Peres sucede...a Peres!
Foto: Rodrigo Bento/D.I.
Com a vitória no Rali Ilha Azul Fernando Peres e José Pedro Silva garantiram o segundo título consecutivo de Campeões de Ralis dos Açores. Foi o culminar de uma época que, embora não começando da melhor forma (não pela derrota sofrida no 25º Rali Sical, mas sim pelo desastroso “SATA”…depois de vitórias em três anos seguidos…), veio provar a maior competitividade do binómio Peres/Mitsubishi, sendo que, a partir do Rali Vinho Madeira, as especificações mecânicas do carro japonês receberam um incremento de qualidade que o tornaram imbatível, dando mesmo a impressão de que Peres nunca terá atacado a 100% nas restantes provas. Isto levando em linha de conta que o Lancer é, de facto, superior ao Impreza utilizado pelo principal adversário de Peres, Gustavo Louro. E o título de vice-campeão assenta como uma luva a Gustavo que, mesmo começando a época com o regresso às vitórias no “Sical”, não teve argumentos técnicos para ir mais avante. E no SATA isso ficou amplamente comprovado. Mas tem de ser dado o destaque justo às suas actuações nas derradeiras provas, onde o empenho e a entrega fizeram dele o único capaz de travar Peres. Foi a época do regresso à garra do piloto de Angra. A fechar o pódio do Campeonato acabou por ficar Ricardo Moura que, no Faial, garantiu essa posição ao superiorizar-se a Luís Pimentel. O piloto do Impreza branco teve problemas na Lagoa e no Ilha Azul, ficando a actuação fogosa do “Lilás” como o marco de uma época a preparar um 2007 em força, mas Moura bem se pode queixar, para além da inferioridade técnica do seu EVO8, da desistência infeliz no SATA, onde assinou uma das melhores exibições de mais uma época em que se confirmou ser um breve vencedor…logo que tenha carro para isso! O azarado do ano foi, sem margem para dúvidas, Horácio Franco. Apenas no Faial, embora já sem fulgor para alinhar em lutas a que não pertencia, o “super-veterano” deu um ar da sua graça em termos de resultados. Embora não em todos os ralis, Franco voltou a mostrar que a sua condição física e emotiva não é condizente com a idade do B.I., pelo que se espera poder vê-lo a lutar pelo título de novo em 2007. Com altos e baixos estiveram Paulo Pereira e Luís Rego, e se o piloto da Lagoa nem teve resultados de relevo, tal a dominância de desistências ao longo do ano, já Rego levou o pódio de Santa Maria e um arranque de “leão” no SATA como melhores recordações, embora o seu estatuto dentro da equipa “Além Mar” (pelo menos a nível de material…) tenha sido suplantado pelos resultados de Moura. Logicamente não vou agora comentar a prestação de todos os intervenientes do campeonato, mas tenho de referir o título de Mário Garcia e Tomás Pires entre os VSH. Embora não dominando a concorrência foi um justo prémio para uma equipa que se entrega de alma e coração aos ralis e que mostrou saber ser regular e consistente. E é obrigatória a menção honrosa para Nuno Cabral, pois foi ele o mais rápido do escalão, tendo-lhe faltado sorte nalgumas provas. Um nome a seguir com muita atenção.
