É com grande pena que não estarei nas estradas algarvias até Domingo para assistir ao regresso das máquinas do Mundial de Ralis ao nosso país. Felizmente a cobertura mediática do Vodafone/Rali de Portugal’2007 não vai deixar ninguém indiferente, assim como um dos meios preferenciais de comunicação (a Internet), que norteia a criação destas linhas, poderá atenuar a distância entre o Açores e o Algarve…
À questão do que se poderá esperar, em termos competitivos, deste rali, quase poderia responder de olhos fechados, sem apanhar terra, e focando três nomes para a vitória final e um “apêndice” a esse trio de favoritos: Sebastien Loeb (Citroen), Marcus Gronholm (Ford), Mikko Hirvonen (Ford), e a dúvida relativamente à resistência, que não à velocidade, do Subaru de Petter Solberg. A idealização deste “top” deve ser comum a muita gente mas, e português que se preze assim pensa, bem mais do que a luta pela vitória valerão nestes quatro dias o ambiente festivo, o “circo” do WRC, as cores, o entusiasmo e a beleza das passagens de dezenas de concorrentes, entre os quais se contam os melhores do Mundo. É isso mesmo, e estão de volta a Portugal!
O cenário escolhido recaiu, desde 2005, nas ímpares paisagens da região sul do país, às quais estão agregadas as condições (ditas…) ideais em termos logísticos para o actual modelo do Mundial que, mesmo sem ser o predilecto de muitos dos fãs da “pureza” automobilística, é o que temos. E ainda bem que assim é…o termos a prova em Portugal, não o modelo, entenda-se…
Mas a verdade é que aí está de novo o Rali de Portugal. Bem a jeito de retomar a senda de prémios e distinções, a qual foi, como se sabe, interrompida por razões bem díspares das organizativas e desportivas. E esse “perigo” paira de novo no ar, não estando certa a continuação da prova no calendário do WRC. Por isso, e mesmo para os mais cépticos, ou chamemos-lhe antes adeptos incondicionais de “santuários” como Fafe ou Arganil, é esta a realidade presente e a que devemos defender a bem deste tão “nosso” desporto. Dois anos depois de lançada uma forte e apetrechada candidatura, tendo em vista o regresso ao Mundial de Ralis, o ACP viu recompensado o seu esforço. Não vamos ser nós…ou no caso o público a fazer cai-lo em vão.
É pois uma prova moderna que espera as várias dezenas de concorrentes e os muitos milhares de espectadores, com um traçado compacto, apoiado no (desaproveitado) complexo desportivo de eleição que é o Estádio do Algarve. As três etapas, que incluem dupla passagem na Super – Especial, a realizar na quinta-feira (a abrir a prova) e no domingo (a encerrar a função) são favoravelmente potenciadas pela grande proximidade das provas especiais ao centro operacional do Rali, e esses são factores determinantes para que o ritmo da prova seja elevado e bem aproveitado. E mesmo em termos de impacto sócio-económico os estudos recentes confirmaram a escolha como acertada: ou seja o Rali de Portugal regressa em força e vai deixar marcas por onde passar.
As características principais, em termos de traçado, das anteriores duas edições foram de novo escolhidas, combinando troços rápidos e abertos com pistas técnicas, todos eles disputados em pisos de terra, sólidos e resistentes às intempéries, como ficou mais do que provado no ano passado, quando a prova foi assolada por chuvadas quase ininterruptas, sem que isso tivesse limitado a competição ou mesmo a segurança das equipas.
Espaço então para os artistas da estrada. Pilotos e máquinas de excepção, que regressam a Portugal depois do dilúvio de 2001, país onde um público ávido de emoções fortes os volta a receber de braços abertos…
Aos já citados (três +1…) favoritos poderão talvez, embora numa segunda linha, juntar-se os nomes de Daniel Sordo (Citroen), Manfred Stohl (Citroen), Chris Atkinson (Subaru), Daniel Carlsson (Citroen), Henning Solberg (Ford) ou mesmo Toni Gardemeister (Mitsubishi) e Jan Kopécky (Skoda). Nunca deixando de parte o “efeito” Armindo Araújo (meu caro amigo a quem desejo a melhor sorte…), a encher de orgulho os portugueses com a sua estreia ao volante de um Lancer WRC, ou mesmo a expectativa criada em torno do italiano “Gigi” Galli (Citroen).
Por parte dos melhores do JWRC são logicamente o campeão em título Patrick Sandell (Renault), os Suzuki de Urmo Aava e Per-Gunnar Anderssom, e até os Citroen de Conrad Rautenbach ou Martin Prokop as estrelas que deverão destacar-se. Por banda dos pilotos do Nacional de Ralis, e que vão enfrentar um duro desafio, “premiado” com a maior importância em termos de notoriedade e pontuação deste rali, será tempo de tirar a teima sobre a resistência dos novos S2000 face aos mais convencionais Grupo N. Mesmo assim está visto que Bruno Magalhães (Peugeot) e José Pedro Fontes (Fiat) partem com alguma vantagem face à “armada” Mitsubishi Lancer de Fernando Peres, Ricardo Teodósio, Rui Madeira, Horácio Franco, Bernardo Sousa e “Mex” Santos, e mesmo face aos Subaru Impreza de Vítor Pascoal e Pedro Meireles. Atenção ainda à luta pela vitória entre os pequenos C2, com o mote para a animação a fazer-se através de todos estes confrontos. Mas, e como a nostalgia e os ralis são farinha do mesmo “saco”, e já sem “choramingar” pelo Confurco, convém relembrar que foi por cá que aconteceram histórias como a desclassificação do Lancia de Tony Fall em 1969, a crise de 1974 devido à falta de gasolina, o despiste de Vatanen quase no final do troço de Armamar em 1977, a fantástica noite de Sintra, com uma luta terrífica entre Markku Alen e Hannu Mikkola em 1978. E foi também por cá que, em 1980, Vatanen e Mikkola se despistaram na mesma curva da Cabreira, ficando os dois Escort RS em cima um do outro… os tempos não eram os de agora, mas o carisma do nosso rali levou-o a ser o “Melhor do Mundo”. Noutros sítios e noutra era, oxalá possa voltar a sê-lo…
(*)-Texto publicado no Guia “Info Rali” da edição 2007 do Rali de Portugal.
(disponível aqui ).