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PORTO DAS PIPAS

miguel sousa azevedo - terceira - açores

PORTO DAS PIPAS

miguel sousa azevedo - terceira - açores

Para uma 2ª volta de reflexão... (crónica)

18.01.06, MSA
caretaCavaco.JPGDaqui por algumas horas (aí umas 48…que não deixam de ser algumas…) encerra-se a Campanha Eleitoral para a Presidência da República, que vê culminado o processo com o sufrágio do próximo Domingo. Já sobre este assunto me debrucei há uns dias, manifestando na altura qual a minha intenção de voto, que aqui reitero na firme vontade de poder votar duas vezes no candidato Manuel Alegre. Tudo porque, e falhe-me a visão futurista que não a convicção, por estar crente na realização de uma segunda volta para estas Presidenciais, onde Alegre irá defrontar o candidato, dito “de direita”, Cavaco Silva. Isto porque, à luz das sondagens que vão sendo divulgadas, o ex-primeiro ministro tem sempre comandado a lista de preferências dos portugueses. Coisa que me faz uma certa confusão ao espírito e à mente.
Afinal Cavaco nunca foi um homem consensual e a sua postura como líder do Governo, entre 1985 e 1995, foi de desgaste progressivo, até abandonar o cargo numa posição de quase ruptura com o cargo. O que não o impediu de defrontar Jorge Sampaio na corrida à sucessão de Mário Soares em Belém na qual, felizmente digo agora, foi derrotado pelo até então Presidente da Câmara de Lisboa. E digo isto assumindo que, na altura, votei no dito, facto que me deixa ainda mais à vontade para agora nunca o fazer. É que os remorsos, tal como os tempos, revelam sempre ser bons conselheiros. E refiro-me propositadamente ao factor tempo para, de algum modo, vislumbrar esta tendência aglutinadora de intenções de votos naquele que já foi o candidato do bolo-rei. É que Cavaco, meticuloso e rancoroso como aparenta dever ser, esteve a “cozinhar” a sua recandidatura ao mais alto cargo da nação durante uma década. Vai daí que se desligou, a bom tom, da actividade partidária na área laranja. Vai daí que passou a, em espaços comedidos mas sempre com uma forte carga mediática a jogar a seu favor, apenas intervir na vida pública quando sabia que esse facto abonaria a seu favor. E não a favor dos portugueses, como muitos, inocentemente, continuam a pensar. Vai daí que deixou “descalços” todos os líderes que lhe sucederam no PSD, com excepção do primeiro – Fernando Nogueira -, já que esse entrou “queimado” logo para o único confronto eleitoral a que se propôs como cabeça de cartaz. Vai daí assumiu e criou uma crescente categoria, habilmente patrocinada e amplificada pela Comunicação Social, de salvador da pátria e que sabia com rigor o melhor destino a dar ao país em toda e qualquer situação de maior cuidado. Ou seja exactamente o oposto do que, na prática, deixara como recordação aquando da sua estadia em São Bento. E, falte-lhe ou não a vergonha na cara, é com um desplante atrevido que agora se assume com esse e ainda com outro papel. É que, para além de se anunciar como verdadeiro Messias imbuído do mais puro espírito de missão, Cavaco Silva tem agora um segredo de valor elevado: Descobriu que a sua verdadeira vocação não é governar (o que fez quando no rectângulo luso “pingava” um milhão de contos europeu por dia…), mas antes ajudar a que outros – de uma cor politica exactamente contrária à sua – possam levar avante todas as suas vontades e intenções! Isso mesmo. O afável e simpático moreno de Boliqueime está agora numa de embaixador da paz e da coerência e já só falta dizer a José Sócrates que mais valia ter sido de consenso a sua candidatura a Belém, teria 70% dos votos e todos viveriam em alegria e sossego. Meus senhores e caros leitores (se ainda aí estiverem e acredito que sim…). Vão nesta cantiga? Então não é claro que a equipa da candidatura cavaquista endeusou à viva força o professor? Que a máquina da Comunicação afecta ao PSD o tem trazido ao colo para, a partir de Belém, tentar conseguir por vias e travessas o que os portugueses não lhes atribuem nas urnas? Não é claro que a visível posição de desgaste do actual governo, cujo partido ainda cometeu o feito de apoiar um candidato presidencial que de vencedor apenas tem recordações, em tudo beneficia esta auréola virtual que Cavaco transporta na mesma feição da careta de há uns dias? Então não é claro que durante toda esta campanha eleitoral o “professor” se esquivou a tudo que pudesse fazer rebentar as costuras da máscara de contenção a que se cingiu de forma a chegar à meta que traçou já lá vão dez anos? Então não se vê logo porque é que recusou debater com os outros seis candidatos na Antena-1 no último dia de campanha (depois de amanhã)? Não é mais que perceptível que é a partir de uma falta de memória atroz do nosso povo (que, infelizmente, sofre muitas vezes de tal maleita…) que estes resultados apontados pelas sondagens se vão mantendo? Não estaremos, e aqui até me incluo no barco (por mor do meu pecado de há dez anos…), a incorrer num erro grave ao fazer eleger Cavaco como o nosso mais alto representante, sabendo da forma prepotente como já agiu no passado? Não se aclara aos olhos de todos que a presente divisão de candidatos no espectro da esquerda apenas beneficia Cavaco e que o mesmo está a ver se “pega” assim no cargo pretendido, bem esquecidinho e silencioso, logo à primeira rodada de boletins? E, numa última e claríssima interrogação, acham que alguém muda assim de uma década para a outra? Mas acham mesmo? Eu não acho…
Podem sim é mudar os eleitores. Pois é nas mãos desses que está o poder de eleger ou não alguém. Exactamente os mesmos que tanto se queixam de um governo que, ainda há poucos meses, lhes ia resolver todos os problemas. As coisas são assim, ou seja nem sempre como as pintamos na paleta da nossa esperança.
Não vos peço que votem como eu. Embora seja essa a minha vontade. Mas que dêem oportunidade para que haja um confronto directo entre dois candidatos, não se acentuando assim um desequilíbrio que apenas foi causado pela teimosia do líder do partido do Governo em não apoiar um candidato lógico e que logo se disponibilizou para representar a esquerda democrática a que, mas cada vez menos, o Engº Sócrates parece pertencer.
Apenas isso.

