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PORTO DAS PIPAS

miguel sousa azevedo - terceira - açores

PORTO DAS PIPAS

miguel sousa azevedo - terceira - açores

Nas rotas do São João... (crónica)

22.06.07, MSA

A mistura de cheiros, sabores e cores começa novamente em Angra...

 

Estão quase acesas as luzes e quase quentes os corações. Como sempre, nesta altura acelerada do ano, a nossa cidade de Angra vai fluindo rumo à festa. Como sempre está engalanada e enfeitada. Como sempre anseia pela alegria e, amiúde, o sol tenta furar as nuvens para dar outra cor aos eventos que se aguardam. Os marchantes acabam de decorar as letras e acertam as últimas bainhas e folhos, os figurantes dos cortejos tentam reprimir os nervos de enfrentar a multidão, ensaiam-se os últimos passos da actuação e dão-se os primeiros no regaço deste São João de graças, que gosta de se divertir a preceito. Não é só em Angra que ele assim se porta, mas é por cá que aprendemos a viver a sua festa, e a agradecer ao rendilhado ancestral das nossas ruas o facto de serem um palco por excelência.

São várias as vertentes em que toca a festa e parece impossível passar-se alheio a ela. A verdade é que, por estes dias, as energias parecem juntar-se num fim comum. O dia tem um epílogo destinado, a escolha do que se quer ver e sentir vai maturando pelas horas até ao entardecer. Aí, e como sempre, as luzes que estão quase a acender-se desenham nos espíritos a alma desta gente. A alma que é nossa e que queremos repartir, numa contribuição desinteressada ao bem-estar. É assim que a acredito. É assim que espero continue…

E muito haveria para escrever, dizer e rir quando de festas se trata ou sobre elas se alinham ideias. As escolhas dos temas, as cores das iluminações, os carros dos cortejos, a coreografia das marchas ou os vestidos das nossas jovens belezas. Os petiscos aguardados, as noites mal dormidas e bem regadas, as histórias dos anos passados e a acepção de que, a cada dez dias de festejos, já temos mais um ano em “cima”… Tudo isto, e em abundância, revela o espírito desta semana e “tal” em que num balão de São João sobem as preocupações para bem longe das ruas. Pelo menos até ao final dos festejos, altura em que se começam a pensar nas próximas…do ano que vem e da semana que entra a seguir. É um tal não mais parar!

Os desejos que se expressam para esta altura do ano têm um tanto a ver com os primeiros banhos de mar e com o estalar do sol num tempo ainda morno. Primeiro estranha-se, depois entranha-se. Assim se vence o medo ao frio da água, assim se vai ganhando a tez amendoada que vai até às vindimas, assim se passa de um abraço de saudade a uma confraternização noite dentro, tarde fora, ou durante alguns dias. É com esse espírito que encaro as nossas festas. Foi dentro dessa visão que escrevi algumas linhas há uns meses. E que até chegaram ao programa descritivo das “Sanjoaninas’2007”. Ficam aqui a seguir. E boas festas, Angra.

 

"Fará sentido, meia dúzia de anos após o virar do século, falar ainda de globalização como uma novidade ou um progresso? Não em Angra do Heroísmo, Ilha Terceira, um ponto cruzado de influências e sentidos no meio do Atlântico. Uma cidade, quinhentista na traça e na origem, e rumada aos ventos por diversas aragens de raças e credos. Angra, cidade portuária do mundo, entreposto de rotas e costumes, porta de entrada das cores da evolução, cujo testemunho físico se pode ainda ver nas fachadas e recortes da sua arquitectura.

Cidade sobre a qual as páginas da História eternizam a importância de, num dia e num tempo, ter sido ponto de viragem e passagem para uma fronteira sem fim. Assim, e fazendo uso e abuso do espírito festivo das suas gentes de séculos, se refez o mote para mais dias de celebração. E os de 2007 terão uma Angra das rotas do Mundo. Cidade sem fim e sem fronteiras."

 

Livro.

21.06.07, MSA

na próxima terça-feira, mais um livro do escritor/jornalista terceirense...

 

Mais um do Joel Neto. A obra será apresentada na próxima terça-feira (26), no Restaurante do Montado (Lisboa), por Pedro Santana Lopes. A edição está a cargo da "Esfera dos Livros".

