Na recente edição do Rali Sical, a 24ª da mais antiga denominação comercial de um rali em Portugal, tive a oportunidade de acompanhar por dentro, e bem de perto, a organização do T.A.C., naquela que foi a prova inaugural do Campeonato de Ralis dos Açores2005 (é esta a denominação oficial, embora muitos - pilotos incluídos lhe continuem a chamar Regional
). O facto ter ficado toda a prova na sede do clube, onde funcionaram o Secretariado e o Gabinete de Imprensa da mesma, permitiu-me recordar tempos passados e avaliar da desenvoltura e profissionalismo da equipa liderada por Paulo Simões e Gerardo Rosa (rali e clube, respectivamente), onde o amor à camisola e o gosto pela modalidade são por demais evidentes e preciosos. Na estrada o Sical foi o que se viu. Uma festa garrida e animada, onde os principais, e não só, concorrentes às vitórias deram o seu melhor, no que foram acompanhados por largas centenas (já se fez algum estudo para saber quantos são os espectadores dos ralis na Terceira?...então que se faça
) de adeptos entusiastas dos ralis, quase todos ordeiros e responsáveis e apenas interessados em ver espectáculo de forma segura. Depois do que se passou no Lilás2004 pena é que apenas alguns, nos quais se incluem antigos responsáveis por áreas sensíveis aos ralis ou pessoas de algum modo já ligadas à competição, façam por manchar observações que classificam normalmente as provas do T.A.C. com distinção em quase tudo. Revejam, pois, a sua postura.
Ao nível da competição propriamente dita nada se passou que eu não esperasse. Embora, uma vez mais, não me cabendo escrever sobre os ralis da minha terra (será que algum dia o farei?...), estava ciente do que seria a luta pela vitória: uma luta de Fernando Peres pelos recordes das classificativas da ilha Lilás; um esforço inglório de Gustavo Louro para tentar encostar o EVO7 ao bólide do portuense; ou verificar que Horácio Franco teria saudades do antigo carro enquanto aguarda nova arma? Tudo isto se confirmou. E até os problemas sentidos pelo campeão em título ajudaram a ampliar a diferença de andamento já aguardada. Com tudo isto a caminhada de Peres foi solitária e eficiente, tendo o actual campeão nacional de Produção (título que não ouvi ser-lhe relacionado no Sábado
) efectuado um rali brilhante e mostrado ser o alvo a abater neste campeonato. Gustavo Louro foi impotente para superar Peres, tal como reconheceu no final, mas as coisas prometem não ficar por aqui pois o actual EVO7 do terceirense se encontra já à venda a nível internacional. Teremos Louro já com nova montada na Ribeira Grande? A segunda prova será marcada pela estreia do EVO8 MR de Horácio Franco, o mesmo acontecendo com Paulo Pereira mas na prova seguinte, o Rali do Faial. O que quer dizer que teremos, nos Açores, um parque de grupo N tão ou mais rico que o que corre o Nacional de Ralis. E isso apenas vem beneficiar uma modalidade que vive os últimos suspiros da política publicitária das tabaqueiras, ainda apostadas em fazer render as suas apostas até que a legislação o permita. Assim seja.
Descendo dos lugares do pódio e o Sical teve animação até final. Embora com os lugares cimeiros mais ou menos alinhavados para Licas, Paulo Pereira (até ao abandono) e Ricardo Moura (mal este último fizesse a mão ao EVO5, como se viu
), a luta do dia foi travada pela vitória na Fórmula3 e opôs o Saxo S1600 de Artur Tavares ao menos potente Cup de Carlos Costa. Foi bonito de ver o que fizeram ambos, sendo que Carlos Costa arrepiou gente nalgumas zonas! Mais uma boa actuação assinou Ricardo Carmo, ficando na frente do faialense Paulo Silva, e a fechar os dez primeiros, depois de quase não ter alinhado, Marco Veredas vai confirmando o talento que se esperava. Depois destes houve algumas actuações a merecer destaque e, embora não querendo favorecer ninguém, achei que, tanto os irmãos Meneses como o micaelense Sandro Andrade, foram daqueles concorrentes a quem uma terceira passagem nos troços iria permitir grandes subidas. Dentro das equipas que melhor conheço fui acompanhando o constante adiar dos treinos de um certo Nissan Micra (a estes ninguém poderá alegar reconhecimentos ilegais
), cujos reabastecimentos gastronómicos foram impedindo mais completas notas de andamento! Em suma foi um rali muito característico daquilo que acontece na Terceira em quase tudo. Há um empenhamento fortíssimo de quem organiza, participa, apoia e assiste. Sendo uma terra de contrastes fortes é-o também na vivência das festas. E um rali é cada vez mais uma delas. Tanto se viram espectadores atentos às reportagens das rádios e às actuações das assistências, como outros que após um reconhecimento prévio das classificativas escolheram o melhor local para fazer um enorme churrasco, sobre o qual um dos membros da organização me disse: -Nunca tal se viu
tamanho estendal montado em dia de rali!
Umas breves linhas para o impacto desta prova, até ao nível da comunicação social. Sobre a televisão nada digo, mas não é uma área em que os ralis sejam particularmente bem tratados. Tanto no Continente como nas ilhas. Pode sim realçar-se a qualidade que já se vê em algumas publicações dedicadas à modalidade, em algumas coberturas vídeo destinadas à comercialização. Destaque também para o cuidado de equipas e patrocinadores na apresentação da sua imagem e para a informação em tempo real, na Internet, que uma vez mais correu da melhor forma e até ao final do rali. Aproveito para realçar o ritmo de trabalho do André Frias e do Nuno Cabral, bem na senda do restante grupo que pôs este Sical nº24 na estrada. Para quem ainda recorda as emoções do rali recomendo visitas atentas às galerias de www.contratempo.com (de onde retirei a imagem que ilustra este texto) e de www.maisrallye.com, o site do Campeonato dos Açores da modalidade. Quanto ao Sical e à Terceira apenas desejo um regresso breve. O primeiro parece ter uma edição de prata já agendada, a segunda estará para breve
no que me diz respeito.