Coisas d'óptica...

18.01.06, MSA
Ou muito me engano ou, esta manhã, e logo após reconfirmar como é singelo o obelisco da Memória, me pareceu que ia de carro até São Jorge. A ilha não estava do lado de lá do Mar como é costume, parecendo antes um prolongamento da Terceira ali a partir das Doze ou de Santa Bárbara. Quase senti o cheiro do almoço que vinha das chaminés. O que também pode ser um desejo vivo de inhames com linguiça. Ou uma simples ilusão de óptica e de sentido. Mas que estava quase cá, ai isso estava...

Era de esperar, não era?

16.01.06, MSA
O candidato presidencial Cavaco Silva manifestou-se hoje indisponível para participar no debate com os seus adversários na Rádio Difusão Portuguesa, sexta-feira, invocando questões de agenda.

Em declarações à agência Lusa, o assessor de Cavaco Silva, Fernando Lima, explicou que "o professor já tem a agenda estabelecida. Por isso, não vai alterar a agenda por respeito para com os eleitores", justificou.

A agenda de Cavaco Silva na sexta-feira inicia-se com uma acção de rua na Avenida da Igreja, às 12:00, em Lisboa, depois de terminar, na noite anterior, com um comício em Viseu.

O horário previsto para a realização do debate na RDP é entre as 10:00 e as 12:00.

Os outros cinco candidatos às presidenciais do próximo domingo estão disponíveis para um derradeiro debate conjunto.

