A vontade de escrever sobrepõe-se, por vezes, à serenidade de escolher um tema e uma altura com alguma lógica e ponderação. Ora, e nos últimos dias, tal realidade careceu de confirmação, tal foi a catadupa de assuntos polémicos e de factos ditos interessantes sobre os quais debruçar a pena e a atenção. Primeiro tentou-me escrever sobre futebol, juntando as alegrias de mais um título nacional (o vigésimo-segundo…) do “meu” Porto à emoção esperada para esta tarde no Municipal de Angra, onde (como eu…) muito lusitanista vai entrar de nariz “torcido” com a gestão recente. Depois pensei escrever sobre as eleições intercalares de Lisboa, que parecem ter já alcançado doze candidatos a edil, caminhando rapidamente para o slogan “porque à dúzia é mais barato” como hino de campanha. A terceira hipótese passaria pela crítica acérrima ao facto de que a ligação aérea Terceira/Porto (que, como na altura referi, seria um presente envenenado…) não terá tarifas para residentes ou estudantes, ou seja será uma operação…inoperante! E portanto vetada ao insucesso, assim se quer fazer querer…e julgo, cada vez mais, que se quer.
Nenhum destes motes me motivou a imaginação como forma de juntar palavras em frases e, aqui ou ali, uma piadinha de intervenção, até que me lembrei das duas piadas de maior “saída” nos últimos tempos do nosso país. A do Professor Charrua e a do Ministro Lino. Estava escolhida a linha a seguir pelo restante texto…
A primeira piada a que me refiro tem a particularidade de ninguém a conhecer, embora os resultados da sua divulgação (aparentemente em auditório reduzido…) sejam já sobejamente tratados por comentadores e analistas. Em resumo, um funcionário destacado na DREN-Direcção Regional de Educação do Norte, terá feito uma “gracinha” sobre o recente caso da licenciatura (ou não…) do Primeiro-Ministro Sócrates. Os altos quadros da instituição moveram então um processo disciplinar ao agora mediático Professor Charrua, que viu até revogada a requisição feita à escola onde lecciona. Ou seja um caso claro em que o bom humor, e isto caso a dita piada – que não foi dada a conhecer – tenha tido graça, não jogou a favor de quem o utilizou em abono do bom ambiente de trabalho. Não tarda e os funcionários públicos, pelo menos os que forem identificados como faltosos na Greve próxima, arriscam-se a ter um “filtro” de e-mail relativo a tudo o que soe a licenciaturas e afins…e lá se vão as campanhas de valorização educativa via e-learning!
A segunda piada, mais complexa e difícil de transcrever e explicar, foi afinal a declaração que, há uns dias, proferiu o Ministro Lino, salvo erro perante uma audiência de Economistas, sobre a localização do futuro Aeroporto internacional português. Defensor aceso da instalação do Aeroporto na Ota, o Ministro Lino falou da margem sul do Tejo como se de um imenso deserto e zona selvagem se tratasse, tendo sido o epíteto “na margem sul jamais, jamais!...” porventura o ponto alto de um inflamado discurso onde a ausência de tino poderia ser identificada à distância. E isto para sermos meigos na apreciação. Então o dito tutelar das Obras Públicas não sabe que tudo o que diz, ainda mais numa altura em que a contestação à Ota sobe em flecha, é tratado e retratado em tudo que é Comunicação Social? Então afinal tudo não passou de uma piada de mau ou bom gosto, mas que ninguém percebeu? E o arrazoado que a seguir fez sobre doentes de cancro e deficientes também foi para rir? E a alusão de Almeida Santos, vetusto presidente do PS, à menor valia da margem sul por ter pontes “dinamitáveis” também foi uma piada? É que assim já são três para analisar…
Enfim, a única ilação que disto tudo consegui tirar foi a de que uma boa piada na altura certa pode render muito mas, nestes dois casos, a primeira (que nem ouvimos, continuo a referir…), e que presumo terá tido bastante mais graça que a(s) segunda(s), foi desde logo punida, enquanto essa se ficou pelas mais diversas análises, mas desculpas às pessoas, entidades ou vontades ofendidas, nem vê-las! O Ministro Lino parece querer disputar com o Ministro Pinho a liderança do mais “piadeiro” do executivo, enquanto o Primeiro-Ministro não admite piadas de ordem alguma. Ou seja, algo vai mal com o sentido de humor do executivo…