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A chuva apareceu, estranha a todo aquele movimento criado pelo calor. Eram toalhas, guarda-sóis, embalagens de bronzeador, brinquedos de Verão, e muitos corpos em compasso com a areia quente…mas que ia mudando de temperatura. Num ápice o inesperado aguaceiro transformara a praia num local de correria, todos fugindo do que afinal ali tinham ido procurar: Água.
É que a vida tem destas contradições. Fugimos do stress, para desanuviar – diz-se…- em locais cheios de fumo e barulho. Descansamos das pessoas do dia-a-dia entre um número ainda maior delas. Refrescámo-nos, na ânsia de fazer passar o calor, sob um sol abrasador e tentamos emagrecer à pressão todas as calorias ingeridas na dita época baixa. São estas algumas da desditas anuais a puxar mais à atenção neste início do período estival…
Mas, e voltando à nossa chuvinha imprevista de início de texto, o cenário era já de si engraçado, mas essa graça subia de tom à medida que desfilavam os pormenores de uns minutos em que as coisas não estavam a correr conforme o planeado. A família previdente, que tinha saquinhos e embalagens preparadas para qualquer situação, nem pestanejou com a chuva. Rapidamente guardou todos os haveres balneares em recipientes adequados, deitou fora os lixos produzidos entretanto e zarpou para casa onde, possivelmente, todos aqueles apetrechos teriam local próprio numa meticulosamente arrumada garagem ou arrecadação. O solteirão de vistas largas teve um desgosto de morte com aquele aguaceiro atrevido. Para além de ter de tirar os óculos escuros, que lhe escondiam o olhar dirigido de soslaio aos corpos femininos mais torneados, ficou visivelmente aborrecido com a interrupção no ganho de um bronzeado infalível para as quentes noites que se avizinhavam. Mais além, um jovem casal e nova realidade. Ele, impávido e sereno, observou-a enquanto arrumava as coisas no único saco comum onde, visivelmente, nem tudo cabia. Não ajudou em nada, usurpando ainda ambas as toalhas para se abrigar, sendo que a junção de água do céu e areia formara uma grossa papa, que lhe enfeitava a veste de ocasião. Era cómico de ver. Alguns metros adiante novo casal e uma visão mais terna. De meia idade, e visivelmente felizes com a suave intempérie, deixaram-se ficar deitados de costas mas conversando animadamente. Com as mãos retiravam do rosto um do outro o excesso de água que quase impedia a fala, numa carícia original e cúmplice. Pareciam já bem habituados aos aguaceiros de Verão. Subindo no areal, e também na idade, um casal idoso resmungava por ter de deixar a praia perante o perigo de uma constipação fora de horas. Os corpos escurecidos pelo sol deixavam ver que seriam clientela habitual daquelas areias, e a forma cuidada como trajavam modernos fatos de banho indicava jovialidade na certa. Um breve olhar pela pequena baía fazia pensar em chuvada da grossa, o que não se viria a confirmar e, à beira da água ainda calma, uma criança resistia fortemente aos chamamento dos pais, já com tudo pronto para zarpar rumo a casa, assim como o próprio petiz que, já vestido, se voltara a molhar todinho para descontentamento familiar. Uma outra criança, esta mais pequena e talvez mais nova, não escondia estar assustada com todo aquele rompante de abandonos e desistência na até então suave jornada de banhos de mar. Estava sem saber onde pousar o olhar e a chuva já a encharcara até aos pés descalços, pois deixara os chinelos junto do gelado que não acabou de comer. A areia arrefecia e os corações empurravam-se para não apanhar de cima o que as ondas tinham oferecido aos corpos mais ou menos bronzeados: Água.
As subidas de temperatura abruptas ou as chuvas inesperadas têm destes efeitos. Até na escrita, que ora segue direita e escorreita, ora borra…de tanta água ou transpiração.