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Durante o último fim-de-semana passei mais horas no Pavilhão Municipal de Angra do que, muito possivelmente, terei lá estado na meia dúzia de anos anterior. A razão é simples. Os locais onde se praticam desportos e que nos chamam as raízes à razão tornam-se carismáticos, levando-nos a criar laços que por vezes nem nos apercebemos existirem
-, e fazendo-nos necessitar do regresso a esses mesmos locais frequentemente. Senti o mesmo há umas semanas no velhinho Campo de Jogos de Angra, tal como quando há uns dias pisei por segundos o tartan do João Paulo II. Por certo teria a sensação repetida se ainda existissem a pista de Atletismo do campo de São Mateus ou as descidas de terra traiçoeiras da Grota dos Calrinhos (Pedreira). Ou como ainda a poderei partilhar aos sentidos na próxima deslocação ao Estádio do Dragão, à zona do Confurco no troço de Fafe/Lameirinha, ao Circuito da Costilha em Lousada, ao Circuito da Boavista ou ao mais simples percurso de manutenção do Parque da Cidade, no Porto. Tenho esta coisa debaixo da pele
e ajuda-me, pelo menos, a escrever sobre assuntos e sítios.
Mas voltando ao Pavilhão e ao que se viveu ou recordou no Sábado e no Domingo. Foi fácil reconhecer a grande maioria das caras presentes, embora muitas delas me tenha habituado a ver dentro de campo em jogos que a juventude da minha idade viveu intensamente. Quem não se recorda da estreia daquela estrutura, em inícios da década de 90? Com o Porto de Fernando Sá e o Benfica de Mike Plowden a patinar literalmente por cima de tacos a que a humidade conferiu o condão de atirar todos ao chão? Da mesma forma muitos se lembrarão de várias outras actividades que aquele espaço recebeu e que, bem vistas as coisas, bem poderiam ter continuado a passar-se por lá. Mas isso são outras histórias. As de que falo agora prendem-se com outras épocas, tão perto ainda da retina, em que tinhamos o Lusitânia na 3ª ou 2ª Divisão Nacional de basquetebol e um pavilhão repleto de adeptos (é verdade, quem de atrasasse arriscava ver o jogo das cabeçeiras
) a puxar por uma equipa toda da cidade, em que o tom profissional vinha do americano de ocasião, quase sempre artista de afundanços e ressaltos de arrepiar. Claro que toda essa tendência de ovações e emoções vinha das noites de Sábado do Pavilhão do Ciclo onde, aí sim, era impossível atrasar a chegada sob risco de ficar mesmo na rua! E falo sem grande conhecimento de causa dos bastidores de uma modalidade que nunca pratiquei, nem sequer revelei o mínimo jeito para tal, mas que facilmente qualquer adepto desta terra considerava ser o desporto-rei da altura. Actualmente, e com a sinceridade que costumo conferir a estas linhas, tenho dúvidas se ainda haverá desporto-rei por estas bandas
Tudo porque as solicitações são outras, as escolhas alargam-se a cada década, o sentido crítico esfumou-se pela discussão de quanto custa cada modalidade e quais os apoios exigidos por cada equipa para pôr em liça um conjunto de atletas. Quer nos identifiquemos com eles ou não. A profissionalização crescente de vários sectores (festivos, sociais e desportivos
) leva-nos a encarar estes outrora tempos livres como actividades em que as balizas financeiras se tornaram lei. E da bancada de um pavilhão passamos ao arraial de uma festa
e o sentimento é o mesmo.
E, com a lógica que tento imprimir a cada prosa, lá passei de um assunto para outro (espero que sem confundir
), mas não me esqueci do mote da questão. Da alegria que vi nas caras de muitos após a vitória certinha do Boa Viagem/Angra/Açores de Nuno Barroso sobre as nortenhas do Desportivo da Póvoa. Ou logo a seguir das caras menos felizes ante a derrota do estreante Lusitânia-B num jogo que poderia ter ganho. Das expressões de alegria, no dia seguinte, após o passo histórico do Lusitânia/Angra Património Mundial de Manuel Molinero que ultrapassou o todo-poderoso Queluz de Alberto Babo e do gigante Leroy Watkins. Como me lembrei de um Sábado há uns anos, na basquetebolista cidade de Ovar, em que os verdes da Rua da Sé fizeram idêntica graça frente à Ovarense. Então o coach era Alberto Carvalho, e o míudo Samuel Moreira foi o rastilho da explosão dos poucos (mas bons) adeptos presentes. A diferença, se calhar, está mesmo no Tempo. Esse elemento que nos permite recordar outras imagens e vivências, mas impedindo-nos de as reviver por inteiro. Por que já passaram.
Como se calhar já passaram os tempos de amor à camisola que ainda considero a mais leal verdade desportiva. Ou se calhar já não o sinto mas penso que sim
E falta ainda a mensagem política do escrito. Afinal só falar do que já passou está um pouco fora de moda. E essa vai direitinha aos senhores do (re)empossado Executivo Municipal, que em boa hora apoiei e que vencerem retumbantemente no passado dia 9. Há um qualquer piso sintético prometido para o pavilhão de Angra
há já uns tempos. Pode até já estar encomendado, mas convém que a próxima época desportiva começe já com ele. Os que pedem apoios também movimentam as massas. E essas só querem do bom e do melhor