da chamada geração dourada, que um garimpeiro de nome Carlos Queiroz um dia poliu e expôs ao mundo. Das primeiras jogadas fantásticas no Bessa, passando pela experiência frustrada em Madrid, e culminando com títulos pelos rivais de Lisboa, bem pode dizer-se que a João Vieira Pinto faltou, sobretudo, um grande contrato no estrangeiro, realidade que nunca se verificou por mera ganância dos dirigentes dos emblemas que defendeu, especialmente os do terceiro anel que inviabilizaram durante anos a sua ida, nomedamente, para Inglaterra, campeonato onde as características e o ímpeto do jogador teriam originado certamente tardes de glória.
Logicamente que não vou falar dos 6-3 nem dos passes rasgados para a cabeça do protento Mário Jardel. Assim como não gosto de recordar as picardias com Paulinho Santos ou o soco na barriga a um certo árbitro em dia de Mundial. Mas o certo é, goste-se ou não do estilo e do feitio, o agora ex-médio ofensivo do Sporting de Braga e Boavista deixa saudades fortes aos que gostam simplesmente de futebol e que, por um motivo ou outro, não acham que os "States" ou os petro-dólares árabes sejam o cenário ideal de retirada para um talento que o país de origem nem sempre compreendeu. Pessoalmente sempre me deliciaram os jogadores com "piques" de velocidade e pormenores de sonho, os "motores" da equipa cujo cérebro despontava em fintas e recortes de excepção. Por isso deliro com Quaresma, admiro ao milímetro Cristiano Ronaldo e gostava de um dia fazer um único cruzamento como Nani ou Drulovic. O certo e sabido é que Vale e Azevedo, ainda longe do cativeiro, escorraçou João Pinto da Luz a troco de uma mediática batalha com o éden. O certo é que também o Sporting se incompatibilizou com o génio nascido no Bessa. O sabido, e dito à boca pequena aqui há uns anos na Invicta, é que João Pinto andou pela Rua de Santa Catarina à espera que o telefone tocasse e que do outro lado falasse Pinto da Costa. Infelizmente, ou não, a chamada nunca aconteceu. Ficam as imagens delirantes de um jogador brilhante e a pena de não o ter visto jogar uma última vez pela equipa das quinas...
Já existem há algum tempo, e até confesso que andei semanas "distraído" depois da primeira menção que me fizeram sobre este grupo de humoristas nortenhos. Não vou sequer comentar a já apreciável quantidade (e qualidade...) dos "sketches" à disposição no seu blogue, mas aconselho vivamente uma visita demorada e uma passagem semanal por lá.
É que é mesmo sempre a rir...
COMPANHEIROS (Mia Couto)
quero
escrever-me de homens
quero
calçar-me de terra
quero ser
a estrada marinha
que prossegue depois do último caminho
e quando ficar sem mim
não terei escrito
senão por vós
irmãos de um sonho
por vós
que não sereis derrotados
deixo
a paciência dos rios
a idade dos livros
mas não lego
mapa nem bússola
por que andei sempre
sobre meus pés
e doeu-me
às vezes
viver
hei-de inventar
um verso que vos faça justiça
por ora
basta-me o arco-íris
em que vos sonho
basta-te saber que morreis demasiado
por viverdes de menos
mas que permaneceis sem preço
companheiros