A candidatura de Mário Soares juntou-se hoje às de Manuel Alegre, Jerónimo de Sousa e Francisco Louça para a realização de um debate a seis no último dia de campanha, respondendo a um desafio lançado por Garcia Pereira.

"Tratar" da saúde à Saúde... (notícia)

12.01.06, MSA
hospital.jpgUma auditoria geral é a receita passada pela Secretaria Regional dos Assuntos Sociais ao Serviço Regional de Saúde. Finanças, recursos humanos, acessibilidades, listas de espera e prevenção, são algumas das áreas em que se tentarão atribuir responsabilidades e causas para o que não está a funcionar bem.
A prioridade será dada aos Hospitais, seguindo-se-lhes os Centros de Saúde. Todas as unidades de saúde da Região serão passadas a pente fino.
As propostas das empresas interessadas em efectuar a auditoria terão de dar entrada na Secretaria Regional dos Assuntos Sociais até ao próximo dia 15. Experiência internacional em auditorias do género é um dos predicados exigidos pelo Gabinete de Domingos Cunha para a atribuição do estudo.
Com o investimento no sector a ser cada vez mais elevado, facilmente se percebe a urgência de aferir os problemas reais do Serviço de Sáude nos Açores, já que a eficácia parece não corresponder de todo ao investimento.
As piores previsões não excluem a hipótese de alguns dados que servem para analisar a situação estarem viciados de propósito, de forma a encobrir situações cujos contornos são pouco ou mesmo nada claros.
Há o caso de serviços que afirmam não terem necessidade de mais funcionários e que depois revelam escassez de pessoal , o que poderá servir para encobrir rendimentos conseguidos à custa de turnos duplos que põem em perigo a qualidade dos serviços prestados.
O contrário também parece existir, com serviços que têm funcionários em excesso e com situações que encobrem trabalho fictício, que poderá passar pela marcação de consultas falsas, apenas para passar receitas médicas, de forma a preencher quotas de consultas.
Também sobre a ligação entre o sector público e o privado, perecem existir situações duvidosas e já em investigação em várias ilhas.
A anunciada auditoria pode mesmo resultar em processos disciplinares ou processos-crime.
Mas o mais relevante é que parece, desta vez, haver uma firme vontade da tutela em pôr tudo em pratos limpos. O utente agradece. O Jornalista, para já, aplaude.

A "careta" de Cavaco...

12.01.06, MSA
Um brilho de imagem! A coisa resume-se assim: Na Terça-feira Santana Lopes deu uma entrevista em que declaradamente fez um aviso à navegação, dizendo que Cavaco - caso seja eleito Presidente da República -, poderá originar sarilhos institucionais com o Governo. O ex-Primeiro Ministro (e falo de Santana...) não revelou se vai ou não votar em Cavaco (também ex-Primeiro Ministro...), mas não se escusou em relembrar a recusa do Professor em figurar no polémico cartaz de campanha do PSD com outros antigos líderes laranja. Mas o caricato foi que, já ontem, e depois de passada toda a manhã em actividade de campanha, Cavco Silva tivesse dito não ter conhecimento das declarações do seu antigo Secretário de Estado. E as audiências terão atingido um pico quando o Professor "esgaçou" (em todo o sentido do modo...) uma careta horrível para ilustrar o seu desconhecimento das opiniões com que foi confrontado pelos jornalistas. Uma careta de nível mundial e de não fazer desemerecer um qualquer "cabeçudo" de Carnaval ou uma carranca de um qualquer portão gótico. Boa professor, "ganda" caretada!

Hino de Campanha - Manuel Alegre.

11.01.06, MSA

Fernando Guerra fez a música e a letra, Paulo de Carvalho cantou, a Digitalmix fez os arranjos e a produção. Um hino que vai acompanhar toda a campanha de Manuel Alegre e que ficará nos ouvidos dos portugueses.