Neste novo livro a teoria de Joel Neto é clara: "se é certo que a maioria grita pelas cores encarnadas nos primeiros anos de vida, com o passar da idade, a evolução para os tons verdes é natural e progressiva. Em Todos Nascemos B... (Mas Depois Alguns Crescem), reúne-se um conjunto de crónicas onde o autor se debruça, com caneta afiada, sobre o futebol. É preciso dizer que Joel Neto não é um cronista desportivo na verdadeira definição do termo. Então, mas afinal, porque escreve sobre futebol? Porque futebol é os protagonistas, os mister, os lances falhados, as substituições mal planeadas, as chuteiras, os estádios semicheios ou semivazios, os clubes e os apitos, as disputas e questiúnculas. Mas, Joel Neto vai para além deste mundo futebolístico, porque este jogo de bola é também e principalmente amor e ódio, drama e comédia. Que merece lágrimas e gargalhadas. Palmas e assobios".

Diga-se em prol da verdade que o autor é um adepto convicto do Sporting.

PS -A palavra B..., integrante do título da obra, teve de ser suprimida por razões editoriais deste blogue. Essa e todas as outras com a mesma "raiz"...                                                       

Ash-Girl from Mars.

20.06.07, MSA

 

Do you remember the time I knew a Girl From Mars?
I don't know if you knew that
Oh we'd stay up late playing cards
Henri Winterman Cigars
Though she never told me her name
I still love you, Girl From Mars

Sitting in our dreamy days by the water's edge
On a cool summer's night
Fireflies and the stars in the sky
Gentle glowing light
From your cigarette
The breeze blowing softly on my face
Reminds me of something else
Something that in my memory has been replaced
Suddenly all comes back
And as I look to the stars

I remember the time I knew a Girl From Mars
I don't know if you knew that
Oh we'd stay up late playing cards
Henri Winterman Cigars
Though she never told me her name
I still love you, Girl From Mars

Surging through the darkness over the moonlight strand
Electricity in the air
Twisting all through the night on the terrace
Now that summer's here
I know that you are almost in love with me
I can see it in your eyes
Strange light shimmering over the sea tonight
And it almost blows my mind
And as I look to the stars

I remember the time I knew a Girl From Mars
I don't know if you knew that
Oh we'd stay up late playing cards
Henri Winterman Cigars
Though she never told me her name
I still love you, Girl From Mars

Today I sleep in the chair by the window
It felt as if you'd returned
I thought that you were standing over me
When I woke there was no-one there
I still love you, Girl From...
MARS!

Do you remember the time I knew a Girl From Mars?
I don't know if you knew that
Oh we'd stay up late playing cards
Henri Winterman Cigars
Though she never told me her name

Do you remember the time I knew a Girl From Mars?
I don't know if you knew that
Oh we'd stay up late playing cards
Henri Winterman Cigars
And I still dream of you
I still love you, Girl From Mars

"Forbidden Curves"...

20.06.07, MSA

Fotografias "proibidas" do meu amigo Jorge...

 

...assim se intitula a exposição de fotografia do Jorge Monjardino, a inaugurar hoje, às 18 horas, na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo, ali ficando patente até 14 de Setembro deste ano.

A mostra do Jorge poderá ser visitada entre as nove e as 17 horas.
Meu amigo de infância, embora mais velho 12 anos, o Jorge Monjardino tem participado ao longo dos anos em várias exposições individuais e colectivas, de entre as quais se destaca a mostra de arte contemporânea dos Açores,
realizada em 1999 na Bermuda National Gallery, sendo também de realçar a sua actividade como produtor fotográfico.
A exposição agora é apresentada resulta de registos fotográficos efectuados no "Guggenheim Museum", em Nova Iorque, inspirados na plasticidade e variedade das suas formas geométricas e na visão que o ambiente envolvente suscitou no artista.
Jorge de Almeida de Bettencourt e Silveira Monjardino nasceu em Angra do Heroísmo (1963), é Engenheiro Zootécnico, pela Universidade dos Açores, e docente do ensino básico. Já correu as Maratonas de Londres, Roterdão e, claro, Nova Iorque!

Eu sou...qualquer coisa.

