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Toda e qualquer apreciação às eleições do passado Domingo carece de uma reflexão prévia. Neste caso esperei quatro dias, durante os quais não tive a mínima vontade de escrever, o que permitiu ir alinhavando ideias sobre o que se passou, condimentado-as aqui e ali com as diversas reacções que os resultados foram motivando.
Logicamente que o Partido Socialista saiu derrotado da batalha autárquica no todo nacional. Um pouco devido aos já habituais castigos que os portugueses impõem à força que está no poder, assim como que a provar que não sabem mesmo destrinçar o que são diferentes eleições, mas também porque os erros de casting foram por demais evidentes. Na minha opinião os grandes vencedores da noite foram Carmona Rodrigues e Rui Rio. E se ao primeiro já era augurado o triunfo, face à postura altiva e irritante timbre do opositor Carrilho, já Rio travou uma dura batalha mas que veio provar a perspicácia dos portuenses na hora de ir às urnas. E claro que com isto não vou misturar Carrilho com Francisco Assis, já que o candidato socialista à Câmara da Invicta estava, notoriamente, muitos furos acima do marido da esbelta Bárbara. Outro dos embates aguardados era o de Sintra, onde João Soares voltou às derrotas (já lá vão três
que me lembre) e, mais que isso, o estridente Jorge Coelho (que passou a campanha a berrar um pouco por todo o território
num registo e violência que já não se deviam usar) se viu afastado de poder liderar a Assembleia Municipal. No total nacional a destacar ainda a subida de forma da CDU de Jerónimo de Sousa, prestes a provar que a velha esquerda ainda está bem viva e que se aguarde pelas Presidenciais para aferir o peso eleitoral daquela faixa. Ainda com direito a referência a falta de chama do CDS/PP que continua em busca de um rumo
ou mesmo de uma denominação definitiva! Do Bloco de Esquerda continuo sem saber o que dizer
Mas mais do que os vencedores e vencidos, no que aos números diz respeito, acho que se confirmou a completa descredibilização do sector político. E as provas não podiam ser mais concretas com a eleição de candidatos (por margens, algumas, escandalosamente grandes
) que são arguidos em processos judiciais, que já fugiram à justiça, ou que são mormente nomes ligados ao que de mais podre há nos meandros autárquicos. Salvou-se a bela cidade de Amarante, onde o povo foi quem mais ordenou ao mandar por desbarato dar uma volta o senhor Ferreira Torres, que até dois jornais fundara para falar bem dele próprio. Eleitos com larga vantagem foram Fátima Felgueiras (cujo bronzeado não esconde as origens do recente exílio
mas, sempre presente!) e o voraz Valentim Loureiro que, à sua moda, não se escusou a ser novamente o mais selvagem na hora das comemorações. Isaltino Morais também ganhou mas com escassa margem e terá de dividir os dias com vereadores da oposição
enquanto faz contas à vida
lá por fora. Em comum tinham estas figuras o facto de concorrerem como independentes, uma janela aberta por recente legislação que, ao invés de fomentar a criação de movimentos supra-partidários, se destinou a albergar gente com problemas com a lei. Razão tinha, há dois dias, Macário Correia ao dizer que se sentia mal por ter de dividir reuniões com pessoas de índole suspeita
E logo ele, que não será umas das nossas sumidades em apreciações sociais ou tiradas de recorte (lembram-se da campanha em que beijar alguém que fuma é como lamber um cinzeiro
?)
Por fim, mas não para o fim, a apreciação sobre os resultados eleitorais nas ilhas. Na Madeira o mínimo que se pode dizer é que a máquina laranja deve estar de novo oleada para ameaçar e contrair os espíritos. 11 Câmaras, 11 Vitórias para o PSD às ordens do boçal Alberto João.
Nos Açores a coisa fia mais fino. O PSD manteve 11 das 13 Câmaras conqustadas em 2001, perdendo Praia da Vitória e Ribeira Grande para os socialistas, que passam assim a governar em 4 das 5 cidades da região. De registar que a aparente vantagem no total de votos é enganadora, já que o PSD beneficia directamente com a retumbante vitória de Berta Cabral em Ponta Delgada (16345 contra 6119 votos), essa sim a vitória histórica a que Vitor Cruz se deveria referir. E calculo que se vá referir várias vezes à presidente reeleita nos próximos tempos
Por cá, na nossa Terceira, a onda rosa varreu o lilás a preceito. E se, em Angra, a vitória de José Pedro Cardoso seria já esperada por muitos, na Praia a escassa vantagem de Roberto Monteiro sobre Clélio Meneses (3,3%) espelha bem quão disputada foi a eleição.
Tenho a minha visão dos factos e que é a seguinte: Em Angra do Heroísmo, e pese embora a escolha de Costa Neves - como peso-pesado da política nacional a estratégia do PSD não se revelou desde logo como uma aposta de relevo. A campanha laranja, e o dito (vezes a mais
) compromisso Angra Concelho/ Angra Cidade, foi aguerrida no mau sentido. E não chegou à maioria dos votantes, mesmo face à envolvência pessoal que o candidato, e bem, nela delegou. José Pedro Cardoso foi previdente ao não entrar em polémicas, não beliscando assim a obra herdada (mas na qual participou activamente
) da gestão de Sérgio Ávila. Não se pense que o candidato do PS dormiu à sombra dos louros alheios, já que é sabido o grande trabalho que desenvolveu com as juntas de freguesia e que, logicamente, terá resultado numa vitória em que chegou a um maior número de votos (9495 contra 9341) que Sérgio Ávila em 2001, embora com uma percentagem ligeiramente inferior; Na Praia da Vitória a inversão de forças revela um certo cansaço político no Concelho, e onde foram apontadas as freguesias rurais como chave da vitória socialista. Pode não ser bem assim, e assuma-se que o Governo terá agora por certo um papel mais activo no desenvolvimento praiense. Não que não o fizesse antes, mas que o fará de outra forma isso é certo. Os dois candidatos equivaliam-se bastante no tocante à retórica e à defesa dos seus projectos. E, tricas e plágios à parte, o resultado de Domingo é um reflexo claro de uma escolha democrática, onde a sucessão política nunca é um dado adquirido, antes alinhando a Praia da Vitória por um padrão que já se viu em Angra. E o futuro dar-me-á ou não razão.
Últimas linhas para quem não foi votar. E ainda foram muitos. Tratando-se de eleições de cariz local, não aceito que nenhum dos abstencionistas do dia 9 se queixe de uma pedra de calçada ou buraco que seja. Foram chamados a responder e faltaram!...