Download:


http://www.manuelalegre.com/clips/1136648776D2qQT3qw2Ll46SC0.mp3


Letra de


"Livre e Fraterno Portugal"



Voltar a acreditar neste País
Voltarmos a regar nossa raiz
Voltarmos a sorrir
Sem nuvens a tapar
O sol que vai brilhar no nosso olhar.

Voltar a inventar este lugar
Viver de novo a vida sem esperar
Sonhar o velho sonho
Que temos adiado
E ver este País a acordar.

Livre e Fraterno Portugal
Justo e Alegre Portugal
País feito do mar,
País feito do amor,
País do nosso sonho
Portugal


Voltarmos a cantar este País
Que espera para voltar a ser feliz
Que a Praça da Canção
Não seja uma ilusão
E possa ser refrão dentro de nós.


Livre e Fraterno Portugal
Justo e Alegre Portugal
País feito do mar,
País feito do amor,
País do nosso sonho
Portugal


Peça de noticiário.

10.01.06, MSA
Escrevi esta peça para os noticiários de hoje, relativa a uma paresentação que ocorreu esta manhã. Como gostei de a ouvir, e achei que tinha dito o essencial de uma forma agradável, aqui fica com o grafismo exacto de quem a leu do lado de lá do microfone:

"Todos se lembram, desde a mais tenra infância, de ter um boletim de vacinas. Pois agora os tempos são outros e a novidade chama-se Boletim Individual de Sáude Oral. O pequeno caderno foi apresentado esta manhã, em Angra do Heroísmo, pelo Secretário regional dos Assuntos Sociais, Domingos Cunha, tratando-se de uma iniciativa pioneira a nível nacional. Depois da Região ter sido a primeira de Portugal a admitir médicos dentistas no seus Serviços de Saúde, já no ido ano de 1990, é agora a vez de se salientar na introdução de uma medida que vai permitir, através das indicações e objectos preconizados pela Organização Mundial de Saúde, traçar uma evolução da saúde oral ao longo da vida de cada açoriano. Desde o nascimento dos primeiros dentes - em linguagem técnica a erupção dentária -, e passando pelos maus hábitos e particularidades da zona geográfica de habitação, registando todos os passos importantes para que nada falte em intervenções dos profissionais de saúde dentária nas idades mais avançadas.

(Som Domingos Cunha-1)

Refira-se que, nos Açores, 15 dos 19 Centros de Sáude estão já com os postos relativos à medicina dentária preenchidos, faltando apenas dotar dessa especialidade as unidades de saúde de Velas e Calheta, em São Jorge, da Horta e de Santa Cruz das Flores. Um problema que Domingos Cunha prevê se resolva dentro de pouco tempo.

(Som Domingos Cunha-2)

Evitar que as crianças cresçam com patologias relacionadas com a saúde oral foi o principal objectivo da Comissão que coordenou e criou este novo Boletim, que passa a constituir, para lá da inovação, uma ferramenta de trabalho importante e cujos frutos se poderão aferir num prazo temporal bastante curto. Ricardo Cabral, responsável pela referida Comissão – que inclui ainda os médicos Artur Lima e Madalena Mont’alverne – encerrou a apresentação física do Boletim com a firme expectativa de que, no futuro, se possa sorrir de outra forma nas nove ilhas. Afinal, é preciso bons dentes para que tal aconteça…"

Grandes Açorianos!

09.01.06, MSA
dakaracores.JPGProssegue a aventura dos nossos amigos Carlos Martins e Nuno Rosado rumo a Dakar. Ontem foi o dia de descanso, passado em Nouakchott-capital da Mauritânia-, e as boas prestações nas dunas, onde navegaram sempre com muita certeza e confiança, valeu-lhes chegar no Sábado à 85ª posição da geral. Sem dúvida uma prestação de relevo, e que será difícil de manter na restante semana. Mas os objectivos da participação estão a ser amplamente atingidos. Espera-os o Lago Rosa, junto a Dakar!