19.06.07, MSA

Ai sou, sou!...

 

Este site é assim uma espécie de "multi-funções", embora limitado a determinadas áreas, onde podemos encontrar diversas ligações em consonância com a actividade escolhida. Eu vou mais por esta, mas há alternativas mais ou menos interessantes...

Trintão que se preze...

19.06.07, MSA

Este Homer...serve para visualizar tanta coisa...D'oh!

 

Nome: Ricardo Cruz                                                             

Idade: 30 anos

Localidade: entre São Félix da Marinha e a "Inbicta"...

Clube: nem se pergunta...

Afinidades: Carros, ralis e a escrita                                 

Não, a "ficha" acima nada tem a ver com o inefável Homer Simpson. Apenas se insere na referência a mais um blogue de mais um amigo. Com o Ricardo a ligação nasceu da paixão pelos carros e pelos ralis (ele é o "boss" do "Alta Rotação", que aguarda novas cores e feitios), aquando da minha estada nesse Porto de que tenho saudades. Agora, maduro e com os trinta já contadinhos, o jovem Cruz "meteu-se" pela blogosfera dentro. Esperemos não caduque!

Quinta das Mercês entre as 25 melhores...

18.06.07, MSA

não é publicidade, é o reconhecimento de uma obra fantástica...

A Quinta das Mercês foi considerada pelo Jornal Expresso, no “Guia Boa Cama Boa Mesa 2007”, como uma das 25 melhores unidades de turismo a nível nacional, sendo a única dos Açores a configurar entre as melhores.

O guia, já no seu quinto ano de publicação, dá um relato actualizado e isento do que de melhor existe em Portugal em termos de alojamento e restauração.

Trata-se da primeira vez em que uma unidade da região é considerada entre as 25 melhores do país, desta feita a par de outras como o Hotel Quinta do Lago, o Ritz Four Seasons, o Pestana Palace, o Penha Longa Hotel & Golf Resort, o Reid´s Palace ou o Choupana Hills Resort.

É o reconhecimento do trabalho original e cuidado que vem sendo desenvolvido naquela excelente estrutura, onde a qualidade, o conforto e a exclusividade são palavras de ordem num exemplo a seguir nos Açores.

Pela minha modesta parte, Parabéns.

Pais e Filhos (Legião Urbana)-ao vivo.

18.06.07, MSA

 

Pais E Filhos

Legião Urbana

Composição: Dado Villa-Lobos / Renato Russo / Marcelo Bonfá

Estátuas e cofres
E paredes pintadas
Ninguém sabe o que aconteceu
Ela se jogou da janela do quinto andar
Nada é fácil de entender

Dorme agora huhuhuhu
É só o vento lá fora
Quero colo
Vou fugir de casa
Posso dormir aqui
Com vocês?
Estou com medo tive um pesadelo
Só vou voltar depois das três
Meu filho vai ter
Nome de santo
Quero o nome mais bonito

(Refrão)
É preciso amar as pessoas
Como se não houvesse amanhã
Por que se você parar, pra pensar.
Na verdade não há

Me diz por que o céu é azul
Explica a grande fúria do mundo
São meus filhos que tomam conta de mim

Eu moro com a minha mãe
Mas meu pai vem me visitar
Eu moro na rua não tenho ninguém
Eu moro em qualquer lugar
Já morei em tanta casa que nem me lembro mais
Eu moro com os meus pais huhuhuhu

(Refrão)
É preciso amar as pessoas
Como se não houvesse amanhã
Por que se você parar, pra pensar.
Na verdade não há

Sou uma gota d'água
Sou um grão de areia
Você me diz que seus pais não lhe entendem
Mas você não entende seus pais
Você culpa seus pais por tudo
E isso é absurdo
São crianças como você
O que você vai ser
Quando você crescer?

136 x 48cm...

16.06.07, MSA

a apreciação depois da "tarefa" cumprida...

 

Foram 2000 as peças que, desta vez, a minha Anita encarreirou e dividiu por cores e feitios. Estas "empreitadas" não costumam demorar muito, embora desta feita tenha havido uma interrupção (assim para evitar as "derrapagens"...) com novos fôlegos. Afinal tratava-se da construção das Pirâmides...