Numa análise resumida e pouco ampla do campeonato deste ano, fica a imagem clara de que houve episódios muito negativos, com o cúmulo a durar toda a época e abarcando a indefinição da publicidade ao tabaco, e todos as contradições que isso motivou. E se alguém disser que não houve publicidade ao tabaco estará a mentir…ou não? É lógico que os argumentos apresentados, para a continuidade desses apoios, são válidos, como é sintomática a falta de vontade política para mudar as coisas, inclusivamente levando à clarificação dos factos…ou então que nos façam acreditar que “Além Mar” é uma discoteca, “Ponto FM” uma boutique, e as listas do Impreza “Açoriano” um código de barras multicolor! Se o Governo açoriano quisesse que o clima e a evolução fossem outros nos ralis até os poderia considerar um desporto… e isso, à excepção de presenças em actos formais e de umas condecorações que são feitas fora do leque dos campeões, não é o que se tem visto! A juntar a esta indefinição houve ainda um rali anulado devido ao mau tempo, um outro adiado por vários meses devido a obras na estrada (!), ainda um outro onde se decidiu excluir inscritos e nomear suplentes para o caso de os que foram aceites não pudessem alinhar! Assistiu-se ainda ao avançar desmedido do asfalto em São Miguel (e se calhar vai o Faial a seguir…), sem ser tido nem havido apenas o maior evento desportivo da região…com a agravante do líder máximo da entidade federativa ter sugerido provas mistas…que o próprio órgão a que preside condenou há que tempos! E, para juntar à crise económica que grassa um pouco por todo o lado, vão-se reduzindo os apoios (ou esmolas…) que deveriam ajudar os concorrentes a não fazerem só as provas da sua ilha de origem. Enfim, um ano de confirmações, indefinições, e desconfortáveis realidades a que parecemos não conseguir chegar…com mãos de ajuda!
Mas, e avançando nos destaques meramente desportivos da época, há ainda que referir uma boa dúzia de nomes, e talvez listá-los para ser mais simples: Carlos Costa por mais uma sucessão de andamentos muito fortes e pela consistência mecânica do Saxo S1600; Pedro Vale pelo domínio absoluto nas andanças do Challenge “AC Sport”; Fernando Amaral por mais um título na sua já longa carreira; Ricardo Carmo e Hermano Couto pelas boas actuações caseiras; Ricardo Pereira pelo rali espantoso em Santa Maria; Marco Veredas e Jorge Rocha pela entrega acima da média; Mário Garcia pelo título a coroar muitos anos de dedicação aos ralis e Nuno Cabral pela confirmação de ser um valor seguro; Paulo Maciel por mais provas de que é um piloto excepcional: Hugo Alcântara pela exibição na Lagoa; João Faria pelos bons tempos com o limitado Starlet; Augusto e Marlene Ferreira pela vitória “em família” no Troféu Clio; Fernando Soares pela desenvoltura do seu andamento; ou até as senhoras (foram quatro as equipas…) que, este ano, resolveram brindar os ralis com participações mais regulares, tendo sido Diana Coelho a que mais pontos alcançou no final…
E, pela outra face da moeda, poderia falar de manobras de bastidores que não queremos sequer conhecer; de atitudes menos próprias por parte de alguns intervenientes dos nossos ralis; das eternas desconfianças sobre a legalidade de algumas viaturas; das verificações técnicas muito pouco ortodoxas da nossa prova maior; do repetido e deliberado “tornear” das regras por parte de alguns…mas isso são assuntos que nem me apetece aflorar, quanto mais desenvolver!
Por isso, parabéns a vencedores e a vencidos, e a quem ainda vai tendo paciência para se dedicar a uma modalidade que dá mais trabalho que alegrias, mais dores de cabeça que sorrisos, e mais aborrecimentos que vantagens reais…mas que é a da nossa eleição e a que melhores imagens e recordações vai deixando ano após ano…
PS- Uma sugestão que acho iria merecer apoios é a mudança de denominação para o nosso campeonato. Bem sei que foram mais de duas décadas de “Regional” de ralis, e que só desde 2004 a competição passou a designar-se “Campeonato de Ralis dos Açores”, o que veio permitir (e para os que ainda não perceberam…), por exemplo, os dois recentes títulos de Fernando Peres e José Pedro Silva. Em 2002 e 2003 os navegadores do Campeão “regional” Gustavo louro (no caso Filipe Fernandes e José Janela) não foram os campeões exactamente por isso…era uma competição reservada a açorianos e a residentes nos Açores. Mas a verdade é que, 3 anos passados, toda a gente continua a chamar-lhe “Regional”…desde os mais leigos aos especialistas mais tarimbados na matéria. E eu já estou farto de insistir sozinho…daí esta minha proposta para que se retroceda no nome, mas deixando vir na mesma os pilotos de fora!...