A foto é a única até agora divulgada da "nossa" equipa em prova. Foi tirada ainda em Portugal pelos nossos colegas (ali das bandas do Marão...) do site

www.puroinstinto.com

Parabéns.

09.01.06, MSA
Que linda manhã de ilha está hoje. Sei que não ligas às idades, até porque és muito mais jovem e até criança do que qualquer número que te esteja ligado, mas mesmo assim...
Começas uma nova década mesmo que não queiras. E, desde a passada, tens a certeza de olhar para o lado e teres uma companhia que te adora aos olhos e molhos.
Parabéns e leva esta manhã interinha ao coração.

Um Poema para o Dia de Reis de 2006.

06.01.06, MSA
TROVA DO VENTO QUE PASSA (Manuel Alegre)

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

10 Anos.

06.01.06, MSA
Avô:
Este ano, pela primeira vez, não chorei de saudades. Sinto-as.

Continuo, orgulhoso, a mostrar a todos o que desenhaste e só me falta o tempo e o labor para escrever a respeito de um forma documentada e verídica.

Foi por volta desta hora que nos disseste adeus. O adeus que foste adiando por vários anos, em que te despediste de forma lenta e custosa.

Hoje, por graças do destino, vou conhecer o poeta Manuel Alegre, coisa que deves ter feito aí há uns 30 ou 40 anos atrás. É também ele actor das várias lutas em que sempre participaste.

Vim há pouco do Porto que sempre amaste e de que aprendi a gostar como meu. Têm um ar de nostalgia estas duas terras em que vivêmos divididos, não é assim?

Tenho saudade, mas não choro. Sei que descansaste.

O Candidato do Sonho. (crónica)