Eu cá fico abismado. Para mim, puzzles nem dos de "3 aos 5 anos"...mas esta "pequena" encaixa aquilo tudo que é um instante! 

A História das nossas famílias na Terceira...

15.06.07, MSA

"Genealogias da Ilha Terceira", uma obra de décadas...

 

Foram 40 anos de trabalho nos mais importantes arquivos nacionais. Fruto disso Jorge Forjaz e António Mendes apresentam agora uma edição monumental da sua investigação sobre as "Genealogias da Ilha Terceira".
Começando pelos primeiros povoadores e tendo em atenção que o povoamento se foi fazendo num período de tempo alargado, os autores desenvolvem até à actualidade as genealogias de centenas de famílias que, a partir da Terceira se espalharam pelas várias ilhas dos Açores – especialmente São Miguel, Graciosa, Faial, São Jorge, e Flores – pela Madeira, pelo Continente, pela Europa, pelo Brasil e outros países das Américas.
Explorando as mais importantes fontes arquivísticas, a obra distribui-se por 9 volumes que incluem cerca de 400 capítulos, subdivididos em 1.500 sub-capítulos, e mais de 15.000 notas que permitem construir biografias e descrever o trajecto de inúmeras personagens que, ao longo de séculos, fizeram a História da Terceira e, também, de Portugal.
"Genealogias da Ilha Terceira" será, por tudo isto, o maior estudo de genealogia alguma vez publicado em Portugal.

O custo de subscrição da obra será de 300 euros, estando previstas várias modalidades de pagamento, incluindo a repartição em cinco prestações.
Pelas suas características especiais, a tiragem será praticamente limitada aos subscritores, o que a transformará em pouco tempo numa raridade bibliográfica.
Duas cerimónias de lançamento assinalarão a publicação da obra: a primeira nos Açores em Agosto – data em que a obra se encontrará disponível para todos os subscritores – e a segunda em Lisboa, em Outubro, em dias e locais a anunciar brevemente.

Comentário.

14.06.07, MSA

Baía

ALCIDES FREIRE  - Jornal "O JOGO"

Querem saber qual é a primeira consequência do anúncio oficial da fim da carreira do Vítor Baía? Não vale responder incluindo Quaresma na explicação. A resposta de 20 valores é: adivinham-se tempos complicados para os que têm menos jeito para a bola, mas são "ferrinhos" na futebolada semanal. Num género de regresso ao passado, aquele anterior a 1988, é quase certo que os menos dotados voltem a estar condenados e limitados ao papel de guarda-redes, pelo menos enquanto os mais dotados não estiverem realmente cansados de tentar imitar o Quaresma. Sem o Vítor Baía em campo deixa de fazer sentido ir para a baliza e gritar, bola encaixada ao corpo com um mão, enquanto se manda a equipar subir no sintético,"fiz uma defesa à Baía". Deixa de haver um modelo para imitar como aconteceu até ontem. Até porque o melhor é repetir o que o ídolo fez uma semana antes. Baía deixa o banco, mas fica a memória. Ou alguém acredita que depois de fintar metade dos adversários alguém comenta, com ar presunçoso, que fez um golo como o Messi? O mais certo é que lhe gritem "à Maradona, ó convencido", porque Diego era o maior de todos. Daqui em diante, Helton e quem lhe seguir, fará uma defesa como o Baía, da mesma forma que o Baía "fez lembrar o Mly neste voo" e "agarrou a bola como o Américo". Os craques perduram, mas para mal dos menos dotados, também a carreira do craques tem um final.

Maia/Brenha-recordistas em casa...

14.06.07, MSA

A dupla Maia/Brenha, heróis nacionais do Vólei de Praia...

 

Miguel Maia e João Brenha assinalaram com uma derrota a sua 120ª presença no Circuito Mundial de Voleibol de Praia, ao perderem com a dupla japonesa Asahi/Shiratori no Open de Portugal, a decorrer em Espinho, por 2-0 (22-20 e 25-23).

A dupla portuguesa, que atingiu o recorde de presenças no Circuito Mundial, até hoje repartido com os suíços Laciga/Laciga, considerou "um marco histórico" o feito alcançado.
A derrota de Maia e Brenha foi o terceiro desaire luso no Open, depois das duplas José Pedrosa/Pedro Rosa e José Teixeira/Pedro Azenha não terem evitado o mesmo desfecho. O próximo jogo terá de ser de vitória, sob pena de eliminação na prova.

