Foi do alto dos meus dez anos que cacei os três primeiros autógrafos da minha pequena colecção. Estava, com a minha Mãe, numa fila de embarque para Lisboa (isto no Verão de 1985
ai tanto tempo que já passou
), quando me apercebi de três famosos que nos acompanhavam. Assim foram as assinaturas datadas dos cantores Marco Paulo e Alexandra, e do humorista Herman José acabados de actuar nas Sanjoaninas85, as últimas realizadas na Praia da Vitória , as três primeiras de um conjunto a que nunca dei grande importância. Mas que fui fazendo crescer desde então.
Do Atletismo Fernando Mamede, Rosa Mota, Carlos Lopes, os Gémeos Castro (guardo também o diploma e a medalha de participação oferecidos por Dionísio Castro, aquando da meia-Maratona Amores do Atletismo de 1992), José Luiz Barbosa e Joaquim Carvalho Cruz, os pilotos de rali Joaquim Santos, Juha Kankkunen ou Markku Alen, Jorge Palma ou Kalu e Zé Pedro dos Xutos, Carlos Queiroz e a maior parte das estrelas recentes do F.C. do Porto são nomes de alguns dos rabiscos que mantenho em bom lugar. Nunca com grande esforço, mas sempre para preservar. É que os famosos têm um ar especial que me encanta e atrai.
Casadinhos de fresco em 2000, e passeando pela noite londrina sem destino certo, eu e a minha Anita (instalados no segundo piso de um tradicional red bus) avistamos, na entrada de um teatro da capital inglesa, a mediática Victoria Beckham a ser fotografada por dezenas de pessoas. Saímos na paragem seguinte e rumamos ao dito teatro para saber que glamour lá se espalhava. Era a festa anual da Elle britânica, com uma entrega de prémios de moda ou coisa que assim fosse e, logicamente, ficamos pela entrada. Misturamo-nos com os fotógrafos e jornalistas e, com a nossa pequena Cânon Ixus lá nos transformamos em repórteres de celebridades. Era impressionante a forma ordenada com que os muitos modelos e estilistas iam saindo das limousines, e se acercavam dos curiosos e dos jornalistas, para os quais pousavam em nítido esforço de brilhar mais do que a concorrência. Foi fútil e até cansativo. Mas uma experiência de encher o olho
Um Aniversário diferente
deveria ser o título desta crónica. Para os mais atentos deixei, na passada semana, em aberto a explicação para a minha ausência no recente Porto-Benfica, que felizmente ainda se saldou por um empate que não comprometeu a ainda-distante-do-melhor equipa de José Couceiro. Pois tudo aconteceu na noite do jogo Porto-Inter, quando recebi um telefonema a dizer que ganhara um prémio dos Sumólicos. Fiquei surpreendido pois nada fizera que levasse a tal distinção. Mas rapidamente deduzi que era obra da minha Anita. De facto, em alturas do Euro2004, ouvi falar num concurso. Apenas não sabia que ela me tinha colocado (no sentido literal da palavra
) como um grande consumidor do refrigerante que promovia o concurso. Nem muito menos que ganhara com isso um jantar com o Deco
no dia dos meus anos! Rapidamente cedemos a nossa presença no Dragão para não faltar ao repasto com o craque. Mas a verdade é que, na Segunda de manhã, o primeiro telefonema era a adiar o jantar. Em suma: Trinta anos no pêlo
e, nem bola, nem jantar para ninguém!
Tudo se recompôs com a nova data do jantar que se realizou na passada Quarta-feira, no Cais de Gaia. Tal como esperava, tal era o mote do concurso em questão, aquilo era só canalha, dois jovens mais crescidotes, eu, a minha Anita, e o staff da marca promotora do evento. A entrada de Deco em cena ficou marcada pelo primeiro aperto de mão a um miúdo de dez anos, que logo se pôs a gritar: -Ele tocou-me! Ele tocou-me!. O jogador do Barcelona (e, infelizmente, ex- F.C. Porto
) é um jovem tímido e simpático e foi isso que demonstrou nas duas ou três horas de convívio com as cerca de trinta pessoas que o aguardavam (entre as quais vários pais de premiados que nem saíram do restaurante
). De conversa serena e trato dócil o craque luso-brasileiro foi aconselhando alguns futuros jogadores das opções a fazer. Contou histórias mais antigas da sua carreira e revelou alguns episódios mais recentes e caricatos. Que tal o roupeiro do Barça que faz cópias perfeitas dos autógrafos de todo o plantel em alturas de maior aperto? Ou o desejo de terminar a carreira no Japão, rendido que ficou aos encantos do sol nascente? Ou a confidência de que, saído daquele jantar, teria de repetir a dose logo de seguida com Maniche que, disse Deco, ficava ofendido sempre que estou cá e não janto com ele
. Deco falou da grande estima que tem pela cidade invicta, revelando ser esse o único senão da sua adaptação à Catalunha. Além do clube e dos amigos e colegas, Deco diz ter deixado no Porto uma ligação muito forte às pessoas e à própria cidade. À qual volta sempre que tem um tempinho livre. Foi enfim o confirmar da boa impressão que o jogador sempre nos causara. E a prova de que a simplicidade marca pontos
tantos quantos os passes certeiros que, nas Antas, no Dragão, e agora no Camp Nou, vão fazendo deste Deco um dos maiores vultos do futebol mundial. Ali, sem equipamento nem público, Deco foi um jovem (mais novo do que eu
) sincero e amável. Palavra que foi assim. Não nos livramos da surpreendente visita do famoso Emplastro, que agraciou Deco e a restante plateia, com as suas frases de sempre e com poses para as fotos
feitas com os dentes na mão! Inesperada foi também a presença de uma equipa da RTP, que fez imagens da festa e entrevistou Deco. E aí confirmei outra coisa. O tique de passar a mão pelo pescoço quando está frente às câmaras é mesmo isso. Um tique nervoso. Que nada tem a ver com a frieza e a criatividade que Deco tem nos pés, e com as quais nos brindou e continuará a brindar nos relvados do Mundo. Obrigado Deco, provaste tudo o que achávamos.