05.01.06, MSA
Manuel Alegre-fotoblog.JPGQuando estamos a pouco mais de duas semanas das Eleições Presidenciais é natural, embora até para alguns candidatos não seja esse um facto consumado, que os portugueses vão pensando e decidindo exactamente porque pretendem votar neste ou naquele candidato. Da minha parte posso dizer que já tinha escolhido o rumo do meu boletim há uns tempos atrás, ainda mesmo antes de se conhecerem alguns candidatos. E tenho a certeza que, pelo menos um deles, nem se importava de só aparecer a uma semana do sufrágio, preferencialmente do meio do nevoeiro, e tentando extorquir todo o sebastianismo reinante na pátria lusa.
Mas vamos por partes e até tentarei simplificar o que acho pode influenciar uma escolha que, pelos vistos, está altamente inflacionada em termos de acção concreta: a escolha do novo Presidente da República. Para melhor situar as minhas opções tive de fazer um pequeno exercício de memória e recordar os três Presidentes de que me lembro. Afinal com 30 anos nem me podem pedir recordações da luta pela Liberdade, nem tão pouco as sensações dos períodos mais quentes que se seguiram à Revolução dos Cravos. Ramalho Eanes era um militar, eleito e reeleito nos resquícios da febre de Abril e depois na senda de uma oposição, e não só, que temia os rumos propostos por Sá Carneiro. Uma realidade que teve o fim que se conhece e da actuação de Ramalho Eanes ao longo de dois mandatos, pouco mais que a estranha pronúncia consigo recordar. Mas esta é a visão de quem só “acordou” para a política, ainda que precocemente, na reeleição do General. Além disso lembro-me de, na altura, lhe ter escrito uma colorida carta de felicitações à qual nunca respondeu. E isso chateou-me. Mário Soares é e foi um lutador. Embora sendo uma personalidade que em mim desperta sentimentos muito díspares não seria justo retirar-lhe os louros alcançados em determinados momentos. Contra ele está a sua postura de semi-retirado, mas também semi-presidente, durante os últimos anos, e o facto de se candidatar numa idade em que, mesmo reconhecendo a boa forma que ostenta, não considero possa contar com todas as faculdades que lhe deram os méritos reconhecidos. A própria “manobra” partidária é para mim já razão para não haver cruzes no ex-Presidente. Sampaio é um caso à parte entre os três. Não foi nem herói de batalhas (embora tenha um percurso estudantil de grande bravura e contestação ao regime), nem cabeça de cartaz do activismo político. Fez um percurso limpinho até à Câmara de Lisboa e daí aproveitou a onda rosa que se movia em pleno, não se livrando de quase perder para Cavaco na primeira vez que se candidatou a Belém. Teve uma postura de vigilância activa e de contenção verbal a que Soares não nos tinha habituado. Mas falhou redondamente ao permitir a ascensão de Santana Lopes a São Bento, para depois lhe cortar as vazas em tempo útil. E isso, a pouco tempo da despedida, vai sempre constituir uma marca forte na sua passagem pela presidência. Em traços largos é isto que penso do que já passou. Para o futuro, e atendendo aos principais intervenientes da Corrida a Belém (e nem vou tocar na polémica da disparidade de meios e de oportunidades entre candidatos…as coisas sempre foram assim), tive sempre bem presente, e a par e passo com a minha crescente aversão às máquinas partidárias, que a minha escolha apenas poderia recair num único candidato. Sob pena de nem votar em caso de uma segunda volta em que ele não marque presença. Primeiro tenho de confessar o “pecado” de ter votado Cavaco em 1996. Coisa que me servirá de lição de vida…pois um erro não se comete duas vezes. Até porque em 2001 estava fora da Terceira e não pude votar em Sampaio. Ou seja foi um erro a dois tempos e do qual nem falo mais. Como nem falo muito do candidato apoiado pelo PSD, fazendo-lhe abertamente a vontade de passar “ao lado” da campanha, cumprindo um papel de anjo esvoaçante e sabendo-se tão bem que apenas aos grandes grupos económicos a sua eleição poderá garantir sucessos e alegrias. Pode ser que o Povo, o tal soberano, que na hora da decisão é perspicaz lhe faça a “graça” de passar ao lado, mas do lugar mais alto do pódio. De Soares já disse o que penso e que vem na sequência também da sua actuação como Presidente até há dez anos atrás. E depois porque me irrita a vassalagem que muita gente cultiva face a estes dois candidatos. Soares e Cavaco, com as qualidades que tenham, não são gente do meu coração. Quanto a Jerónimo de Sousa e Francisco Louça a minha opinião é bastante semelhante. Têm valor, embora se situem em pólos opostos de vivências e orientações. Jerónimo é um fruto claro do meio operário, mas com a rodagem de um político hábil que soube aprender com os melhores da sua facção. Já Louça perde em habilidade o que consolida em princípios técnicos sustentados. Mas de novo se afoga no mar de extremismo que lhe sinto nas palavras. Também não me cai no goto de todo.