Noite de maresia. (crónica)

14.06.07, MSA

um barco numa noite de maresia...sonhada.

 

E tudo porque a noite impedia ver mais longe. Perceber o porquê de, do lado de lá dos pingos grossos da chuva quase invisível, se guardavam surpresas e se escondiam cores que iriam nascer com o novo dia.

Decidiu agarrar-se, por umas horas, a todos os poemas que conhecia sobre a noite, lembrar-se de todas as canções que incluíssem night ou nuit nas suas letras, recordando os cheiros de todas as noites de mar que passou ao relento ou os pingos grossos de todas as chuvas invisíveis deste e doutros mundos. Era uma táctica já habitual para fazer avançar as horas e combater o medo do escuro. Que lhe toldava as imagens ao espírito e lhe assustava os sentidos num toque e repique irritante e incontrolável. Porque não dar as mãos às ondas que não via na escuridão e rumar ao oceano ali ao pé da porta de casa?

Se bem ou mal o pensou, melhor o escreveria o sonho apressado que um sono de cansaço transmitiu em sessão inaugural. Estava dado o mote para se meter mar adentro. Estavam repostas as esperanças de vislumbrar através dos pingos grossos da chuva invisível. Rapidamente se viu numa espécie de palco desconhecido, dançando com gente estranha um bailado de coreografia esquisita. Chamavam-lhe ondas, assobiavam ventos, baixavam e subiam qual marés sem imediato. Parecia um jogo, mas o tabuleiro era mesmo um palco. O público via-os à distância, utilizando binóculos e consultando a previsão meteorológica mais avançada. A música mal se ouvia e fazia lembrar a sintonia tremida do velho rádio do barbeiro. Seria um mar de recordações ou simplesmente um desafio ao pensamento, para que se apressasse na viagem? A ida estava em curso e só faltava um destino claro.

Temia-se pelo pior. Uma tempestade, uma vela rasgada ou um mastro partido. Eram os riscos de brincar com coisas sérias e fora de pé. Há muito as rochas e os garajaus tinham ficado para trás. Possivelmente sem bilhete para aquela plateia de cais de partida. A embarcação corria desvairada sob salpicos e sobre ventos cruzados, o lanche da viagem resumia-se a um pequeno pão de digestão imediata e o bailado prosseguia rumo ao contorcionismo de posições difíceis e já com o rufo de tambores a querer marcar o ritmo.

Havia uma espécie de mestre naquela espécie de palco. Mais velho, expedito nas explicações, mas falando uma língua estranha e que dava dores de barriga. Tudo sabia a sal e o pequeno pão desaparecera. As tábuas do chão ameaçavam soltar-se e um nó da madeira fazia lembrar uma ilha. Seria um sinal importante para fixar? Anotou o pormenor cruzando os dedos atrás das costas e rezou à indiferença com que o tratavam naquele cenário bizarro. Havia de se esperar pela manhã, se é que ela encaixava em tudo aquilo. Começava a sentir saudades de casa e do quente amparo que lá o aguardava. Como teria começado esta movimentação toda?

Decidiu que, mais do que esperar pela claridade, seria capaz de ultrapassar as carências que iam surgindo. É que, em catadupa, a música parara, não havia mais tambores, a chuva recomeçara a sua luta com os olhos ensonados e o leme rodava sozinho. O leme, adiante-se, enfeitava com destaque a boca de cena daquela espécie de palco. E tinha, bem visíveis nos gastos contornos, as marcas de muitas viagens de partidas ou regressos.

Foi então que despontou no horizonte uma linha clara de luz brilhante. O corpo de um dos bailarinos (seriam isso mesmo?...) desprendeu-se da amurada, mas apenas por brincadeira, pois era visível que todos tinham uma habilidade grande para andar em alto mar. O brilho intensificava-se e o cenário entrava em mutação repentina. Parara de cair água e afinal parecia ter sido uma mangueira presa no alto do suposto palco a enganar a noite bem demais.

A (tal) chuva invisível servia apenas de divisão entre o sonho e a realidade.