Para além de se iniciar em Lisboa, o próximo Dakar, a prova rainha do todo-o-terreno idealizada por Thierry Sabine, terá uma outra novidade em estreia absoluta: Açorianos à partida!
Tudo vem na sequência de um sonho antigo de Carlos Martins, um conhecido aventureiro micaelense, de há muito ligado às andanças dos jipes e do todo-o-terreno. Para além do Camel Trophy, Carlos Martins passou já a fronteira marítima para participar na Baja 500-Portalegre e também nas 24 Horas de Fronteira, provas de grande carisma no panorama português. Mais tarde viria a alargar as suas rotas para o continente africano tendo por duas vezes integrado as fileiras da Cup 180, conhecida prova que percorre o Norte de África. Em Janeiro de 2004 começou a desenhar-se uma possível ida à prova máxima do todo-o-terreno mundial, hipótese que se gorou devido a não se terem reunido as (muitas) condições necessárias.
Pois ao longo deste ano de 2005 o que era um sonho ganhou contornos de realidade e Carlos Martins far-se-á mesmo à estrada, tendo na bacquet do lado direito de um Land Rover Defender Pick-up 110, o terceirense Nuno Rosado. Sendo ainda bastante jovem, Rosado conta já muita experiência de navegação, que lhe provém dos seus múltiplos triunfos em provas fora de estrada em moto, tanto na sua Terceira natal como noutras ilhas. Para além disso será um elemento fundamental na fase final da preparação mecânica do carro inglês, um modelo com o qual Carlos Martins tem uma longa afinidade o que levou à sua escolha para enfrentar o duro desafio em direcção à capital do Senegal. O carro está a ser reforçado em termos de estrutura na firma Varela e C.ª (Ponta Delgada), ao que se seguirá a montagem de uma caixa desenhada para o efeito sob a égide da Serralharia do Outeiro, também na ilha verde. Posteriormente seguirá então para a Terceira, de modo a que o jovem navegador faça obra nos retoques indispensáveis à conclusão da preparação, cujos contornos gerais são orientados pelo experiente piloto Manecas Pereira, da conhecida firma Azimute, que já participou por três vezes na maratona africana. E será também da Terceira que sairá a assistência da equipa açoriana, com uma segunda viatura a ser tripulada por Leandro Rosado e Victor Hugo Carvalho, os mesmos que daqui por dias estarão a ligar os cabos extremos da Europa com os seus jipes (no caso um Toyota Land Cruiser e um Jeep Cherokee), no Raid Auto-Photo Paris/Cap Nord, uma prova de 14500 quilómetros que atravessará nove países durante cerca de um mês.
A participação de Carlos Martins e Nuno Rosado no Lisboa/Dakar2006 está orçada em muitos milhares de euros e apenas passou da hipótese à prática mediante diversos apoios institucionais e privados. Assim a equipa conta com um patrocinador principal que é a Disrego/Vodafone, à qual se juntam as firmas Marques Lda., Varela e C.ª Lda., Mutualista Açoriana, SATA, VHC e Agriloja. Em termos de apoios oficiais marcam presença o Governo Regional dos Açores e as Câmaras Municipais de Ponta Delgada e de Angra do Heroísmo, as cidades de onde são naturais piloto e navegador da equipa. A todos estes apoios há ainda a juntar a presença de um grande número de colaboradores que aderiu ao projecto.
Ainda no tocante à escolha da viatura, Carlos Martins destacou a resistência e a fiabilidade, bem como um menor custo na preparação, para escolher aquele que foi sempre o seu veículo de eleição para transpor os obstáculos. E, neste projecto, parece que quase todos os obstáculos vão ficando para trás, de modo a que 2006 comece com um grupo de Açorianos na capital portuguesa confiantes em ultrapassar as inúmeras armadilhas desse colosso chamado Dakar. Como breve nota poderá referir-se que foi também num Land Rover, mas num muito idoso 109, que pela primeira vez houve participantes da região em provas fora de portas. Foi em 1988 quando a equipa do T.A.C.-Terceira Automóvel Clube, formada por José Bernardo, Jorge Azevedo e Jorge Gomes, teve brio para terminar o 3º Raid de Portugal, organizado pelo Clube Aventura de José Megre. Os tempos eram outros mas as aspirações são exactamente iguais para os bravos que rumam a Dakar: terminar a prova. E oxalá se repita a história
* Miguel de Sousa Azevedo (no Porto)