E para o fim deixei a minha escolha, sobre a qual tenho –felizmente- a liberdade de falar e escrever, utilizando o que tão bem o próprio tem sabido partilhar com o seu país: o Poder das Palavras. Manuel Alegre é o homem para quem o Poema rimou com a Vida. É o político e patriota com quem nos podemos isolar do mundo em fraterna ligação com as estrofes, pontos e vírgulas que as reticências da existência teimam em fazer-nos compreender. O homem da poesia que sugere espontaneamente aos ouvidos, com disse um dia o brilhante Eduardo Lourenço, é bem mais do que um letrado trovador de emoções e cometimentos cujo refúgio na política pode equivocar algumas almas mais desatentas. Alegre é um dos vultos da nossa literatura, mas é também um dos mais obstinados lutadores pela liberdade. Esteve preso em Luanda e exilado em Argel. Fez rádio, escreveu e deu a cantar, numa incessante busca de um país que amava mas que via traído por uma amante que ditava leis de ferida. Um homem que, pela sua postura e visão, emociona e desassossega, dando-nos às mãos o direito de lhe folhear os sentidos e as agruras. O político que desperta ódios e paixões. O escritor e poeta que açambarca distinções e também inveja ou desprezo. O homem e o patriota que quis recuperar o modo “Pátria” na bonomia dos sorrisos e não só nas febris manifestações de fuga desportiva. Um ser que se orgulha do chão que pisa e dos passos que deu. Que se movimenta para este embate duro e decisivo criando um movimento de cidadania, onde são bem visíveis ausências físicas ligadas ao poder instituído, e das quais não me ocorre a dúvida sobre qual o quadradinho escolhido no próximo dia 22.
E nestes dias em que Manuel Alegre se desloca às Regiões Autónomas podemos também aferir a sua posição face aos problemas e factos da Pérola do Atlântico e das Ilhas de Bruma. Cada quais com as suas particularidades, mas sendo o candidato directo e claro na forma como se deve encarar o processo autonómico. Que é cada vez mais um cordel incessantemente em busca do fim. Alegre referiu já que o Presidente deve ser uma espécie de provedor da Democracia. Uma “farpa” dirigida a Alberto João Jardim, que disse ser uma pessoa que deve ser chamada à atenção nos múltiplos insultos que já proferiu sobre Portugal. O isolamento não deve prosperar sobre o desenvolvimento, embora assim se apoiem as opiniões de muitos, usando como “bengala” o facto de o mar nos separar do continente e não a optimização dos nossos recursos e ideias como predominância para avançarmos.
E muito poderia aqui estender este texto, em clara discordância com a minha forma de interpretar uma coluna de opinião e que deve ser mais ponderada e efectiva do que extensa e declarativa. Tudo porque acho que devemos saber marcar as nossas posições. E da mesma forma que até entendo quem não quer pôr empregos ou posições em risco pelo apoio a este ou àquele candidato, não compreendo o mutismo a que se viraram muitos dos homens de letras e do saber deste país e destas ilhas numa tão importante batalha como a da eleição do mais alto cargo do país. Escrevam, usem e abusem das palavras para fazer passar uma mensagem de fraternidade e de pacificação do lodoso mundo em que a política se move de há uns largos tempos a esta parte. Não deixem fugir a esperança de, mesmo que só nos corações, termos um homem de papéis com cheiro e alma em Belém, ao invés de outros para quem os rótulos e os cálculos irão sempre cantar mais alto. Façamos desta voz uma nova estrofe, mesmo que passageira, no Poema que rima com a Vida. O Mar e Portugal merecem-nos esse esforço. Não nos fiemos nas sondagens nem do diz-que-disse da maledicência só por si. Podemos e devemos fazer mais que isso. E que a sílaba tónica dos nossos próximos cinco anos seja a da proximidade e da música de termos um lutador que o faça pelos seus.
Lado a lado com o meu trabalho, que continuo a desenvolver com a distância e a imparcialidade que ditam os códigos, eu vou votar no candidato do Sonho. E espero poder fazê-lo por duas vezes…

Arco-íris.

05.01.06, MSA
arcoiris.jpgNada como um arco-íris para começar bem o dia. Mas daqueles mesmo a sério que começam do sol das cores e vão dar a um tesouro em parte incerta.

Luto.

03.01.06, MSA
caceres.jpgEstá de luto o Jornalismo português. Faleceu Carlos Cáceres Monteiro.
Paz à sua Alma.

O Primeiro Poema para 2006.

02.01.06, MSA
ORVALHO (José Fanha)

Roubas a luz
ao céu cinzento
e vestes folhas flores e ervas
com vestidos cintilantes
És água e luz
a mais doce e breve e cristalina.
És o meu amigo das manhãs brumosas
e eu peço que me ensines o ofício claro
da tua transparência
para que me torne num fantástico alfaiate
e cubra a minha amada pela manhã
com o secreto nome
de uma flor feliz.