![Uma jovem estudante em plena labuta nas "Construções"...]()
Há cerca de uma dúzia de anos que me lembro de, por esta semana preparatória dos dias de Entrudo, dedicar algumas linhas a uma tradição que me enche a alma. Tão certo como a idade ir passando é podermos lembrar com algum prazer tempos idos, amizades ganhas, sorrisos de ontem e um secreto desejo de atrasar o amanhã. Por isso continuo a dizer que na Tourada dos Estudantes, um pequeno “mundo” por onde já passaram centenas e centenas de jovens desta terra, o princípio de aproveitar o tempo é precioso. Assim como se tornará depois recordá-lo…
Na tarde de mais um Domingo de Entrudo, alguma da população estudantil desta cidade-património vai cruzar a sua principal artéria para criticar, de um modo festivo e mordaz, o que de mal ou menos bem se passa um pouco por toda a parte. Da recente crise do Lusitânia ao “escasso” do vestido da rainha das festas, das obras na recta da Achada ao domínio de Fernando Peres nos nossos ralis, passando por “aquele” concurso dos miúdos de dez anos ou pela lei do tabaco, muitas visões, cabeleiras, pinturas e quadras vão alegrar o velho burgo. Para depois a confusão se instalar na monumental de Angra, com os inevitáveis tropeções e as sempre saudadas colhidas de ocasião. A isso vai juntar-se a parte séria da garraiada com as pegas a cargo dos “juvenis” da Tertúlia e mais uma actuação do delfim da casa Pamplona. Tudo elementos que ajudam a engrandecer o gosto por um acontecimento que se quer, cada vez mais, único. Realce ainda para o “divórcio” anunciado da garraiada com o liceu da cidade, muito à custa da falta de apoio que o estabelecimento teimava em manter face a alguns (poucos) pedidos de ajuda. No ano em que, tudo indica, Angra vai passar a ter dois pólos de estudantes no seu todo secundário, a tourada da juventude não se dividiu…e até se antecipou à propalada inauguração da Escola Tomás de Borba…lá diz a frase de abertura que “o cartaz ainda foi a imprimir antes do liceu novo abrir”. E foi mesmo!
No longo convívio que tenho com as várias movimentações e andanças da Tourada dos Estudantes retive duas posturas opostas na forma de encarar o fenómeno, de duas pessoas que aprendi a estimar, separadas pelo tempo e, infelizmente, também pela vida, mas cujas visões gostava este ano de partilhar. Uma a do saudoso amigo jornalista e poeta Rui Duarte Rodrigues, outrora autor de brilhantes textos para o “venenoso” cartaz da garraiada e que, no seu jeito, aparentemente ausente mas de olhos atentos e observadores, foi dos que melhor me transmitiu uma forma cordata mas influente de fazer parte da festa. Mesmo sem grandes atrevimentos a força das palavras levava aos ventos a vontade de uma mudança e de um grito pela liberdade. Porque a Tourada dos Estudantes foi sempre, também ela, uma comemoração da liberdade, mesmo que dissimulada pelos gracejos. Antagónica a prestação do meu caro compincha José Paim de Bruges, hoje a viver em terras australianas, e que não continha ímpetos nem avanços na hora de defender a tradição e de arcar com o trabalho de a ver na rua. Nem deixou de repetir a façanha quando rumou a Vagos, para lá levando muito do nosso “salero” de carnaval dos bravos. Os dois, em junção de gestos, simbolizam bem a franca forma de guardar no coração um gosto de pouco-mais-que criança…
Assim, e a dois dias de o sol não falhar (já foram dois anos seguidos, certo?) no Domingo Gordo, resta-me desejar felicidades e alegria aos meus amigos (felizmente todos os anos ganho, pelo menos, mais quatro…) João Baldaya, Holger Melo, Nelson Furtado e Rui Ataíde. Sei que eles aprenderam a preceito como se pode gostar da nossa tradição…já velhinha, mas sempre matreira. Viva a Tourada dos Estudantes!